https://youtu.be/4y17faob3bs
Muitos escrevem perguntando o que eu acho do pregador Fulano ou Sicrano, e a pergunta às vezes vem acompanhada de um link de áudio ou vídeo do pregador, que na maioria das vezes não tenho tempo para escutar. Não posso julgar a pessoa do pregador, pois isto cabe a Deus. Afinal, somente Deus conhece o coração de cada pessoa, e esta passagem é um alerta muito claro no modo como devemos agir em qualquer caso:
"O fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra." (2 Tm 2:19-21)
Depois de tirar de nós a responsabilidade de decidirmos quem é salvo e quem não é, o Espírito Santo, por intermédio do apóstolo Paulo, nos exorta a nos apartarmos da iniquidade, que no contexto é claramente a má doutrina. Também devemos nos apartar dos vasos ou pessoas que as professam nessa "grande casa" em que se tornou a cristandade, se quisermos ser vasos preparados, não para apenas algumas obras, mas para toda a boa obra. No capítulo todo ele vai demonstrar que nunca saímos ilesos do contato com a má doutrina, pois ela contamina fermento e nos corrói como um câncer.
Se você ler os versículos anteriores verá que ele está se referindo a alguns pontos importantes. Primeiro, que devemos nos fortificar "na graça que há em Cristo Jesus" (2 Tm 2:1), o que elimina de vez qualquer doutrina que ensine que a salvação seja por obras. Segundo, que Deus deu os apóstolos com fonte fidedigna da Verdade que deve ser recebida, pregada e ensinada a outros para que façam o mesmo (2 Tm 2:2). Terceiro, devemos nos manter livres dos embaraços das coisas desta vida, o que neste contexto significa não misturarmos a Verdade de Deus com as modas e tendências do mundo (2 Tm 2:4).
O quarto ponto é que devemos "militar legitimamente" (2 Tm 2:4-5), ou seja, dentro das regras que Deus estabeleceu, o que já descarta de vez esse comércio da fé praticado pelos mercenários e estelionatários encontrados aos montes na mídia e nos templos dedicados à avareza, que é o amor ao dinheiro, e a Mamom. O quinto ponto é que aquele que prega ou ensina deve se comportar como um "lavrador" (2 Tm 2:6) que sabe que seu papel é apenas o de semear e regar a planta, enquanto o poder de germinar e o crescimento vem de Deus, e não de técnicas de persuasão e hipnose que ele aprendeu em alguma faculdade teológica. No sexto ponto, você encontra a exortação para não sermos sábios segundo nossa própria inteligência, "porque o Senhor te dará entendimento em tudo" (2 Tm 2:7).
Se quiser acrescentar mais alguns pontos ao contexto, repare que o apóstolo nos lembra que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos; que trabalhos, perseguições e prisões não são elementos estranhos à vida daquele que prega a Verdade, e que apesar de todos os esforços do inimigo, "a Palavra de Deus não está presa" (2 Tm 2:9). As cartas de Paulo, em sua maioria, foram escritas na prisão, para onde o diabo o tinha enviado para evitar que suas palavras chegassem ao povo. Se você possui um Novo Testamento já percebeu que a estratégia do inimigo não funcionou.
Saltando agora para o versículo 15, chegamos mais rapidamente ao assunto de sua pergunta. Repare que ele vai falar agora de "manejar bem a Palavra da verdade" (2 Tm 2:15). Na versão inglesa da Bíblia traduzida por John Nelson Darby esta frase aparece como "cortando com precisão a Palavra da verdade". A expressão lembra a precisão cirúrgica na hora de dissecar um corpo e separar cada órgão segundo a sua finalidade. É assim que devemos ler a Bíblia, entendendo o que é dito, para quem, quando, onde, em que circunstâncias e com que finalidade.
Antes de ir esse ponto nevrálgico da compreensão bíblica, que é saber repartir a Palavra da verdade, o apóstolo nos alerta a não nos envolvermos "em discussões acerca de palavras", pois estas "não têm proveito e servem apenas para perverter os ouvintes", acrescentando depois que devemos evitar "as conversas inúteis e profanas, pois aos que se dão a isso prosseguem cada vez mais para a impiedade". Na mesma linha de pensamento ele nos alerta que esse tipo de coisa "alastra como câncer; entre eles estão Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu, e assim a alguns pervertem a fé" (2 Tm 2:14-18).
A súmula do que ele diz é que não devo ficar por aí buscando novidades extra-bíblicas, em especial aquelas que possam minar os fundamentos da fé cristã (como a mentira que Himeneu e Fileto estavam espalhando sobre a ressurreição), pois a ocupação com o mal em "conversas inúteis e profanas" poderá perverter minha fé, se alastrar como câncer e me levar "cada vez mais para a impiedade".
Quer um exemplo prático? Fuja dessa profusão de pregadores que negam a ressurreição de Cristo, ou colocam em dúvida sua divindade e a Trindade, ou que causam sobressaltos com teorias conspiratórias envolvendo ETs, Iluminatis, chips, terra plana, lua vermelha, calendário maia e outras bobagens que só servem para tirar a paz do cristão. Afinal, depois de ouvir essas coisas, acaso você poderá fazer algo a respeito ou tornar sua vida melhor quando acordar na segunda-feira?
Voltando à sua pergunta, como já disse, ainda que eu não possa julgar a pessoa do pregador ou suas intenções, devo sim julgar suas obras e doutrinas. Jesus alertou os discípulos: "Acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus... Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus." (Mt 16:6-12). Se for um daqueles pregadores que pedem dinheiro eu nem perco meu tempo em escutá-lo. Na Bíblia não temos ninguém pedindo dinheiro quando pregava, muito menos para uma audiência mista de crentes e incrédulos. Nosso exemplo deve ser o dos primeiros cristãos, "porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios" (3 Jo 1:7).
Se o pregador for católico, também não perderei meu tempo escutando sua pregação, porque a doutrina católica não considera Cristo o substituto do pecador, mas apenas seu representante. A diferença é enorme, e já falei disso em outra ocasião. Além disso, na pregação católica existe uma mistura grande de evangelho com doutrinas marianas e superstições, além do fato de o catolicismo não considerar apenas a Bíblia como Palavra de Deus. A tradição dos papas ou de seu colegiado é usada como "voto de Minerva" quando existir uma discrepância entre o que a Bíblia diz e o que os papas disseram.
Também não paro para ouvir um pregador pentecostal, porque se ele não tem certeza da própria salvação, por achar que ainda precisa perseverar para garanti-la, como pode falar com certeza que é Cristo quem salva sem a ajuda do homem? Evito também aqueles que pregam a Lei de Moisés, o batismo ou a guarda do Sábado como elementos essenciais à salvação, ou ainda a necessidade de se fazer membro de uma determinada religião. Suas palavras me farão perder tempo e ainda terão o poder de me contaminar, como já expliquei antes.
Se for uma "pregadora" também não pararei para ouvi-la, pois a Palavra de Deus é clara em proibir "que a mulher ensine, ou exerça autoridade de homem" (1 Tm 2:12) e também que "as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar... porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja", acrescentando que essas ordens "são mandamentos do Senhor" (1 Co 14:34-37). Ainda que os costumes tenham mudado ao longo dos séculos, a Palavra de Deus permanece a mesma e o Espírito de Deus não deu essa ordem por causa de costumes que vigoravam há dois mil anos. Ele remete a razão dessa ordem ao Jardim do Éden, dizendo que "Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (1 Tm 2:14).
Restam então alguns pregadores protestantes fundamentalistas, como os metodistas, batistas ou presbiterianos, mas dentre estes é preciso saber se estão pregando o evangelho puro ou um evangelho social, filosófico, político, motivacional ou de psicologia humana. Alguns pregadores, de formação arminiana, pregam um evangelho misturado, como se a capacidade de crer pudesse existir em um pecador morto em seus pecados, quando a verdade é que "não há ninguém que busque a Deus" (Rm 3:11). Outros, de formação calvinista, são mais precisos em demonstrar a incapacidade de o homem pecador e arruinado salvar-se a si mesmo e precisar ter sido eleito antes da fundação do mundo. Mesmo assim, costumo encontrar a maioria deles no hall de entrada do palácio. O que quero dizer com isso?
Quero dizer que, embora apresentem a mensagem da salvação de forma clara e bíblica, o Evangelho é apenas o saguão de um palácio onde existem outros aposentos repletos das riquezas dos desígnios de Deus. Não devo acompanhá-lo aos demais cômodos desse palácio, pois provavelmente não encontrarei neles a sã doutrina dos apóstolos. O mero fato de serem clérigos ou pertencerem a um sistema religioso irá demonstrar que não entenderam a revelação da Igreja que foi dada ao apóstolo Paulo. Se professam a teologia do pacto, idem, pois misturam Antigo e Novo Testamentos e não sabem distinguir Israel, o povo terreno de Deus, da Igreja, o povo celestial.
Um irmão chamado Heinz Brinkmann, que já está com o Senhor, resumiu bem uma lista de verdades encontradas na Bíblia, porém desconhecidas dos reformadores protestantes, que estabeleceram seus dogmas apenas sobre o que ensinaram Lutero, Calvino e outros, que foram depois adotados por religiões protestantes e evangélicas. Algumas verdades dessa lista são:
- A vocação celestial do crente em Jesus.
- A diferença entre a Igreja e o reino.
- A diferença entre o evangelho do reino e o evangelho da graça de Deus.
- O reino futuro ainda assegurado para Israel.
- Nossa posição perfeita diante de Deus.
- A verdade do corpo de Cristo.
- A verdade da casa de Deus e sua ordem.
- O significado de se guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
- O batismo nas águas sem qualquer ligação com ser membro da igreja.
- A presença do Espírito de Deus na igreja, dirigindo e usando quem ele quer.
- O erro do sistema clerical.
- A ruína da igreja e o testemunho remanescente.
- O significado do arraial.
- A diferença entre pecado e pecados.
- A diferença entre posição e condição do crente.
- A diferença entre perdão eterno e perdão administrativo ou governamental.
Então, resumindo, será que posso desfrutar da mensagem pura do Evangelho pregada por algum pregador denominacional? Sim, evidentemente, se ele não pedir dinheiro, não falar de salvação por obras, guarda da Lei ou perseverança, e nem condicioná-la a frequentar alguma religião. Será que posso aprender dele verdades relacionadas às diferentes dispensações de Deus, à Igreja, o Corpo de Cristo, e aos eventos proféticos? Nem sempre, pois dificilmente o que ele pregar chegará até mim sem mistura, pois terá sido processado pela organização à qual pertence e limitado àquilo que ela determinou em seus dogmas que deve ser seguido por seus clérigos e pregadores.
Com isso não estou colocando em dúvida a sinceridade do pregador, sua salvação ou seu dom, mas apenas me precavendo para não ser contaminado pelos dogmas, doutrinas, costumes ou tradições misturados à sua mensagem.
Com isso não estou colocando em dúvida a sinceridade do pregador, sua salvação ou seu dom, mas apenas me precavendo para não ser contaminado pelos dogmas, doutrinas, costumes ou tradições misturados à sua mensagem.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)