https://youtu.be/z9JGdOnUz4E
Você leu textos e assistiu vídeos acusando irmãos do século 19, que congregavam somente ao nome de Jesus, e em especial um deles chamado John Nelson Darby, de envolvimento com ocultismo. Esses vídeos de teorias conspiratórias tentam conectar a prática de congregar fora dos sistemas denominacionais e também doutrinas como as do arrebatamento da Igreja e das dispensações como consequência do envolvimento de seus autores com o ocultismo.
Realmente também já vi esse lixo que é conhecido como “fake news”, e até eu fui incluído em boatos e difamações do tipo. Outro dia alguém indicou um vídeo que acusava pastores mercenários, desses que vivem pedindo dinheiro na TV, de maçons e Illuminati. E adivinha quem estava entre eles no vídeo? Eu! Tudo baseado em um trecho de um vídeo meu onde eu explicava que a marca da besta não seria necessariamente um chip, como nos anos 80 não era o propalado código de barras.
O raciocínio é o seguinte: Se o Mario Persona não acredita no chip, então ele deve estar fazendo isso para as pessoas se deixarem marcar pelo anticristo, e então ele deve estar a serviço do anticristo, ser Illuminati e também maçom. E deve ser pastor mercenário, por ganhar dinheiro fazendo vídeos e escrevendo livros como esses pregadores da prosperidade da TV. Simples tirar conclusões assim, não é mesmo?
A propósito, nem publicidade tenho nos vídeos em que falo do evangelho, ao contrário dos vídeos de teoristas conspiratórios que me acusam de ganhar dinheiro com meus vídeos. Os vídeos desses canais são cheios de anúncios de ganhos compartilhados e procuram causar impacto exagerando e propagando mentiras para aumentar a audiência e gerar mais receita. Você deve ter ouvido a máxima da imprensa, que diz: "Se não sangrar, não dá audiência".
Para você entender essa ira toda contra o ensino de doutrinas resgatadas por irmãos do século 19 é preciso entender que na época houve uma debandada de cristãos saindo das denominações para estarem congregados somente ao nome do Senhor. Foi coisa grande mesmo, e isso obviamente arrepiou os cabelos do clero, já que não existe um clero entre os assim congregados. Uma das maneiras de se contestar algo no cristianismo é apontar biblicamente suas falhas, mas quando não se tem recursos bíblicos para contestar parte-se para a difamação pura e simples, na tentativa de desacreditar seus pregadores.
Os séculos 18 e 19 foram marcados por uma explosão de ideias, e para bem ou mal a sociedade foi influenciada por muitos autores desse período, principalmente pelas teorias evolucionistas, como a de Charles Darwin, e também pelo interesse que o ocultismo e as religiões pagãs orientais. Curiosamente, na mesma época em que os homens se achavam mais ilustres por se acharem evoluídos, a civilização ocidental deu um passo atrás voltando a crendices pagãs como reencarnação, meditação transcendental e busca por poderes paranormais.
Na esfera cristã Deus não estava parado em suas ações, e foi nessa época que ocorreu um ímpeto muito grande de evangelismo em todo o mundo. Poucos sabem que muito desse movimento foi por Deus ter restaurado verdades importantes, como a vocação celestial a Igreja, a diferença entre a Igreja e o Reino, a diferença entre o evangelho do Reino e o evangelho da Graça, o reino futuro destinado a Israel, as verdades do corpo de Cristo e da casa de Deus, o batismo sem conotação com ser membro da Igreja, o sacerdócio de Cristo, o Senhor Jesus no meio de dois ou três congregados ao seu nome, o arrebatamento da Igreja, as diferentes dispensações, o erro do sistema clerical etc.
Foi quando muitos cristãos despertaram para a iminente vinda do Senhor como sendo a esperança apropriada ao cristão, e não a expectativa de habitar no Reino terrestre de Cristo, como eram as promessas feitas por Deus a Israel, precedida por eventos catastróficos e juízos derramados sobre a humanidade. Para a vinda de Cristo buscar sua Noiva, porém, não havia qualquer profecia de acontecimentos prévios. O próprio apóstolo Paulo, a quem foi revelada a verdade do arrebatamento da Igreja, já esperava participar dele em sua época. Ele se inclui nesse evento ao dizer “nós, os vivos, os que ficarmos”. Aos tessalonicenses, que estavam confusos entre o destino reservado aos que dentre eles já tinham partido e o que esperar do futuro em razão das constantes perseguições, Paulo escreveu:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.” (1 Ts 4:13-18).
Como aconteceu na parábola das dez virgens, a passagem do século 18 para o 19 encontrou uma cristandade em geral mergulhada num marasmo de rituais e formas. Alguns séculos antes Deus havia levantado alguns homens no que foi conhecido como Reforma Protestante para resgatarem a doutrina da justificação pela fé, então coberta pelo entulho das doutrinas da igreja romana, e fazerem oposição ao ímpio sistema papal de venda de indulgências e outros crimes.
Mas aquele movimento se arrefeceu quando até mesmo os seus expoentes se aliaram aos poderosos do mundo em busca de proteção, e logo vimos surgir as diversas igrejas reformadas, algo que até então não tinha sido visto no cristianismo. É claro que sempre existiram pequenos grupos de cristãos aqui e ali que se opunham ao poder de Roma, mas com a época posterior à Reforma Protestante o que se viu foi a institucionalização da divisão e criação de novos feudos de poder seguindo o mesmo modelo da igreja romana. Como se costuma dizer, a fruta não cai longe da árvore.
Então quando chegamos à virada para o século 19 o que se via era um cristianismo apático, pois “tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.” (Mt 25:5-6). Esses irmãos que no século 19 saíram do arraial religioso para congregar somente ao nome do Senhor deram esse brado — "Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro" — ao colocarem ênfase no iminente arrebatamento da Noiva, a Igreja, para encontrar o Noivo nos ares.
À semelhança do que havia ocorrido no período da Reforma Protestante, Deus estava levantando alguns cristãos, não com novas revelações ou profecias, mas apenas com a direção do Espírito Santo no entendimento da Palavra de Deus, para tirar de entre o entulho da tradição religiosa verdades preciosas que estavam na Bíblia, porém há muito haviam sido esquecidas e abandonadas.
Muitos cristãos passaram a entender o que era efetivamente a Igreja, sua vocação e destino distintos dos de Israel, e muitos se apartaram dos sistemas religiosos existentes na época para estarem congregados somente ao nome do Senhor Jesus, como ensinava Mateus 18:20. Dentre eles havia irmãos que passaram a pregar e escrever sobre o assunto da iminente vinda de Cristo para a Igreja, com um frescor que não era visto nos sonolentos cultos católicos e protestantes, geralmente voltados para questões mais terrenas.
Enquanto a maioria achava que antes de o Senhor voltar era preciso acontecer muita coisa, até a urgência de se pregar o evangelho foi deixada de lado. Mas com esse movimento ocorrido no início do século 19 muitos cristãos ficaram sabendo que o Senhor poderia voltar a qualquer momento e que as profecias que diziam respeito ao estabelecimento do Reino na Terra só aconteceriam depois da vida de Jesus para arrebatar e se encontrar com sua igreja nos ares.
O despertar para a vinda de Jesus buscar sua Igreja a qualquer momento estimulou muitos a saírem pelo mundo para pregar o evangelho, pois até então predominava a ideia de que a Igreja era apenas uma continuidade de Israel e que Cristo iria voltar para estabelecer seu Reino no mundo sabe lá quando. Enquanto isso os cristãos deveriam cristianizar o mundo e prepará-lo para ser governado por Jesus em sua vinda. Para isso valia até conquistar territórios pela força das armas, como fez o catolicismo romano durante séculos e mais tarde nações como Portugal e Espanha, e mais recentemente o Império Britânico em todo o mundo.
Havia até mesmo uma repulsa generalizada contra o povo judeu, perseguido igualmente por católicos e protestantes que seguiam a cartilha antissemita do próprio Martinho Lutero que escreveu o tratado “Dos judeus e suas mentiras”. Isso mais tarde levaria uma das maiores nações protestantes a criar um programa de extermínio sistemático de judeus, ao qual nem o Papa ousou se opor, e mais tarde iria até dar guarida aos criminosos de guerra nazistas.
Enquanto no princípio do século 19 ocorria um movimento muito forte de evangelismo por todo mundo, justamente pela conscientização de que não se podia perder tempo tendo em vista a iminente vinda de Jesus para buscar sua igreja, na mesma época tomavam força, não apenas as ideias evolucionistas, mas principalmente na França um interesse crescente pela comunicação com espíritos, que Alan Kardec importou da Índia e de outras religiões orientais e adaptou para o mundo ocidental. Houve também um forte movimento iniciado por Madame blavatsky, denominado teosofia, a qual criou muitas doutrinas que vemos hoje em movimentos como espiritismo, nova era, esoterismo e no interesse pelo ocultismo de forma geral.
Na contramão estavam cristãos como John Nelson Darby, vindo de família nobre britânica. O Almirante Nelson, celebrizado nas guerras napoleônicas, era seu padrinho, daí o nome do meio dado em sua homenagem. Tendo se formado para ser clérigo, Darby literalmente “caiu do cavalo” em suas convicções eclesiásticas. Depois de um acidente com sua montaria, foi obrigado a passar um bom tempo numa cama na casa de sua irmã em reabilitação, e foi quando buscou as Escrituras e sabedoria da parte de Deus para comparar o que via na Bíblia e o que via na cristandade em redor. Ao mesmo tempo outros na Grã-Bretanha e em outras partes do mundo estavam sendo despertados para a mesma inquietação de que o cristianismo que enxergavam em redor não era aquele que encontravam na Bíblia.
Contestando a ideia evolucionista, que inclusive é fundamental ao ocultismo e esoterismo, que em algumas vertentes chegam a dizer que um cão é mais evoluído espiritualmente que uma mulher, Darby escreveu comentando que "Deus pegou o homem no seu estado mais elevado, Cristo, Deus e homem, e o colocou no estado mais baixo que o homem pode chegar, na morte". Dificilmente uma pessoa sensata acusaria de ocultista um férreo opositor do evolucionismo e das práticas ocultas. Basta ler seus livros para perceber isso.
Enquanto isso, Charles Darwin, que foi seu contemporâneo, pegava o ser humano num estado muito baixo, dando a ele até o status de um verme que teria supostamente chegado à condição de símio, e tentou ensinar que ele iria evoluir até chegar num estágio muito alto. Coisas completamente diferentes, completamente opostas. Uma tendo a Deus como princípio de todas as coisas, como a revelação de todas as coisas e fazendo toda a obra, e outra colocando no homem e na própria natureza a ênfase de tudo.
Como John Nelson Darby foi um dos mais prolíficos autores dentre os irmãos, embora ele tivesse aprendido com outros irmãos muitas das coisas que ensinou, como a verdade da diferença entre Israel e Igreja e o arrebatamento da Igreja, ele acabou sendo o principal alvo dos difamadores, muitos deles pessoas que nunca leram um livro sequer de sua autoria.
Na Web já encontrei artigos em inglês trazendo sugestivos (e difamatórios títulos) como estes: "John Nelson Darby: Teosofista que não saiu do armário?", "O Cristo de John Nelson Darby comparado ao Cristo de Alice Bailey" (seguidora do espiritismo tibetano), "Corrupções pré-tribulacionistas na Bíblia de Darby", "John Nelson Darby esperava por 'Aquele que virá'" (o artigo diz ser a mesma expressão usada por adeptos da Nova Era que esperam pelo anticristo), "Marcas ocultistas e da Nova Era na tradução da Bíblia de Darby", "Darby esperava por aquele vindo em carne" (o artigo diz que seria o anticristo).
Portanto, sempre que você ouvir difamações do tipo, procure se perguntar: A quem interessaria difamar irmãos que só buscam congregar ao nome do Senhor Jesus, sem templos, dízimos e principalmente sem uma instituição e um clero que mantenha os leigos no cabresto? Tenho certeza de que você saberá encontrar a resposta.
http://www.respondi.com.br/2017/03/por-que-protestantes-e-catolicos.html
http://www.respondi.com.br/2017/05/darby-era-macom.html
http://www.respondi.com.br/2017/11/devo-tomar-cuidado-com-darby-e-seus.html
http://www.respondi.com.br/2011/07/ideia-do-arrebatamento-e-demoniaca-em.html
http://www.respondi.com.br/2017/06/como-argumentar-com-quem-despreza-o.html
http://www.respondi.com.br/2010/10/existe-base-biblica-para-o.html
http://www.respondi.com.br/2009/03/o-primeiro-falar-do-arrebatamento-foi.html
http://www.respondi.com.br/2014/07/o-dispensacionalismo-tem-erros-graves.html
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)