https://youtu.be/HUNn6Rz8l5Y
Deve existir também uma distinção clara entre uma reunião da assembleia, que tem um caráter solene, e uma reunião mais informal, quando uma família ou um grupo de irmãos se reúne para ler a Palavra, orar, cantar hinos, conversar etc., que é basicamente o que vocês vêm fazendo enquanto aguardam serem recebidos à comunhão à mesa do Senhor.
Uma reunião da igreja é o momento solene onde dois ou três são reunidos pelo Espírito para o Nome do Senhor Jesus. Não se trata de um encontro casual entre irmãos, como um bate papo ou uma festa de aniversário. Nem é uma reunião de negócios, mas uma reunião que tem por objetivo partir o pão, aprender a doutrina e a comunhão dos apóstolos e orar, reconhecendo a presença real do Senhor no meio.
É neste caráter de reunião que se aplicam algumas ordens, como por exemplo a de que "falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem. Mas se a outro, que estiver sentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, cada um por sua vez; para que todos aprendam e todos sejam consolados; pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas; porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar" (1 Co 14).
No atual estado de ruína e degradação em que está a cristandade, é provável que a maioria das assembleias reunidas ao nome do Senhor que você encontrar estejam reunidas literalmente com 2 ou 3 apenas. E há casos em que uma assembleia se congregue com apenas um irmão varão (por morte ou abandono de outros). Aí as reuniões de assembleia não incluirão o ministério da Palavra e tampouco aquela assembleia terá poder de deliberar ou julgar. Quando o assunto é o julgamento, o "dois ou três" de Mateus 18:20 nos fala de dois ou três varões, uma vez que a passagem está falando da tomada de decisões, de ligar e desligar, o que deve ser feito por varões (que são cabeças).
Assim, uma assembleia "normal", isto é, funcional em todos os seus aspectos, deve ter 2 ou 3 irmãos (homens) reunidos, pois caberá a eles julgarem as questões de doutrina durante o ministério nas reuniões, e o recebimento (ligar) e exclusão (desligar) pessoas da comunhão à mesa do Senhor. (Lembrando que esse ligar e desligar é da comunhão à mesa do Senhor, mas jamais do corpo de Cristo, como pretendiam fazer os Inquisidores no passado com aqueles que caíam em pecado. Ninguém tem o poder de desligar um membro da Igreja, que é o corpo de Cristo).
Digamos que os irmãos de uma assembleia morram ou se afastem, ficando apenas irmãs. Elas poderão continuar se reunindo para partir o pão quando visitadas por outros irmãos, se o Senhor as dirigir a isso (o correto é que busquem o auxílio dos irmãos de uma assembleia próxima), mas não poderão se reunir como assembleia naquilo que envolver julgamento e ministério. Ou seja, não poderão receber pessoas à comunhão à mesa do Senhor ou colocar em disciplina alguma irmã em pecado, pois não encontramos nenhuma instância disso nas Escrituras. Para isso devem buscar o auxílio de varões de outra assembleia. Sempre que forem agir, vocês devem perguntar: "Alguém já fez assim na Palavra de Deus?" ou, por assim dizer, devem verificar se existe uma "jurisprudência bíblica" para aquela situação.
O mesmo se aplica ao ministério da Palavra. Em 1 Coríntios 14 diz "falem dois ou três e os outros julguem" quando se refere a irmãos que ministram. Uma assembleia formada apenas por irmãs não poderá exercer esse tipo de ministério, pois estariam desobedecendo a ordem das mulheres ficarem caladas nas assembleias ou reuniões da igreja. Além disso, não haveria um irmão para julgar o que falassem. Então elas podem se reunir sim, mas não no caráter de uma assembleia, e sim no caráter de uma reunião informal de irmãs que têm o desejo de orar e estudar a Palavra.
Uma assembleia onde tenha restado apenas um irmão varão também não poderá adotar ações que envolvam julgamento (pois é preciso de dois ou três para julgarem as coisas), portanto não poderá receber ou excluir pessoas da comunhão. Para isso o único irmão do local deverá buscar auxílio de irmãos de outra assembleia próxima. Não me lembro se existe alguma coisa no Novo Testamento (é a tal "jurisprudência" que mencionei) sobre essa questão da proximidade, mas em Nm 35 existe um princípio que pode ser aplicado, que é o das 6 cidades de refúgio. Alguém que pudesse ser alcançado pelo vingador do sangue (por ter morto alguém por acidente) podia correr para a cidade de refúgio mais próximo e não ser morto. A divisão das cidades era de tal modo que qualquer pessoa em qualquer lugar de Israel poderia alcançar uma cidade de refúgio no mesmo dia.
Pela mesma razão, as reuniões de leitura, estudo ou ministério de uma assembleia assim não podem ser consideradas reuniões no caráter formal de uma assembleia, uma vez que não há quem julgue o que aquele irmão falar. Ele e as irmãs que participarem estarão reunidos em um caráter informal, como acontece, por exemplo, quando uma família se reúne para ler a Bíblia, ou em uma reunião da escola dominical, quando um irmão ensina aos jovens a Palavra de Deus, podendo ele inclusive responder perguntas de irmãs nessa ocasião. Por não estarem reunidos em assembleia, as irmãs não estarão impedidas de falar.
Portanto, quando você perguntou como seriam as reuniões que fazem em sua casa antes de vocês serem recebidos à mesa do Senhor e começarem a partir o pão como uma assembleia local, é este o caráter, isto é, o memo de uma reunião informal de uma família para ler a Palavra, cantar hinos e orar. Neste caso não existe a necessidade de se aguardar pela direção do Espírito para trazer uma palavra, sugerir um hino ou uma oração, como se costuma fazer em uma reunião de assembleia, e algum irmão até pode querer agir como dirigente da reunião. Numa reunião assim também não há nenhum problema se os irmãos desejarem fazer leituras de livros e comentários ou até acessar a Internet para pesquisar alguma coisa, coisas que não caberiam quando a assembleia estivesse reunida ao nome do Senhor tendo apenas a Palavra de Deus e a direção do Espírito como recursos.
Vejo que às vezes erramos quando queremos dar a uma reunião informal entre irmãos um caráter de solenidade que a torna "parecida" com uma reunião de assembleia, causando confusão na cabeça de alguns. Existe sempre o perigo de se adotar um ritual. É bom que qualquer reunião de cristãos em torno da Palavra seja feita com reverência, mas pode causar confusão tentar "imitar" uma reunião de assembleia, pois esta tem um caráter diferente e solene.
Além disso é comum em reuniões informais termos amigos e parentes incrédulos que às vezes querem até fazer perguntas, comentar ou dar palpites. Embora isso seja perfeitamente normal numa reunião informal, não deve ser o caso quando a assembleia está reunida. Às vezes o fato de uma assembleia se reunir em uma casa pode dar a um incrédulo ou irmão visitante desavisado a ideia de que se trata de um bate-papo (por causa do ambiente onde a reunião é realizada). Em casos assim é importante avisar de antemão e com muito amor e cuidado as pessoas que não estão em comunhão à mesa do Senhor para que deixem qualquer comentário ou pergunta para depois que terminar a reunião.
Quando eu morava em São Paulo, a assembleia naquela cidade começou em meu apartamento e este era um problema que costumava ocorrer. Às vezes nos esquecíamos de explicar a um visitante a dinâmica da reunião e éramos surpreendidos no meio da reunião por um visitante dando uma opinião do tipo "Eu não acho que seja assim, porque blá, blá, blá..." Aí era preciso manter a calma e pedir educadamente ao visitante que assim que terminássemos aquela reunião teríamos o prazer de responder a todas as perguntas e a considerar todos os seus comentários e opiniões. Clique aqui para continuar...
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