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Sua dúvida é se a escolha de Matias não teria sido uma iniciativa de homens apenas, e não de Deus. Segundo você, Pedro teria se apressado ao decidir que alguém deveria tomar o lugar de Judas, sem esperar para saber qual era a intenção do Senhor. Além disso, a escolha feita lançando sortes não seria, no seu entender, correta para um cristão. No meu entender, a escolha de Matias foi correta por algumas razões.
1. Os doze apóstolos originais não foram escolhidos como apóstolos para a Igreja, mas para Israel, já que a Igreja só viria a existir a partir de Atos 2. A missão dos apóstolos era primeiramente pregar o evangelho do Reino a Israel.
2. Todo o relacionamento do Senhor com Seus apóstolos nos evangelhos é um relacionamento judaico, onde coisas como o Templo, sacrifícios, ofertas, sacerdotes etc. continuam em vigor. Os apóstolos não tinham o Espírito Santo habitando neles, o que só ocorreu após Pentecostes, mas tinham o Espírito atuando por intermédio deles.
3. Embora não tivessem ainda o Espírito habitando em si, os apóstolos tinham a autoridade apostólica que o Senhor delegou a eles, e isso inclui Judas. Autoridade delegada não significa infalibilidade.
4. É com base nessa autoridade que eles procedem à escolha do décimo segundo, mas mesmo assim não decidem de si mesmos, mas colocam diante do Senhor. Primeiro eles fazem uma seleção com base nas características e pré-requisitos que aprenderam do próprio Senhor: ter convivido com o Senhor Jesus desde o batismo de João até o dia da ascensão, e ter testemunhado a ressurreição. Isso restringia as possibilidades a apenas dois candidatos.
At 1:21-26 "É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição. E apresentaram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor do coração de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar. E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E, por voto comum, foi contado com os onze apóstolos".
5. O fato de terem lançado sortes para que o Senhor indicasse através das sortes não era anti-bíblico se considerarmos que eles ainda não tinham o Espírito Santo neles dando discernimento. O Antigo Testamento autorizava essa prática, e reconhecia-se que a decisão viria do Senhor.
Pv 16:33 "A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda a sua disposição".
Hoje o crente pode receber a direção do Senhor pela Palavra de Deus e também pelo Espírito Santo que habita em si. Não é aconselhável tomar decisões hoje lançando-se sortes como faziam aqueles que não tinham o Espírito Santo. Quem abre a Bíblia a esmo esperando tomar uma decisão baseada num versículo qualquer apontado de olhos fechados corre o risco de encontrar sob seu dedo o trecho: "E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar".)
6. A escolha de Matias não é negada ou repreendida por Deus em lugar algum do Novo Testamento, pelo contrário, ele passa a ser reconhecido como um dos "doze" antes mesmo do surgimento de Paulo.
At 6:2 "E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas".
7. O próprio apóstolo Paulo reconhece que Matias é um dos doze ao mencionar que o Senhor foi visto "pelos doze", o que refere-se ao número completo incluindo Matias, já que então Judas estava morto. Paulo também faz distinção entre a experiência dos apóstolos e a sua própria, bem posterior, como de um nascido fora de tempo.
1 Co 15:5-8 "e que foi visto por Cefas e depois pelos doze [deve estar agora se referindo a Cefas + os 11]. Depois, foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois, foi visto por Tiago [talvez individualmente] , depois, por todos os apóstolos [outra vez "os doze"] e, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como a um abortivo".
8. O apóstolo Paulo foi o apóstolo escolhido do Senhor para ser o apóstolo dos gentios. A ele foi feita uma revelação que não tinha sido feita aos outros: a Igreja. Nenhum dos doze apóstolos sabia da Igreja antes de Paulo explicar a eles. Os doze tinham sido comissionados pelo Senhor para anunciar o Cristo, que estava aqui no mundo, aos judeus. Paulo foi comissionado para anunciar Jesus, no céu em glória, aos gentios.
Finalmente, quanto à sua última dúvida, se é Matias ou Paulo que terá seu nome em um dos doze fundamentos da Santa Jerusalém que desce do céu em Apocalipse 21:
Apo 21:14 "E o muro da cidade tinha doze fundamentos e, neles, os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro".
A resposta é Matias. Considere que:
- Matias foi o apóstolo escolhido em Atos 1 para ser o décimo-segundo e completar "os doze"
- Ele foi reconhecido como "os doze" em Atos 6
- Efésios 2:20 diz que a Igreja (e é a Igreja essa Santa Jerusalém que desce do céu em Apocalipse) foi edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina".
- A fundação (a inauguração ou o lançamento dos fundamentos) da Igreja ocorreu em Atos 2, antes de Paulo se converter. Embora Paulo fale do fundamento em 1 Co 3:10, ali ele está se referindo a Cristo.