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As doutrinas que voce professa foram inventadas no seculo 19?



https://youtu.be/LVwcMCpzBns

Você disse que assistiu vídeos e leu artigos de pessoas dizendo que essas doutrinas que eu e outros irmãos congregados somente ao nome do Senhor professamos, tipo arrebatamento, Igreja diferente de Israel, cidadania celestial, não existência de um clero, dispensações etc. teriam sido inventadas só no século 19. Segundo esses vídeos e artigos elas nunca teriam sido ensinadas pelos pais da igreja, escolásticos medievais, reformadores protestantes e muitos outros comentaristas.

Realmente, elas não foram mesmo ensinada por todos esses que você citou e que se situam na história no período que veio depois do tempo dos apóstolos. Existe um princípio importante ao qual pouca gente dá atenção e que foi ensinado pelo próprio Senhor Jesus. Talvez as pessoas fiquem tão concentradas no assunto ali, que era o do divórcio, que deixem passar o princípio. Existem coisas que na Bíblia são ensinadas por mandamento direto, outras que estabelecem um princípio que pode ser aplicado para diferentes questões. É o caso de Mateus 19:3-5:

"Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?"

A pergunta dos judeus tinha a ver com repúdio e divórcio, algo que Deus tinha feito vista grossa por causa da dureza do coração dos israelitas, mas Jesus coloca as coisas nos seus devidos lugares indicando o que eu chamaria de "princípio do princípio", ou seja, como era isso no princípio? Então se você quiser entender algo das Escrituras não convém recorrer aos autores e comentaristas do período que sucedeu ao dos apóstolos, e nem mesmo ao que os reformadores disseram, mas ir à fonte, "no princípio", que é justamente a doutrina dos apóstolos.

Minha filha, que mora nos Estados Unidos, decidiu vir ao Brasil com seu marido e filhos para levá-los conhecer Alto Paraíso de Goiás, o lugar onde ela foi concebida e também passou seu primeiro ano e meio de vida. Quando ela nasceu morávamos num sítio onde tínhamos feito uma casa, horta, aprisco, e algumas benfeitorias. Conseguimos chegar ao local, mas qual não foi minha surpresa ao descobrir que a casa não era a mesma que eu havia construído Havia outra a uns duzentos metros da original. A original tinha desaparecido.

Os moradores dessa casa tinham alugado o sítio de alguém, que tinha comprado o sítio da pessoa a quem originalmente eu tinha vendido. Um desses novos donos tinha minha casa por causa de uma infiltração no alicerce, e não só demoliu, como também passou uma máquina de terraplenagem no local para não deixar o terreno limpo para eventualmente plantar algo ali. Deu um bom trabalho descobrir alguns resquícios de alicerce e pedaços de blocos de concreto do lugar onde antes fora minha casa e agora era pasto.

Traçando na memória os limites da construção pedi para minha filha ficar bem no lugar onde tinha sido o quarto onde ela foi concebida, para registar o lugar do planeta onde há quase quarenta anos ela tinha passado a existir.

Casa original em 1980

Como encontrei em 2015. Existe uma árvore onde existia um banheiro.
Se eu dissesse a você que o sítio onde eu morava tinha uma casa branca e mais algumas coisas, e você fosse até lá visitar, voltaria dizendo que o sítio não é nada daquilo que descrevi. Então quando alguns falam que essas doutrinas teriam sido inventadas é porque o que visitou foi o que fizeram com "o sítio" os moradores que vieram depois.

As doutrinas não foram inventadas no século 19, elas foram resgatadas. Elas sempre estiveram na doutrina dos apóstolos, como também estava a doutrina da justificação pela fé que Lutero e outros resgataram no século 16, só que os "donos do sítio" passado com o trator por cima delas, demolindo algumas e cobrindo-as com o entulho de seus dogmas e tradições.

Quando os reformadores desentulharam a doutrina da justificação pela fé não existiam denominações, mas ao passarem a ser perseguidos pela Igreja Católica Apostólica Romana eles se abrigaram em países onde seus reis eram inimigos de Roma. Esses reis aproveitaram a oportunidade e foram criadas as igrejas nacionais, como Igreja da Suíça, Igreja da Hungria, Igreja da França, Igreja da Holanda, Igreja da Escócia e Igreja da Inglaterra (Anglicana), algumas independentes, outras tão sujeitas ao estado que têm o rei como cabeça da igreja.

É o caso da Inglaterra até hoje, onde a Rainha Elizabeth traz, dentre outros, o pomposo título de "Suprema Cabeça da Igreja da Inglaterra". Em certo sentido a história estava apenas se repetindo. Os reformadores se abrigaram sob a proteção de diferentes reis, fazendo da igreja uma subordinada do estado, mas isso já tinha acontecido séculos antes, quando os cristãos receberam de braços abertos o Imperador Constantino que os livrou das perseguições dos imperadores romanos que vieram antes dele.

Constantino tinha o poder de convocar concílios e participar deles. Ele disse aos bispos de então: "Vocês são bispos cuja jurisdição se limita à igreja, mas eu também sou um bispo ordenado por Deus para cuidar daqueles que estão fora da igreja". Qualquer bom entendedor saberia o que isto significava. Ele era a cabeça, não só da igreja, mas também os pagãos de seu reino. Foi assim que nasceu a Igreja Católica Romana no ano 325, quando Constantino convocou o Concílio de Niceia. Pinturas posteriores retratam Constantino em um lugar de destaque e cercado por bispos.

Se a Igreja Católica buscou, não apenas nos apóstolos, mas principalmente nos chamados "primeiros pais da Igreja", os bispos que vieram depois dos apóstolos, a fonte de suas doutrinas, o mesmo fizeram depois os reformadores. Estes, embora tenham desenterrado do entulho católico romano a doutrina da justificação pela fé e descartado outras inventadas pela igreja de Roma, se apegaram igualmente aos ensinos dos "primeiros pais".

Esses escreveram muitas coisas, mas não falaram dessas verdades resgatadas no século 19. Por que não? Porque Paulo avisou que seria assim, que ele partiria, que entrariam lobos no rebanho e homens que iriam distorcer a verdade para angariar discípulos. Não que todos fossem lobos, mas numa época quando a perseguição era constante, ficava fácil descartar algumas doutrinas consideradas de menor importância para apaziguar as diferentes facções que já começavam a surgir entre os cristãos. Paulo escreveu:

"Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um. Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados." (At 20:32).

Será que Paulo teria dito aos anciãos de Éfeso para que buscassem a verdade em alguém que viesse depois dos apóstolos? Não. A segurança deles estaria em buscá-la no Senhor e na Palavra de sua graça. A primeira geração logo após os apóstolos já começaria a arregaçar as mangas para dar início à terraplenagem do que tinha sido originalmente "a casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade." (1 Tm 3:15).

Mas já nos últimos dias do apóstolo Paulo na terra, por ocasião de sua segunda e última carta a Timóteo, o mesmo Paulo já descreve uma "casa de Deus" bem diferente. Não podia mais ser identificada como "coluna e firmeza da verdade", mas como "uma grande casa [onde] não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra." (2 Tm 2:20). Sim, já era um abrigo de vasos para desonra e de lá para cá só piorou. 

Quando você entende o caráter profético das sete cartas de Apocalipse, descobre que a primeira carta, que é escrita a Éfeso que representa o período imediatamente posterior à partida dos apóstolos, já fala daquela igreja como tendo abandonado o "primeiro amor" (Ap 2:4). Entre eles já havia homens "que a si mesmos se declaram apóstolos e não são" (Ap 2:2), e nem poderiam ser, porque certamente não tinham sido escolhidos pelo Senhor e andado com ele. Pedro e Judas também avisaram que entrariam esses que passariam a corroer a sã doutrina com suas heresias. (2 Pedro 2 e Judas 1).

Se continuar lendo as sete cartas de Apocalipse 2 e 3 irá identificar diferentes estágios da degradação do testemunho na terra até chegar a Filadélfia, que se destaca por fazer justamente o que o apóstolo ensinou que deviam ter feito desde o princípio: guardar a Palavra.

Portanto, não procure aprender verdades dos "pais da igreja" porque muitas foram demolidas por eles mesmos, que também construíram outras doutrinas que não passam no crivo das Sagradas Escrituras. Se quiser mesmo julgar o que eu e muitos irmãos costumamos dizer, que aprendemos de outros, principalmente de irmãos do século 19, volte ao princípio, às Escrituras, aos ensinos dos apóstolos, e verá que está tudo lá.

Se em poucas décadas meu sítio foi todo alterado e ficou irreconhecível até para mim, que viu seus dias no princípio, imagine o que fizeram com a doutrina dada à igreja depois de dois mil anos! E nem é preciso ir tão longe, pois já no tempo de Paulo ele fala de Himeneu e Fileto, que estava desviando a fé de alguns afirmando que a ressurreição já tinha acontecido. Depois vieram os que iriam negar a divindade de Cristo, outros sua ressurreição corpórea e assim por diante.

Portanto é um erro basear doutrinas naquilo que diziam os chamados “pais da igreja” ou “doutores da igreja”, bispos e autores dos primeiros séculos. Por mais coisas acertadas que possam ter ensinado, muitos erros vieram da pena desses mesmos homens. Além de Agostinho de Hipona, havia Ambrósio, Tomás de Aquino, Atanásio de Alexandria, Jerônimo, João Crisóstomo, Clemente de Alexandria, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Tertuliano, e outros.

Estes perderam de vista o caráter celestial, e não terreno, da Igreja, o que pode ser facilmente percebido na verdade dispensacional contida nas Escrituras. Até hoje os seguidores da Teologia do Pacto não discernem a diferença entre Israel e Igreja e atribuem a esta promessas que foram dadas ao povo terreno de Deus. Todavia, a vocação, ou chamado, da Igreja é celestial, o assento que lhe foi reservado é celestial, suas bênçãos, cidadania, esperança, herança e até mesmo seu combate são todos celestiais.

Quando isso foi perdido de vista os cristãos passaram a buscar um lugar e posição no mundo, fazendo da Igreja a principal conquistadora e opressora dos povos. A desculpa era de que o mundo precisaria ser conquistado pelo evangelho, sua população convertida e tudo deixado pronto para Cristo voltar e reinar. Porém não entendiam outra verdade preciosa, também resgatada no século 19, que era a da diferença entre o arrebatamento da Igreja e seu encontro com o Senhor nos ares, e a vinda de Cristo à terra para estabelecer seu reino.

Com o tempo a Igreja começou a se achar senhora dos cristãos e Cristo foi passado para um segundo plano em termos de autoridade. Não era mais ao Senhor e sua Palavra que os cristãos deviam se sujeitar, mas aos dogmas da "igreja" — entenda-se por "igreja" aqui um colegiado de homens e seus dogmas. De um povo em submissão ao Senhor, fizeram dos cristãos um povo em submissão a uma "senhora".


por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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