(Continuação da Parte 1) Davi descobriu da maneira mais difícil que o pecado não confessado acaba com qualquer possibilidade de felicidade, isto porque temos uma consciência que foi dada a todos os homens. Ela nos faz sentir culpa quando praticamos o mal e também nos faz temer um castigo por isso. A consciência não funciona apenas para pessoas convertidas a Cristo, mas para incrédulos também, porém ela se manifesta de maneiras diferentes naquele que tem vida eterna e naquele que não tem.
Judas e Pedro pecaram, porém curiosamente o primeiro pecou por deixar claro que conhecia Jesus -- até mesmo beijando sua face para que os soldados tivessem certeza disso -- e outro pecou por negar que o conhecesse. Em ambos vemos a consciência incomodando e em ambos vemos arrependimento. Mas aí entra a diferença de uma consciência que gera o arrependimento que vem de Deus e uma que é egocêntrica, isto é, está preocupada não por ter feito algo de errado, mas por ter dado errado aquilo que fez. Existe uma diferença aí.
Veja o arrependimento de Judas:
"Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar." (Mt 27:3-5).
Se considerássemos apenas esta passagem, sem conhecermos nada do caráter de Judas, poderíamos nos enganar achando que seu arrependimento tenha sido sincero. Mas quando lemos outras passagens descobrimos que Judas...
... não cria verdadeiramente em Jesus, o qual sabia disso e e também que iria trai-lo, e também não estava entre os que haviam sido eleitos pelo Pai para serem dados a Jesus.
"Mas há alguns de vós que não creem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar. E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido." (Jo 6:64-65).
... era ladrão e só seguia a Jesus para obter algum lucro com isso.
"Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava." (Jo 12:4-6).
... era avarento, ou seja, amava o dinheiro e estava disposto a qualquer coisa para consegui-lo.
"Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes, E disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata." (Mt 26:14-15).
... sua disposição de coração fazia dele o instrumento ideal para Satanás, que acabou por influenciá-lo para o mal.
"E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse... E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa." (Jo 13:2, 27).
... numa tal condição Judas passava a ser chamado pelo Senhor de "diabo", um termo que não é usado nem mesmo para outros anjos caídos além de Satanás.
"Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo." (Jo 6:70).
Tudo isso leva a crer que Judas chorou "lágrimas de crocodilo" e arrependeu-se como se arrepende o marginal depois que é preso. É comum um bandido dizer ao repórter que está arrependido do que fez, mas a tradução de suas palavras é que está arrependido de seu plano não ter dado certo, de ter acabado preso, pois se não fosse pelo fracasso do plano certamente estaria feliz usufruindo do fruto de seu roubo e nem um pouco preocupado com o bem estar de suas vítimas.
Não é difícil imaginar que Judas contasse com a possibilidade de o plano dos soldados ser frustrado e Jesus escapar milagrosamente das mãos deles como já tinha feito em outra ocasião. "E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se." (Lc 4:30). Assim ele ficaria com o dinheiro da traição e continuaria na função de administrador das finanças dos apóstolos, tirando da bolsa o que fosse colocado nela.
Mas seu plano fora frustrado, pois Jesus tinha sido preso e seria morto. Para vergonha sua seu ato de traição acabaria conhecido de todos, e sua fonte de lucro fácil acabaria.
Por outro lado, no arrependimento de Pedro vemos sinceridade e um coração realmente contrito. Porém foi um arrependimento e restauração gerados pelo Senhor, não pelo próprio Pedro, que em sua fraqueza teria continuado vagando nas sombras, envergonhado de seu ato mas sem pensar na possibilidade de restauração. O Senhor já sabia que Pedro seria influenciado por Satanás, porém intercedeu por ele e literalmente olhou para ele. O pecado de Pedro não era a avareza, como Judas, mas a confiança própria.
"Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte." (Lc 22:31-33).
Aquele que se achava tão confiante e valente acabaria sucumbindo diante de uma simples criada.
"E como certa criada, vendo-o estar assentado ao fogo, pusesse os olhos nele, disse: Este também estava com ele. Porém, ele negou-o, dizendo: Mulher, não o conheço." (Lc 22:56-57).
"E Pedro disse: Homem, não sei o que dizes. E logo, estando ele ainda a falar, cantou o galo. E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente." (Lc 22:60-62).
O arrependimento de Judas foi segundo "a tristeza do mundo [que] opera a morte" (2 Co 7:10); o de Pedro "arrependimento para a vida." (At 11:18). Sabemos que Pedro não só foi restaurado como recebeu incumbências especiais do Senhor para que apascentasse suas ovelhas (Jo 21:14-17) e também confirmasse ou fortalecesse seus irmãos (Lc 22:32).
Portanto não existe outra saída para o pecado ou para aliviar a consciência além de confessá-lo completamente diante de Deus para poder desfrutar do pleno perdão e de uma verdadeira felicidade. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça." (1 Jo 1:9). "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados." (1 Jo 2:1-2).
"Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno." (Hb 4:15-16).
Portanto, o crente jamais será feliz a menos que confesse seus pecados a Deus. A mera religião de boas obras na tentativa de se alcançar o favor de Deus não resolve nada e só leva à "hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência." (1 Tm 4:2). Não existe nada pior do que ter a consciência cauterizada e viver insensível ao mal, como um leproso insensível à dor.
No Antigo Testamento a lepra era uma figura do pecado, e uma das características da doença é a perda da sensibilidade da pele. Por deixar de sentir dor, uma simples bolha no pé pode se transformar em ferida sem que a pessoa perceba. Sem dor e sem cuidado o resultado é a gangrenar e perda do membro. Assim é o pecado não confessado: ele continuará ali, corroendo cada vez mais a vida do crente, sua felicidade e sua comunhão com Deus. Ainda que se tente escondê-lo ou maquiá-lo, ele aparecerá lá na frente numa forma muito mais horrível do que a simples "bolha" do início.
"Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o Senhor; e sabei que o vosso pecado vos há de achar." (Nm 32:23).
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)