https://youtu.be/zAlPavsgAQs
Fazer afirmações do tipo "Deus aprova a escravidão", sem detalhar o que era escravidão há 4 mil anos ou mesmo nos tempos de Jesus, é torcer os fatos. O problema é que quando pensamos em escravos pensamos no Brasil colônia, no navio negreiro etc. Todavia, o eunuco que se converte no caminho de volta de Jerusalém era um escravo da rainha da Etiópia. O centurião que procura Jesus em busca de cura para seu escravo (ou servo) não parecia alguém cruel como os que escravizavam negros há 500 anos. Abraão chamava a si mesmo de servo (escravo) de Deus, Maria se denomina serva (escrava) do Senhor.
Uma leitura do Antigo e Novo Testamentos irá mostrar que escravos estavam mais para empregados em um regime diferente do atual do que para os escravos das colônias nos séculos recentes. Escravo nos tempos bíblicos era uma classe social e provavelmente um escravo egípcio que passasse o dia abanando o Faraó em seu palácio não trocaria de lugar com um operário trabalhando numa fundição atual dessas de fundo de quintal ou pendurado em um andaime capenga de uma construção qualquer. Hoje a arqueologia já admite que as pirâmides não foram construídas por escravos (no sentido que conhecemos dos tempos coloniais), mas por uma classe de servos que trabalhava por sustento e por acreditar no que estava fazendo (era um sentimento religioso).
No Antigo Testamento um homem livre podia vender a si mesmo como escravo (veja em Deuteronômio 15). Agora eu pergunto: Quem seria louco de querer vender a si mesmo como escravo se a escravidão naquela época fosse a mesma coisa dos tempos dos navios negreiros? Vamos ver o que diz a passagem:
Dt 15:12-18 "Quando teu irmão hebreu ou irmã hebréia se vender a ti, seis anos te servirá, mas, no sétimo ano, o despedirás forro de ti. E, quando o despedires de ti forro, não o despedirás vazio. Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira, e do teu lagar; daquilo com que o SENHOR, teu Deus, te tiver abençoado lhe darás. E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito e de que o SENHOR, teu Deus, te resgatou; pelo que te ordeno hoje esta coisa. Porém será que, dizendo-te ele: Não sairei de ti, porquanto te ama a ti e a tua casa, por estar bem contigo, então, tomarás uma sovela e lhe furarás a orelha, à porta, e teu servo será para sempre; e também assim farás à tua serva. Não seja aos teus olhos coisa dura, quando o despedires forro de ti; pois seis anos te serviu por metade do salário do jornaleiro; assim, o SENHOR, teu Deus, te abençoará em tudo o que fizeres".
Aqui diz:
(1) Que um homem ou mulher livre pode se vender a si mesmo como "escravo";
(2) Que esse "contrato" pode ser no máximo de 6 anos;
(3) Que no final do período de "escravidão" o "escravo" deve sair abastecido de um rebanho, cereais e vinho;
(4) Que é possível o "escravo" gostar tanto do que faz que não irá querer ser "livre";
(5) Que nos seis anos que ele trabalhou custou ao senhor a metade do que custaria um diarista (porque ao diarista, além da comida e abrigo era preciso pagar o salário).
Pergunto: Você já viu escravidão assim? E lembre-se de que tal escravidão nada tem a ver com cor de pele, já que está falando de uma relação dentro do próprio povo hebreu. Já quando se tratava de escravidão baseada em raça, Deus deixou bem clara Sua opinião ao castigar o Egito que se negou a libertar o Seu povo da escravidão que era baseada na diferença racial. A escravidão nos moldes dos tempos coloniais é claramente condenada por Deus também na sua forma de conseguir escravos, que era através do sequestro: Êx 21:16 "E quem furtar algum homem e o vender, ou for achado na sua mão, certamente morrerá". E em 1 Timóteo 1:8-10 a Palavra de Deus coloca os "traficantes de homens" na mesma classe daqueles que matam o pai ou a mãe.
Um escravo dos tempos bíblicos tinha até condições de subir na vida, como é o caso do eunuco de Atos 8, convertido pela pregação de Filipe. Aquele homem era escravo (servo) eunuco de Candace, Rainha dos Etíopes, e era responsável pela guarda de todos os tesouros da rainha. Que escravo é esse que tem o posto de Secretário do Tesouro?! Escravos na Antiguidade tinham regalias, podiam ocupar até mesmo postos de responsabilidade. Talvez daqui a 2 mil anos as pessoas olhem para nós e achem que é um absurdo pessoas trabalharem 8 horas por dia ganhando salário mínimo, porque daqui a 2 mil anos as pessoas podem achar que isso é um tipo de escravidão, como nós avaliamos os escravos de 2 mil anos atrás, que chegavam a ser tão bem tratados que o centurião não mede esforços para curar um escravo seu.
Veja que você citou Tito 2:9, como "prova" de que Deus aceita a escravidão, mas não mencionou o que diz sobre os senhores: Cl 4:1 "Vós, senhores, fazei o que for de justiça e eqüidade a vossos servos, sabendo que também tendes um Senhor nos céus".
Se pesquisar mais, verá quais as obrigações de senhores e servos em Efésios 6:5-9:
"Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo, seja livre. E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas".
Leia a carta de Paulo a Filemon e diga-me se você vê ali uma posição indigna. Veja que é uma carta na qual Paulo exorta Filemon a receber de volta seu "escravo" Onésimo. Quase posso apostar que Onésimo era melhor tratado do que muitos trabalhadores com carteira assinada de nossos dias.
Aqui escrevi alguma coisa sobre a escravidão dos negros (que não tem nada a ver com a dos tempos bíblicos):
www.respondi.com.br/2008/12/deus-destinou-os-negros-para-serem.html