https://youtu.be/v_wYrRIwklQ
Não existe limite do quanto Deus pode mudar sua maneira de ser e pensar, depois que você aceita o Evangelho e crê em Jesus como seu Salvador. A principal e instantânea mudança é que você é tirado das trevas para a luz, e passa de escravo de Satanás a filho de Deus quando crê "em Cristo em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.". Foi isto que Paulo escreveu aos Efésios no capítulo 1 versículos 12 a 14 de sua carta.
Não se trata de uma evolução ou aprimoramento espiritual, mas de salvação eterna, imediata e radical. Você não acha que o salva-vidas iria esperar que o que está se afogando aprendesse a nadar para poder salvá-lo, não é mesmo? O que o salva-vidas faz é salvá-lo por reconhecer que não há nele forças ou capacidade de salvar-se a si mesmo. Portanto a principal e mais importante mudança de um pecador que crê em Cristo é a de posição — de perdido para salvo, de condenado para perdoado, de filho pródigo para filho abraçado, vestido, calçado e recebido com festa na casa do Pai.
Pense naquele conto de fadas em que a jovem pobre e oprimida se casa com o príncipe encantado. Se até ali ela tinha sido uma Cinderela, no dia seguinte ela é princesa. O nome "Cinderela" vem do inglês "cinder" que significa "cinza", e daí a versão portuguesa trazer Gata Borralheira, já que "borralho" significa cinzas ainda quentes e dizem que gatos gostam de se deitar sobre elas.
Talvez a jovem, que trabalhava de escrava de suas meia-irmãs, procurasse se sentar sobre cinzas mornas num canto da casa para se aquecer, e daí o nome. Curiosamente até na Bíblia uma pessoa que se assenta nas cinzas é alguém passando por uma grande tribulação, como Jó, que em seu sofrimento "estava assentado no meio da cinza." (Jó 2:8). Entra em cena o príncipe encantado, que no caso do pecador é ninguém menos que o Filho de Deus, Cristo Jesus o Senhor. E tudo muda.
Obviamente essa mudança, que começa no interior, irá pouco a pouco se manifestar também no exterior. Não é a mudança que transforma alguém perdido em salvo, a fé em Cristo. A mudança é mera evidência de que o Espírito Santo veio habitar naquela pessoa que agora é vista por Deus como estando em Cristo. Você se lembra da passagem de Efésios que citei no início? Paulo diz que eles, os efésios, estavam em Cristo depois de terem ouvido a palavra da verdade, o evangelho da salvação e, tendo crido nesse evangelho que fala da morte e ressurreição de Jesus, foram selados com o Espírito Santo, que é a garantia de sua redenção.
Comigo não foi diferente. Depois de passar alguns anos mergulhado em religiões e filosofias orientais, e em movimentos de contracultura dos anos 60 e 70, Cristo me encontrou, não só pecador perdido, mas simpatizante e ativista de ideias ambientalistas radicais contra o progresso e as tecnologias. Eu achava que se todo mundo fosse viver no mato para plantar sua própria comida o mundo seria melhor. Na minha ingenuidade pueril eu não entendia que não haveria mato para todo mundo e nem fazia ideia do que significa o termo "economia de escala". Você não sabe? Vou explicar.
Imagine se cada família que cantasse "Eu quero uma casa no campo" conseguisse viver plantando sua horta e fazendo o seu pão. Lindo, não é? Parece a opção mais saudável, ecológica e ambientalmente correta, não parece? Porém problema ambiental que isso causaria seria enorme. Você precisaria fazer estradas para chegar a todas essas casinhas no campo, e estradas reduzem a vegetação, aumentam a temperatura, impermeabilizam o solo e causam enchentes. Também teria de levar canos de água, gás e cabos de eletricidade até cada uma dessas casinhas, pois não iria esperar que as pessoas cortassem árvores para cozinhar a lenha, não é mesmo? Aí você ligaria seu forno para assar um pão como fariam todos os dias os novecentos e noventa e nove vizinhos de sua área rural.
Agora imagine empilhar mil num grande condomínio vertical. A estrada pavimentada só precisaria chegar a um ponto, porque daí em diante as pessoas viajariam de elevador. Os canos e cabos também só iriam até ali e depois subiriam para cada unidade. Plantar a própria comida pode ser romântico, mas pegar na enxada eu descobri logo que não era nem um pouco, e muito menos eliminar as lagartas de minha couve. E eu nem conseguia ter a variedade que posso encontrar em qualquer mercadinho de esquina. Aí entra a agricultura em larga escala para resolver tudo isso.
Ah, quase ia me esquecendo do pão no forno. Pois é, economia de escala também significa ter uma pessoa para fazer pão para mil pessoas — chamamos isso de padaria — gastando a energia para acender apenas um forno, ao invés de ocupar mil pessoas para fazer cada um o seu próprio pão e gastar energia de mil fornos. A diferença é a mesma entre transportar pessoas uma a uma em mil carros ou transportar mil pessoas num trem ou metrô.
Convertido e formado arquiteto, mas ainda com o exterior de "bicho grilo" reacionário e ingênuo para essas realidades que mencionei, larguei o estagio onde trabalhava e parti para morar no mato em Alto Paraíso de Goiás. Lá tentei colocar em prática todas as teorias que tinham feito minha cabeça, só para descobrir que, na prática, a teoria é outra. Então lá estava eu um belo dia, morando "numa casa no campo", com água pura e cristalina, comendo verdura orgânica e ovos galados, mas desejoso de falar de Cristo a mais seres vivos do que apenas minhas galinhas, cachorros e cabras.
Recebi, de um irmão em Cristo que havia conhecido depois de minha conversão, uma carta contendo o poema em inglês "Obedience" ("Obediência") de George MacDonald, um pregador escocês que viveu no final do século 19 e início do século 20. Ele era meu principal correspondente e confidente e sabia de como faltava uma peça em meu quebra-cabeças, que era tentar reconciliar minha fé cristã e desejo de evangelizar, com uma existência isolada como aquela no meio do mato de um município de três mil habitantes, com apenas setecentos deles morando na cidadezinha de Alto Paraíso onde eu servia de professor.
Aquele poema puxou o que ainda restava do tapete de crença em um mundo melhor que ainda existia sob meus pés, e mostrou que Deus precisava de mim em outras paragens. Naquele dia decidi sair do mato, e aqui faço uma tradução livre do poema, sem me preocupar com as rimas, e sim com o conteúdo. Se quiser você encontra em meu site "O que respondi" o texto original inglês.
OBEDIÊNCIA
George MacDonald
Eu disse: “Deixe-me caminhar nos campos!”
Deus disse: “Não, caminhe na cidade!”
Eu disse: “Mas ali não há flores...”
Ele disse: “Não há flores, mas uma coroa”.
Eu disse: “Mas o céu ali é escuro,
Não há nada além de barulho e confusão”
Mas Ele me interrompeu com um suspiro:
“Ali há mais, ali há pecado”.
Eu disse: “Mas o ar é poluído,
E a fumaça esconde o sol”.
Ele respondeu: “Mas as almas estão doentes,
E perdidas nas trevas”.
Eu disse: “Vou sentir falta da luz,
E os amigos sentirão minha falta”.
Ele respondeu: “Escolha esta noite,
Se é para eu ou eles sentirem sua falta”.
Pedi por mais tempo para resolver,
Mas Ele disse: “É difícil decidir?
Não parecerá difícil no céu
Se seguir minha direção”.
Lancei um olhar aos campos,
Então me voltei para a cidade;
Ele disse: “Filho, você vacila?
Em trocar as flores pela coroa?”
Então Sua mão pegou a minha,
E em meu coração Ele entrou;
E hoje caminho numa luz divina,
Na senda que antes temia olhar.
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George MacDonald
"I said: 'Let me walk in the field;'
God said: 'Nay, walk in the town;'
I said: 'There are no flowers there;'
He said: 'No flowers, but a crown.'"
"I said: 'But the sky is black,
There is nothing but noise and din;'
But He wept as He sent me back,
'There is more,' He said, 'there is sin.'"
"I said: 'But the air is thick,
and fogs are veiling the sun;'
He answered: 'Yet souls are sick,
And souls in the dark undone.'"
"I said: 'I shall miss the light,
and friends will miss me they say;'
He answered me, 'Choose tonight,
If I am to miss you, or they.'"
"I pleaded for time to be given;
He said: 'Is it hard to decide?
It will not seem hard in Heaven,
To have followed the steps of your Guide.'"
"I cast one look at the fields,
Then set my face to the town;
He said: 'My child, do you yield?
Will you leave the flowers for the crown?'"
"Then into His hand went mine,
And into my heart came He;
And I walk in a light Divine,
The path I had feared to see."
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
