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Posso usar musica para evangelizar?



https://youtu.be/OsTDWAMrKJ4

Você está certíssimo quando diz que qualquer coisa pode se transformar em idolatria, seja ela música, blog etc. Eu mesmo tenho vigiado para evitar que meus vídeos e blogs se transformem em um ídolo. Às vezes alguns olhares reprobatórios de alguns irmãos me ajudam a manter essas coisas domesticadas.

Quando meus filhos eram pequenos e morávamos em São Paulo com um orçamento bem pequenininho, senti saudades de meus tempos de aeromodelista, hobby que pratiquei até mais ou menos os 18 anos. Mas com o orçamento apertado, como justificar para minha esposa a compra de um aeromodelo, motor e tudo mais? Como justificar que iria deixá-la nos finais de semana tomando conta dos filhos pequenos enquanto eu estaria na pista de aeromodelismo do Ibirapuera me divertindo?

Simples! Decidi que o aeromodelismo poderia ser um excelente meio de evangelização se eu pintasse sob a asa do avião um "Cristo Salva". Aí todos que olhassem para cima veriam. É claro que a bronca de minha esposa fez cair a ficha e eu percebi que aquilo nada mais era do que egoísmo de minha parte. Eu estava pensando em mim, não no evangelho, e estava usando a ideia de evangelizar como pretexto para voltar ao hobby.

A música e qualquer outra coisa pode ter o mesmo efeito sobre nós se nos deixarmos levar por ela ou tentarmos "santificar" nossa própria vontade, ou seja, tentar pintar de evangelismo algo que é, na verdade, nosso próprio desejo.

Não quero dizer com isso que Deus não possa usar alguma habilidade nossa ou coisa que gostamos de fazer para a sua glória. Claro que pode. No Antigo Testamento nós vemos Deus escolhendo os artistas que deveriam cuidar da decoração do tabernáculo (Ex 38:22-23). Vemos Davi escolhendo homens hábeis em conhecer os tempos e as estações para estarem ao seu lado no governo do Reino (1 Cr 12:32). E vemos todos os dias Deus usando a voz de uns para pregar, os pés de outros para levá-los até onde há necessitados da Palavra e a escrita de muitos para preservar o que Deus lhes ensina pelo Espírito.

Mas não devemos nos enganar, porque nosso coração é terrivelmente mesquinho e egoísta, e é dele que procedem todos os males que o Senhor descreveu, inclusive a vontade própria pintada com cores de santidade.

Eu já escrevi sobre a música nestes links:

http://www.respondi.com.br/2009/07/qual-musica-certa-para-o-louvor.html
http://www.respondi.com.br/2010/04/o-cristao-pode-louvar-com-instrumentos.html
http://www.respondi.com.br/2009/03/que-hinos-voce-e-os-irmaos-cantam-nas.html
http://www.respondi.com.br/2005/05/devemos-usar-instrumentos-musicais-na.html
http://www.respondi.com.br/2005/06/o-que-acha-da-msica-gospel.html

Quanto ao que você mencionou do carro de boi, isto é, levar o testemunho de Deus de uma maneira que o mundo costuma fazer, é preciso um pouco cuidado na hora de aplicar este princípio a todas as situações. Na passagem em 2 Samuel 6 os israelitas decidiram trazer de volta a Arca da Aliança, resgatada das mãos dos filisteus, transportando-a à maneira dos filisteus.

Evidentemente aquilo estava completamente errado, pois havia instruções bem específicas de como transportar a Arca, e isso era para ser feito por meio de varais colocados nos ombros dos levitas. Na passagem eles a transportam em um carro de bois, contrariando a vontade de Deus. Por estar sendo carregada de maneira imprópria, a Arca pendeu e Uzá tentou ampará-la com as mãos, sendo morto no ato.

Digo que é preciso cuidado na hora de tentar aplicar a passagem a tudo, pois se o fizermos acabaremos concluindo que levar o evangelho, ou seja, o testemunho de Cristo neste mundo, está limitado à pregação oral ou manuscrita. Não poderíamos usar impressos, já que são um meio inventado muitos séculos depois e amplamente utilizado no mundo, inclusive para pornografia. Não poderíamos usar calendários com fotos coloridas, pois é um meio também muito utilizado em propaganda. Não poderíamos usar rádio, TV, Internet, telefone etc. porque tudo isso é a maneira que o mundo utiliza para comunicar suas ideias.

Creio que a lição da passagem pode ser aprendida e aplicada a muitas situações, mas é preciso sabedoria. Digo isto porque ali eles estavam usando uma maneira totalmente contrária às instruções precisas de Deus sobre o assunto. E se tivessem seguindo tim-tim por tim-tim as instruções de Deus poderiam errar em alguma outra parte. Por que? Veja o exemplo a serpente de bronze. O próprio Deus ordenou que os israelitas a fizessem em Números 21, portanto ninguém poderia supor que existisse alguma coisa de errado em considerar aquele objeto santificado, isto é, separado para Deus. Porém os israelitas acabaram transformando aquilo em objeto de culto e ela precisou ser destruída em 2 Reis 18:4 porque levou o povo à idolatria.

Creio que se Deus tivesse permitido que a Arca estivesse por aí ela acabaria se transformando em um ídolo. Na Etiópia existe um templo onde seus sacerdotes dizem estar a Arca (embora nunca mostrem). Regularmente eles fazem uma procissão com uma réplica que é adorada pelo povo e aquilo, em termos de idolatria, nada fica devendo às procissões de Nossa Senhora Aparecida. Portanto o mal não está na coisa em si, mas naquilo que fazemos com ela. O ídolo, em si mesmo, nada é.

Quanto à música, existem muitos músicos profissionais que são cristãos, como também existem muitos operários e comerciantes cristãos. Cada um deverá exercer sua profissão na medida da sua consciência. Se o profissional perceber que seu olho ou mão o faz desviar, deve arrancá-lo, como no exemplo que o Senhor deu nos evangelhos.

Às vezes é possível adequar a profissão de modo a não desagradar o Senhor ou mesmo evitar um mau testemunho. Por exemplo, existe um campo amplo para músicos em propaganda (praticamente todo comercial de rádio ou TV tem música). Filmes, desenhos animados, cursos multimídia e até telejornais têm música de fundo. Há também ambientes com música ao vivo, como restaurantes e hotéis onde geralmente são tocadas músicas românticas (não há nada de errado com uma música romântica ou com o romantismo entre um homem e uma mulher, que é o tema de Cantares).

Cabe ao músico profissional cristão orar e pedir a direção do Senhor até onde deve ir em sua profissão. Isso vale para todas as profissões, pois as mesmas indagações terão um cristão que trabalha numa fábrica de cigarros ou armas, um comerciante que venda produtos prejudiciais ou que o faça de forma ilegal (às vezes chamamos de "comércio informal"), e um advogado na hora de defender um cliente ou promotor na hora de acusar um réu. Eu mesmo tenho que lidar com esses problemas de consciência, por isso hoje não atendo determinados segmentos (tabaco, armas, partidos políticos e organizações religiosas, incluindo suas rádios, TVs e editoras).

Sua dúvida é mais abrangente, pois inclui a ideia de evangelizar usando a música. Ore e, se perceber que é da vontade do Senhor, siga em frente. Mas fique atento para ver se esse desejo não é apenas pintar um "Cristo Salva" sob a asa do avião, como era no meu caso. Não queira santificar sua vontade própria, porque aí a coisa não vai funcionar.

Há muitos cristãos que visitam escolas, orfanatos, asilos e prisões e levam sua música como meio de atrair o interesse das pessoas para o evangelho que costumam pregar nessas ocasiões. Neste caso a música funciona mais como a foto colorida do calendário que tem versículos, ou como a abertura da conversa que o Senhor teve com a mulher na beira do poço, quando pediu a ela um copo de água, assunto que a interessava no momento (Jo 4), ou como o altar ao "Deus desconhecido" que Paulo usou para puxar conversa e pregar o evangelho aos gregos (At 17:23).

Nos dois casos foram utilizados elementos comuns ao dia-a-dia das pessoas apenas para chamar sua atenção para a mensagem que vinha depois. Isso, em comunicação e publicidade, é chamado de A.I.D.A - Atenção, Interesse, Desejo, Ação. Chamamos a atenção da pessoa, que pode ser com uma música, uma foto bonita, um tema do interesse dela etc. Depois despertamos seu interesse e desejo por nossa mensagem até levá-la a uma ação. Percebe que acabei de utilizar uma técnica utilizada na publicidade para explicar uma apresentação do evangelho?

Embora alguém possa chamar isso que acabo de fazer de "carro de boi", não há como fugir do fato de que a comunicação humana se dá nestes estágios. A diferença é que, nas coisas de Deus, nós somos meros instrumentos. O verdadeiro "músico" que persuade deve ser o Espírito Santo a convencer as pessoas do pecado e do juízo e as levam a crer no Salvador.

Portanto, minha sugestão é que busque saber a vontade do Senhor para sua vida e profissão, e ele certamente lhe dará a direção a seguir dentro de algo que não seja meramente pintar um "Cristo Salva" em seu avião. Mas acabo de me lembrar de um corredor de automóveis que pintava um "Cristo Salva" em seu carro e isso tinha um grande efeito nos outros corredores e no público que assistia às corridas. Não posso julgá-lo, pois não sei o exercício que ele tinha com seu Senhor. Mas meu coração está perto o suficiente de mim para eu saber quando estou querendo enganar a Deus.

Aproveite conversar com outros irmãos sobre a questão da música. Conheço um que às vezes toca com amigos músicos ou, profissionalmente em restaurantes. Talvez ele possa ajudá-lo a entender melhor como é que lida com isso. Mas sempre que você encontrar um irmão fazendo algo de alguma forma, entenda que aquilo é um exercício que ele tem com Deus e não uma regra de ação que possa servir para você também. Neste sentido me ocorrem duas passagens:

Joã 21:21-22 Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será?Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.

Rom 14:22-23 Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.

O problema é maior quando o músico profissional cristão decide usar música para evangelização de forma profissional, porque daí estará mais sujeito a cair no erro. Tudo o que fazemos profissionalmente é ditado pelo mercado, por suas necessidades, desejos e expectativas. Alguém que pregue o evangelho profissionalmente está sujeito a pregar somente aquilo que as pessoas gostariam de ouvir. Quem publica livros e Bíblias profissionalmente precisará vigiar, ou acabará publicando má doutrina e Bíblias de versões ruins porque será o desejo do mercado. E quem vende sua música no mercado gospel acabará vendendo aquilo que o povo quer comprar, o que nem sempre é aquilo que Deus deseja. Resumindo, quando o dinheiro toma as rédeas da obra de Deus a coisa sempre tem um final trágico.

Além disso, o músico cristão que atua profissionalmente é obrigado a "engolir sapos" quando é contratado para tocar em lugares onde jamais frequentaria de vontade própria, como "igrejas" de pregadores que fizeram da fé um mercado lucrativo ou que professam má doutrina.

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Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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Esclarecimentos: O conteúdo deste blog traz respostas a perguntas de correspondentes, portanto as afirmações feitas aqui podem não se aplicar a outras pessoas e situações. Algumas respostas foram construídas a partir da reunião das dúvidas de mais de um correspondente. O objetivo é apenas mostrar o que a Bíblia diz a respeito das questões levantadas, e não sugerir qualquer ingerência de cristãos na política e na sociedade, no sentido de exigir que as pessoas sigam os preceitos bíblicos. O autor é favorável à livre expressão e, ainda que seu entendimento da Bíblia possa conflitar com a opinião de alguns, defende o respeito às pessoas de diferentes crenças e estilos de vida. Aqui são discutidas ideias e julgadas doutrinas, não pessoas. A opção "Comentários" foi desligada, não por causa das opiniões contrárias, mas de opiniões que pareciam favoráveis mas que tinham o objetivo ofender pessoas ou fazer propaganda de alguma igreja ou religião, induzindo os leitores ao erro.

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