A questão é que a quase totalidade das Bíblias em português que você encontrará na Web ou para ler no celular, Palm, Pocket PC, iPhone, iPad, Kindle e outros leitores digitais está na ilegalidade por causa dos critérios adotados pelos tradutores e publicadores de Bíblias em português.
Quem gosta de ler, estudar e comparar diferentes versões da Bíblia, seja acessando sites da Bíblia, seja usando o próprio computador, leitores digitais ou programas como e-Sword, fica sem uma alternativa legal. Desenvolvedores de língua portuguesa que desejam criar aplicativos para ler a Bíblia nos muitos formatos e dispositivos digitais que surgem a cada dia ficam de mãos amarradas.
Isto porque a SBB (Sociedade Bíblica do Brasil), que detém os direitos da maioria das traduções em português, também coloca restrições ao seu uso em formato digital. Um expediente comum para manter as traduções reservadas quando se aproxima o prazo em que entrariam para o domínio público é lançar revisões das mesmas e reservar os direitos.
Têm surgido algumas tímidas iniciativas individuais para traduzir a Bíblia para o Português ou ao menos adaptar antigas traduções de domínio público (do século 19) visando ter uma Bíblia em português realmente livre para qualquer um ler do jeito que quiser. Uma delas é a Bíblia Livre em http://sites.google.com/site/biblialivre/perguntas-e-respostas/direitos-autorais-sao-importantes
Recebi um exemplar da revista da SBB, cujo lema é "A Bíblia ao alcance de todos" e, ao ler o editorial, quase fiquei animado pensando que as coisas estariam mudando (http://www.sbb.org.br/repositorio/revistas/abnb_230.pdf). Infelizmente não estão e decidi escrever para lá lamentando que a própria matéria que publicaram não cumpria as promessas do editorial. Segue o que escrevi:
"É louvável o trabalho da SBB na produção e distribuição de Bíblias. Porém, ao ler o editorial da última edição da revista, me animei pensando que iria encontrar na matéria o que se prometia ali: "Hoje, o desafio de levar a Bíblia para o jovem é diferente do que em outros tempos. O jovem usa celular e computador". No entanto a matéria fala de iniciativas antigas de organizações e igrejas, apenas com nova roupagem. A matéria se perde na compreensão do que são as redes sociais e de como é o comportamento do jovem.
Redes sociais são redes de pessoas, não de instituições. E é nessas redes e nas iniciativas individuais que está a verdadeira revolução do acesso à Palavra de Deus. Em sua lentidão em atender a demanda digital (por medo do uso indevido de suas traduções com direitos reservados) a SBB não é a opção dos jovens, que leem a Bíblia no computador, celular, iPad etc. (uma tímida nota na mesma revista revela o lançamento de uma edição para e-book).
O editorial diz ainda que "A maneira como os jovens usam estes instrumentos para se comunicar não é entendida pela maioria dos adultos". Infelizmente é o caso dos adultos da SBB. Hoje a Bíblia digital mais lida pelos jovens na Internet ocupa a 928a. posição entre os sites brasileiros em número de acessos (38.134a. no mundo) e é uma iniciativa individual de um único jovem que ama a Palavra de Deus e mantém seu site nas horas vagas com recursos próprios (o site da SBB ocupa a 27.062a. posição no Brasil e 819.199a. no mundo).
Talvez fosse interessante rever sua política de direitos autorais para não incorrerem no alerta de seu próprio texto: "A própria Bíblia nos ensina que, se falharmos em transmitir a fé a uma geração, ela desaparecerá da face da terra. Crianças e jovens são públicos para os quais Deus deu toda a atenção. Jesus Cristo foi procurado por jovens e tem uma mensagem para eles."
Como seu próprio texto diz, "O jovem usa celular e computador". Que tal avançar para o século 21 e disponibilizar todas as versões na Internet e permitir que os jovens as coloquem por meio de gadgets em seus próprios sites e blogs?
Sim, eu sei que vocês disponibilizam buscas e leituras da Bíblia em seu site e já lançaram uma Bíblia em CD, mas nem os netbooks hoje trazem o CD por este estar obsoleto. Vocês têm ideia de como uma política de direitos autorais mais flexível aumentaria o acesso dos jovens à Palavra de Deus? A quase totalidade das Bíblias em português hoje disponíveis em sites, computadores, celulares, Palm, PocketPC, Kindle e outros leitores digitais é ilegal, se consideradas as restrições de copyright da SBB.
Numa situação assim, vejo que são 3 as possibilidades:
(1) fazer vista grossa e manter uma situação de ilegalidade para cristãos de língua portuguesa que querem ler a Bíblia em formato digital (a Bíblia no site da SBB não contempla a grande maioria dos meios digitais),
(2) sair à caça desses que "insistem" em ler a Bíblia ilegalmente (parece que a Inquisição já fazia isso muito bem), ou
(3) rever sua política de direitos autorais.
A propósito: sou autor de 6 livros de negócios e 5 deles já estão disponíveis em formato digital gratuito. O sexto seguirá o mesmo caminho assim que terminar meu contrato com a editora. É preciso entender que está cada vez mais difícil ir contra a corrente. Existem hoje alternativas, como Creative Commons, por exemplo".
Recebi da SBB a resposta ao meu email, mas não acrescenta muito em termos de indicar uma luz no fim do túnel para que a Bíblia em português possa ser vista em um número cada vez maior de opções digitais. O lançamento de versões digitais em CD (como anuncia a resposta da SBB ao falar da Bíblia Glow www.sbb.org.br/bibliaglow) chega com anos de atraso, se considerarmos que os mais novos netbooks já nem trazem mais leitores de CD e DVD, sem falar nos tablets e smartphones.
Por melhor que seja o trabalho da SBB em sua tentativa de disponibilizar versões digitais, ela estará sempre um passo atrás das novas tecnologias. Existe por aí um batalhão de adolescentes capazes e ávidos em colocar textos digitais em dispositivos ou formatos que acabam de ser inventados, mas isso é algo que só iniciativas particulares são capazes de fazer sem a morosidade de uma grande organização, sempre amarrada a muitos interesses. Abaixo transcrevo a resposta da SBB:
"Caro leitor, Mario Persona,
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer por seu contato e pelas críticas recebidas. É muito bom poder contar com contribuições como a sua, que nos ajudam a refletir e melhor desenvolver nosso trabalho.
Em atenção ao seu e-mail, enviado em 2 de fevereiro, sobre a reportagem de capa da presente edição da revista A Bíblia no Brasil, gostaria de esclarecer que a referida matéria teve o propósito de retratar as iniciativas de diferentes igrejas e movimentos para conectar e aproximar o público jovem da Palavra de Deus. Com a pluralidade de fontes abordadas na reportagem, tanto católicas quanto evangélicas, cumpriu-se o objetivo da pauta em mostrar por diferentes ângulos a difusão bíblica para a “juventude”, apresentando os diversos canais de comunicação utilizados pelas organizações para alcançar esse público.
Para se aproximar ainda mais do público jovem, conforme até veiculado no conteúdo da própria revista, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) aderiu há mais de um ano às redes sociais, como Twitter e Facebook (veja matéria na página 22 desta mesma edição). Nesse período, a experiência de interação com o público nessas mídias tem sido enriquecedora e gratificante. Além disso, a organização desenvolveu seu mobile site (m.sbb.org.br), a fim de facilitar a pesquisa online gratuita da Bíblia, entre outros recursos, por meio de aparelhos móveis com conexão à Internet.
Por meio de um sistema chamado Webservice, a Sociedade Bíblica do Brasil também disponiliza gratuitamente suas traduções bíblicas - Almeida Revista e Atualizada, Almeida Revista e Corrigida e Nova Tradução na Linguagem de Hoje - a todos os interessados em oferecer o texto bíblico online. Dezenas de sites já aderiram a esse sistema, além de inúmeros outros que utilizam o link da pesquisa bíblica do site da SBB em suas páginas na Internet.
Ainda nesse sentido, no final de 2010, a SBB lançou algumas publicações e edições bíblicas para a versão e-book, seja gratuitamente ou com preços bem abaixo do formato impresso. A tendência neste ano é a expansão do material bíblico para o meio e-pub. Além disso, estão nos planos da entidade os lançamentos bíblicos – incluindo a criação de aplicativos – para a plataforma digital. A mais recente novidade do gênero, por exemplo, é a Bíblia Digital Glow, Trata-se de uma plataforma multimídia, que oferece uma navegação simples e intuitiva pelo universo do Livro Sagrado (veja mais em http://www.sbb.org.br/bibliaglow/).
Mas sem dúvida, há muito ainda a ser feito. Tanto isso é verdade que a disseminação da Palavra às atuais gerações é uma preocupação de todas as 147 Sociedades Bíblicas espalhadas pelo mundo (veja matéria na página 8 desta mesma edição). Na última Assembleia Mundial das Sociedades Bíblicas, promovida em Seul entre 20 e 24 de setembro último, a globalização e a juventude no mundo cristão foram os principais temas abordados. Esses desafios fizeram as Sociedades Bíblicas reverem seu papel e modo de trabalho neste contexto de novas tecnologias e modernos meios de comunicação.
A SBB segue imbuída da missão de semear a Palavra que transforma vidas para todas as pessoas. E, diante do atual cenário global, os jovens demandarão seus maiores esforços e trabalhos pelos próximos anos".
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