https://youtu.be/ISqZf_7Za0Y
Você escreveu perguntando quais seriam as boas obras que Deus preparou para andarmos nelas, conforme a passagem em Efésios 2:8-10: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.".
Pela passagem já fica muito claro que a salvação não é por obras, mas pela fé, e até mesmo essa própria fé é uma dádiva que vem de Deus. Ou seja, nada — absolutamente nada — vem do homem quando o assunto é ser perdoado de seus pecados, liberto do juízo divino e destinado ao céu. É só depois de salvos que temos as mãos limpas para fazer qualquer obra para Deus, porque antes disso nada que venha de nossa carne pode ser aceita por ele.
"Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele." (Rm 8:5-9).
Perceba que isso divide o ser humano em dois momentos: Antes e depois de sua salvação, quando aos olhos de Deus ele já está no Espírito e tem o Espírito de Cristo habitando em si. Caso contrário ele nem é de Deus. E quando é que recebemos o Espírito Santo? "Em Cristo, em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa." (Ef 1:12-13).
Você não pediria ao seu filho pequeno para fechar as cortinas da sala com aquelas mãos sujas que ele trouxe do quintal onde brincou com barro, pediria? Por isso mesmo primeiro precisamos ser lavados de nossos pecados por sangue, pois "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 Jo 1:7), para só então estarmos capacitados a fazer algo para Deus, e isso não visando a salvação, ou estaríamos barganhando com ele.
Tendo isto em mente, a principal boa obra que alguém pode fazer para Deus, e como consequência do perdão e de uma salvação já consumada, é a ocupação com Cristo em gratidão e adoração. É o que vemos Maria fazendo nesta passagem:
"Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento. Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava. Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes. " (Jo 12:2-8). Marcos registra, em seu evangelho, uma frase a mais de Jesus: "Ela fez-me boa obra." (Mc 14:6).
Embora nos outros evangelhos todos os discípulos parecem se queixar, a reclamação partiu principalmente de Judas. Os "Judas" deste mundo sempre irão considerar a ocupação com Cristo um desperdício de tempo, dinheiro e capacidade. Somente Deus pode entender e avaliar o que é uma boa obra aos olhos dele, porque estará vendo o coração de quem a praticou, se a fez de livre vontade para o Senhor, ou se foi com vistas a receber algum benefício ou recompensa de Deus.
Na carta a Timóteo Paulo descreve como boas obras o criar filhos, ser hospitaleiro, lavar os pés aos santos e socorrer os aflitos. "Tendo testemunho de boas obras: Se criou os filhos, se exercitou hospitalidade, se lavou os pés aos santos, se socorreu os aflitos, se praticou toda a boa obra." (1 Tm 5:10). Lavar os pés era um ato importante de hospitalidade nos tempos dos apóstolos nas cidades poeirentas da Judeia, mas também podemos entender isso no sentido espiritual, que é o de ajudar a eliminar a poeira das coisas mundanas que vão se acumulando em nós. Aí entra o ministério de algum irmão e nos sentimos lavados e refrigerados.
Aos Tessalonicenses Paulo escreve associando a boa palavra como sendo uma obra, mais uma vez mostrando o caráter de boa obra que tem o ministério. Inclua-se aí nossa comunicação individual com as pessoas para trazer salvação, conforto e graça aos corações. "E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra." (2 Ts 2:16-17).
Aos Coríntios Paulo escreveu associando as boas obras às ofertas em favor dos santos, mostrando como podemos converter nossos recursos materiais para o benefício dos irmãos e para a glória de Deus.
"Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça;para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a Deus." (2 Co 9:7-11).
Em Lucas 16 o "senhor" do mordomo infiel elogia a astúcia do mordomo, que usou as "riquezas da injustiça" (o dinheiro), não para benefício próprio, mas para o benefício de outros que no futuro receberiam o mordomo nos tabernáculos eternos. O sentido aí é de como podemos usar o que não é nosso (nosso dinheiro e bens, que pertencem a Deus) para granjear amigos (levar pessoas à salvação) a fim de termos muitos com quem nos encontrarmos na glória.
Talvez aqui você pergunte qual seria então a razão de Cornélio, um homem ainda inconverso, ter suas orações e boas obras lançadas na memória de Deus. No capítulo 10 de Atos vemos que havia um "homem por nome Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus. Este, quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e dizia: Cornélio. O qual, fixando os olhos nele, e muito atemorizado, disse: Que é, Senhor? E disse-lhe: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus" (At 10:1-4).
Cornélio era um prosélito, que significa um gentio convertido ao judaísmo, mas ainda não conhecia a Jesus como seu Salvador. Ele teria de escutar da boca de Pedro a clara mensagem de que "Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele... ao qual mataram, pendurando-o num madeiro. A este ressuscitou Deus ao terceiro dia... e nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome." (At 10:38-45).
Assim que terminou sua mensagem evangelística, que deve necessariamente trazer quem é Jesus, que foi morto na cruz, ressuscitou ao terceiro dia e voltará como Juiz dos vivos e dos mortos, "dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios." (At 10:44-45).
Agora sim podia-se considerar que Cornélio tinha sido salvo. Mas e antes, quando suas obras subiam em memória diante de Deus, que chamava Cornélio de "piedoso e temente a Deus"? Bem, ele era um homem nascido de novo e, por assim dizer, já tinha sido colocado na esteira rolante, por assim dizer, para as próximas etapas que seriam crer no evangelho e receber o Espírito Santo. O que vou dizer a seguir ajudará você a compreender isso.
Paulo escreveu aos cristãos de Filipos falando da boa obra que Deus tinha começado a fazer neles.Vale lembrar que a Igreja dos Filipenses começou a partir da conversão da comerciante Lídia e do funcionário público e carcereiro em Atos 16. Aquela assembleia pode ter incluído entre seus congregados a serva liberta de demônio, e obviamente Deus iria trabalhar naquelas pessoas nas quais ele próprio tinha começado uma boa obra, a fim de deixá-las prontas para o dia de Cristo. Uma passagem em Filipenses e outra em 1 João explicam isso:
"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo." (Fp 1:6) e "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos." (1 Jo 3:2).
Mas se somos completamente salvos no momento em que cremos em Cristo e recebemos o selo do Espírito em nós, que processo é esse dessa boa obra que Deus começa em nós e pretende aperfeiçoar? Pense num bebê: você cuida dele e vai dando leite, depois mingau, depois alimento sólido, à medida que ele vai crescendo e se fortalecendo física e intelectualmente. Ao mesmo tempo você começa a desfrutar de uma comunhão e companhia cada vez maior com ele, e assim é nosso crescimento com Deus.
Quando somos recém convertidos ainda não entendemos muita coisa que Deus nos diz em sua Palavra, e por isso nossa comunhão também é mais infantil, e ele nem pode se aprofundar nos assuntos que deseja nos mostrar, porque ainda não correspondemos com o entendimento e a apreciação que ele gostaria de ver em nós. À medida que crescemos no conhecimento de Cristo temos, por assim dizer, "mais assunto" para conversarmos com o Pai. Então uma boa obra é também alimentar nossos irmãos para que eles tenham "mais assunto" para sua comunhão com o Pai. Isso é feito através dos dons que Cristo deu à Igreja.
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo." (Ef 4:11-15).
Se você entendeu que sua salvação começou no novo nascimento, como foi o caso de Cornélio, se completou com o selo do Espírito Santo, e que agora Deus está trabalhando em você para que chegue "ao conhecimento de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo", espere porque ainda tem mais. Na verdade ela não começou no novo nascimento mas muito tempo antes. Sua salvação começou na eternidade, quando Deus quis salvar você e pintou um alvo em seu coração que na ocasião ainda nem existia.
Isto porque ele "nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado... Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo." (Ef 1:4-6, 11-12).
Depois de saber de tudo isso você não iria ousar dizer que é por alguma obra sua que Deus será obrigado a lhe dar a salvação, não é mesmo? E também não se vangloriará de, mesmo depois de salvo, fazer alguma obra para Deus porque irá reconhecer que "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." (Fp 2:13). No final, ele irá recompensar os que fizeram boas obras segundo os critérios deles e guiados pelo seu Espírito, mas estes reconhecerão que não terão tido participação nelas, e que foram apenas instrumentos nas mãos do Senhor. É por isso que vemos esta cena futura que é tão comovente:
"Os vinte e quatro anciãos" — que representam todos os redimidos — "prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas." (Ap 4:10-11).
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)