https://youtu.be/htY074dmq4U
Já tinha lido alguns comentários de Ismael e procurei ler mais algumas resenhas que há na Web em inglês. É uma obra de ficção que tenta passar uma mensagem, pelo que entendi, como fez um autor do qual li todos os livros em minha juventude. Era Lobsang Rampa, nome que um jornalista britânico adotou por se achar a reencarnação de um Lama do Tibete. Os livros eram cativantes, mas não passavam de pano de fundo para ele disseminar suas crenças (além de ganhar dinheiro).
No caso de Ismael (repito, não li o livro e corrija-me se estiver enganado), tudo se resume em uma reinterpretação da Bíblia que levanta a questão da validade da proibição de se comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, que o livro diz não haver justificativa na própria Bíblia.
Outro detalhe é o livro considerar a Bíblia como um texto humano, sem interferência divina na sua autoria. Aparentemente, o ponto de partida é uma decepção com o modelo judaico-cristão (embora o mesmo modelo seja encontrado na maioria dos povos) de exploração indiscriminada da Terra numa volúpia de Gerson, que quer levar vantagem em tudo. Acertei?
Há várias religiões novas que também invertem a questão do conhecimento do bem e do mal (o comer do fruto proibido), dizendo que aquele sim era o portal do conhecimento e da evolução humana. A Bíblia deixa claro que o que estava envolvido ali não era o fruto em si, mas a dependência e confiança em Deus. O homem escolheu a independência, apenas para se descobrir nu e ser incapaz de cobrir sua própria nulidade (é preciso que Deus mate animais inocentes para cobrir com peles a nudez mal coberta por folhas de figueira). Foi a primeira morte de um inocente para pagar pelo erro alheio, prefigurando Cristo.
O homem efetivamente adquiriu o conhecimento do bem e do mal, mas nem por isso evoluiu. Pelo contrário, a civilização acumulou conhecimento, tecnologia e experiência, mas continuamos tão cruéis e sanguinários, mais até que os animais. Ganhamos o conhecimento do bem e do mal, porém não o poder de fazer o bem e evitar o mal.
Foi a isso que levou nossa senda de independência de Deus, o que a Bíblia considera uma rebelião. A essência do pecado original (que não é sexo nem maçã) está na adoção de uma atitude rebelde e de orgulhosa auto-suficiência. Se tenho conhecimento do bem e do mal e crio coisas maravilhosas com minha tecnologia e inteligência, para quê preciso de Deus? Afinal, foi esta a promessa da serpente caso eles comessem do fruto: "Sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal".
Em suma, a declaração do ser humano (ou o que gostaria de declarar) você encontra no Salmo 2:
2 Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido, dizendo:
3 Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.
4 Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.
É claro que muita dessa animosidade contra religião (e parece que o autor tem algo neste sentido, considerando suas outras obras) vem de uma observação da religião humana, a qual Deus mesmo abomina. Basta ver o que o Senhor Jesus fala dos religiosos de seus tempos (os fariseus) e o que o livro do Apocalipse fala da cristandade de nosso tempo (a mulher montada numa besta).
A verdade é que homem algum pode compreender a Bíblia a não ser por revelação. O pensamento de Deus não está sujeito ao escrutínio da inteligência humana e as conclusões que tiramos quando a lemos só podem ser duas: de rebelião ou de sujeição a Deus. Isso fica bem claro em 1 Coríntios 1:
18 Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
19 Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
20 Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?
21 Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.
O que diz aí é que a fé em um Salvador crucificado não tem lugar na inteligência humana que tem a sua própria sabedoria. E vai mais além no capítulo 2:
4 A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder;
5 Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
6 Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam;
7 Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória;
8 A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.
9 Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam.
10 Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.
11 Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
12 Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
13 As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.
14 Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Um bom método de se detectar se um conhecimento vem ou não de Deus é perguntar: a quem isso glorifica. Se glorificar o homem, no sentido de dar a ele o mérito todo, então não vem de Deus. A verdadeira sabedoria é aquela que tira o homem natural de cena e coloca, em seu lugar, o Homem espiritual, Cristo.