http://youtu.be/PHqaMbRf9vQ
Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso perguntaria como a Alemanha, um país fundamentalmente protestante, poderia ter sido o berço da maior perseguição e massacre já perpetrados contra o povo judeu na história da humanidade. Afinal, foi ali que Deus usou Martinho Lutero para resgatar a doutrina da justificação pela fé e para traduzir a primeira Bíblia numa língua viva, o alemão, também o primeiro exemplar impresso disponível ao povo comum.
Alguém poderia argumentar que a culpa foi toda de Hitler, mas ninguém de sã consciência iria admitir que ele fez isso sozinho com as próprias mãos. Não sei ao certo, mas talvez Hitler pessoalmente não tenha matado nenhum judeu. Na Primeira Guerra mundial ele foi ferido duas vezes e condecorado por bravura, mas como "mensageiro", que era sua função, e não por matar inimigos. Foram principalmente os alemães, sob o comando de Hitler, que mataram judeus indefesos na Segunda Guerra mundial.
O mesmo vale para Stalin, que também não sei se matou judeus com as próprias mãos, mas comandou o extermínio não apenas judeus, mas também cristãos aos milhares. O mecanismo tanto de um caso quanto de outro é o mesmo: uma população precisa ter implantado em sua mente um ódio latente contra aqueles que irá exterminar para que projetos assim sejam concretizados. Com Stalin isso foi feito durante alguns poucos anos de doutrinação ateísta e, obviamente, da busca por um culpado externo pela miséria do povo. Hitler disseminou o mesmo sentimento de buscar um culpado para a crise na Alemanha, mas também tirou do fundo do baú cultural e religioso dos alemães quase dois mil anos de doutrinação anti-semítica, primeiro do catolicismo, depois do protestantismo. E isso tem a ver com a "Teologia do Pacto" que é professada pela maioria das religiões fundamentalistas cristãs.
Uma das consequências nefastas da "Teologia do Pacto", que se resume na falta de entendimento de que Israel e Igreja são povos de Deus com promessas distintas (terrenas x celestiais), foi o que levou a Alemanha e os alemães a fecharem os olhos para o holocausto. Não apenas fecharem os olhos mas também apertarem o gatilho, acionarem o gás das câmaras de extermínio, e a riscarem o fósforo que acendia os fornos de incineração para dar fim aos corpos e não serem depois acusados de crimes de guerra, caso as coisas dessem errado no final. Enquanto isso o resto da população, consciente ou não do que acontecia atrás do arame farpado, fechava os olhos para o holocausto.
Mas o que a "Teologia do Pacto" tem a ver com isso? Nada para um verdadeiro convertido a Cristo, que traz no coração um sentimento de amor e piedade inerentes à nova vida que tem em Cristo. Tudo para o mero professante, que se acha herdeiro das promessas feitas a Israel no Antigo Testamento. Este irá enxergar, com fundamentação teológica, o povo judeu como um perigoso concorrente à posse daquela herança. Você já viu filhos se digladiarem em cima de uma herança enquanto o corpo do pai defunto ainda está quente? Então não se surpreenda com o que o ser humano é capaz de fazer para não perder seu quinhão aqui ou eternamente.
Não existe dúvida de que nos últimos dois mil anos os judeus têm vivido em aberta rebeldia contra Deus, rejeitando seu Messias que pregaram na cruz por não desejarem se sujeitar a ele. "Não queremos que este reine sobre nós" (Lc 19:14) é o brado que continua ecoando dentro da comunidade judaica. Mas esse mesmo sentimento de ciúme dos judeus contra Jesus, que os denunciou na parábola como tendo dito "Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e a herança será nossa" (Mc 12:7), foi também o que levou cristãos católicos e protestantes a fecharem olhos e corações para a carnificina do nazismo alemão. A Igreja Católica foi mais longe e, finda a guerra, providenciou uma rota de escape para os criminosos de guerra se refugiarem na América Latina.
Ainda que tenham sido criados com aversão ao Jesus dos Evangelhos, hoje cada judeu que crê em Jesus como seu Salvador recebe o perdão dos pecados e é feito membro do corpo de Cristo, que é a Igreja. Mesmo que não troque de sobrenome, como faziam os "cristãos-novos" de Portugal que eram obrigados a receberem o batismo cristão mesmo sendo inconversos, eles ganham o privilégio de serem vistos por Deus como uma das três classes de pessoas no mundo hoje: judeus, gentios e igreja de Deus (1 Co 10:32). Essa distinção apontada pelo apóstolo Paulo certamente é uma pedra no sapato dos que professam a "Teologia do Pacto". Aos olhos de Deus os judeus hoje, que descendem principalmente das duas tribos conhecidas, Judá e Benjamim, necessitam de salvação tanto quanto os gentios. Os que morrerem na condição de inconversos estarão perdidos.
E os que não se converterem antes da vinda do Senhor para arrebatar sua igreja? Aí teremos duas classes de pessoas, sejam judeus ou gentios, formadas por aqueles que ouviram o evangelho e rejeitaram a salvação, e aqueles não ouviram, ao menos claramente, e terão sua chance após o arrebatamento. Quanto aos que ouviram e rejeitaram, sejam judeus ou gentios, a estes que "não receberam o amor da verdade para se salvarem... Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade" (2 Ts 2:10-12).
Nas palavras do Senhor Jesus em Mateus 25:31-46, em sua vinda para reinar essas classes de pessoas estão representadas da seguinte forma:
"Bodes" — são os perdidos que perseguirão os judeus convertidos a Cristo em tempos de grande tribulação, independente do sobrenome que levam;
"Ovelhas" — são os salvos dentre os gentios que entrarão no reino milenial de Cristo na terra. São os que protegeram e deram água, comida, roupa e visitaram na prisão o remanescente de judeus fieis que o Senhor irá considerar como verdadeiros judeus.
"Pequeninos Irmãos" — os que foram protegidos pelas "ovelhas". Tal é a intimidade do Senhor com estes que ele os chama de seus irmãos (Mt 25:40).
Portanto, após o arrebatamento da igreja veremos renascer o mesmo sentimento que existiu na cristandade na Alemanha e em outros países considerados cristãos. Então a cristandade, vista como a "Grande Meretriz" e "Grande Babilônia" no Livro de Apocalipse, terá domínio por um tempo sobre o poder secular, como aconteceu na história em maior ou menor grau nos últimos dois mil anos. Ali encontramos a Grande Meretriz do poder religioso montando a Besta do poder secular (Ap 17:3). Nesse tempo ela perseguirá ferozmente o remanescente de judeus fiéis do mesmo modo como a cristandade européia perseguiu os judeus na Segunda Grande Guerra. Mas finalmente a Grande Babilônia, culpada por derramar tanto sangue inocente, não só de judeus, mas também de cristãos genuínos ao longo dos últimos dois mil anos, será derrubada de sua montaria e será julgada por Deus. Isto você encontra no capítulo 18 de Apocalipse.
Você talvez não concorde com isso e ache um absurdo acreditar que pessoas que professam ser cristãs poderiam vir a fazer tamanha barbaridade no futuro, considerando o discurso do "politicamente correto" que hoje emana das grandes denominações cristãs, que protegem os menos favorecidos, os rejeitados pela sociedade, os escravizados etc. Você se esqueceu de dizer "os pedófilos, os adúlteros, os ateus...", desde que façam parte do clero. Minha professora de História costumava dizer que estudamos História para conhecer o passado, entender o presente e não repetirmos os mesmos erros no futuro. Pobre professora que acreditava tanto assim na humanidade.
Se você conhecer um pouco de história das religiões cristãs e as doutrinas que cada uma professa hoje verá que grande parte das denominações fundamentalistas acredita basicamente na mesma doutrina que os cristãos alemães católicos e luteranos acreditavam nos tempos da Segunda Guerra Mundial, ou seja, que a Igreja é a sucessora de Israel e a herdeira das promessas feitas àquele povo no Antigo Testamento.
Se assim é, voltamos ao que disse no início sobre o sentimento que os herdeiros têm quando veem alguém dizendo-se herdeiro legal da herança. "Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e a herança será nossa" (Mc 12:7). Se na parábola o Senhor Jesus estava se referindo aos judeus no modo como enxergavam o Filho de Deus vindo ao mundo, o mesmo sentimento pode ser dito da cristandade professa em relação aos "pequeninos irmãos" que o Senhor irá introduzir em seu reino como herdeiros legítimos das promessas feitas a eles no passado.
Mas quem realmente acredita na doutrina da substituição, que Israel tenha sido substituído pela Igreja que seria hoje a herdeira legal das bênçãos materiais? Praticamente toda denominação que prega o "evangelho da prosperidade" e basta ligar a TV ou o rádio para encontrar muitos representantes dessa doutrina. Elas não existiam na Segunda Guerra, mas a doutrina era a mesma professada pelas igrejas Católicas, Ortodoxas, Luteranas, Presbiterianas, Anglicanas, Episcopais, Congregacionais, Menonitas, Reformadas, Adventistas, Nazarenas, Metodistas, Batistas etc.
A figura abaixo indica quais são as que professam a "Teologia do Pacto", que ensina que a Igreja teria substituído Israel, ficando assim herdeira das promessas do Antigo Testamento. A mesma figura indica as denominações cristãs que professam o "Dispensacionalismo", que ensina que a Igreja é um povo distinto e celestial, com promessas espirituais nos céus, enquanto Israel continua como o povo terreno escolhido por Deus que irá desfrutar das promessas de prosperidade material e terrena no Milênio.
Extraído de "Teologia do Pacto ou Dispensações", por Bruce Anstey. |
Essa visão equivocada da Igreja como substituta de Israel é tão antiga quanto muitos dos primeiros patriarcas do cristianismo que surgiram na era pós apostólica. Mais tarde isso seria professado também pelos chamados "Reformadores", que apesar de terem sido usados por Deus para resgatar uma doutrina tão preciosa quanto a justificação pela fé, nunca entenderam realmente o que era a Igreja, sua origem e destino, e as diferentes dispensações. Para entender o pensamento de Lutero, que era o pensamento corrente na época entre a maioria dos cristãos, basta ler um texto de sua autoria chamado "Sobre os Judeus e Suas Mentiras", do qual transcrevo aqui alguns trechos (você encontra o texto em vários sites):
"(…) Finalmente, no meu tempo, [os judeus] foram expulsos de Ratisbona, Magdeburgo e de muitos outros lugares… Um judeu, um coração judaico, são tão duros como a madeira, a pedra, o ferro, como o próprio diabo. Em suma, são filhos do demônio, condenados às chamas do Inferno. Os judeus são pequenos demônios destinados ao inferno... Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade … são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte... Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus."
Se você acha que esta associação entre Lutero e o Holocausto seja invenção minha é melhor pesquisar mais. Na obra "Ascensão e Queda do Terceiro Reich", de autoria do protestante William L. Shirer, você encontra:
"É difícil compreender a conduta da maioria dos protestantes nos primeiros anos do nazismo, salvo se estivermos prevenidos de dois fatos: sua história e a influência de Martinho Lutero (para evitar qualquer confusão, devo explicar aqui que o autor é protestante). O grande fundador do protestantismo não foi só anti-semita apaixonado como feroz defensor da obediência absoluta à autoridade política. Desejava a Alemanha livre de judeus (…) — conselho que foi literalmente seguido quatro séculos mais tarde por Hitler, Göring e Himmler".
Mas quando falamos de indiferença e ódio de cristãos contra judeus, vale lembrar que a recíproca é verdadeira. Assim com muitos cristãos têm desprezo pelos judeus, e isso com raízes tão profundas quanto a própria herança cultural-religiosa católica ou protestante que receberam, um judeu que se converta a Cristo é desprezado e visto como um pária e traidor de seu próprio povo. Que o diga o judeu que já passou pela experiência de crer no Salvador e precisou enfrentar a rejeição de parentes e amigos judeus.
por Mario Persona
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mas quando falamos de indiferença e ódio de cristãos contra judeus, vale lembrar que a recíproca é verdadeira. Assim com muitos cristãos têm desprezo pelos judeus, e isso com raízes tão profundas quanto a própria herança cultural-religiosa católica ou protestante que receberam, um judeu que se converta a Cristo é desprezado e visto como um pária e traidor de seu próprio povo. Que o diga o judeu que já passou pela experiência de crer no Salvador e precisou enfrentar a rejeição de parentes e amigos judeus.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)