https://youtu.be/SdwoMVSOZ4I
Você questionou a esperança da vinda do Senhor para buscar sua Igreja como algo imediato, e o fato de eu ter dito que em 1 Tessalonicenses 4 Paulo se incluía entre os que aguardavam pelo arrebatamento a qualquer momento. Se Paulo, e também Pedro, foram avisados depois que morreriam, como poderiam esperar pelo arrebatamento?
É importante que você entenda que a esperança do cristão não está na esperança, não está nos eventos proféticos. A esperança do cristão está na Pessoa da qual a profecia fala: Cristo. “Porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.” (Ap 19:10). Não esperamos a esperança; esperamos a Cristo. Mas o que seria esperar a esperança? Seria esperar pelo cumprimento da promessa da vinda do Senhor para nos buscar no arrebatamento, o que é um foco errado.
Não devemos colocar nossa esperança na esperança ou promessa. A nossa esperança tem o foco na Pessoa, porque se a esperança do cristão for a promessa de que Cristo vem nos buscar a qualquer momento, ele estará pensando em si mesmo, nas vantagens que obteria com essa vinda, no seu desejo de sair desse mundo e se livrar de seus compromissos e dificuldade, e não necessariamente naquilo que é também o desejo do Senhor.
Quando Jesus orou pelos seus, ele disse, “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (Jo 17:24). Percebe que o desejo dele era estar com os seus onde ele estivesse, independente do lugar? O desejo dele são os seus, e o desejo dos seus deveria ser somente ele.
Não tenho dúvidas de que quando Paulo escreveu a primeira Epístola aos Tessalonicenses ele estava se colocando entre eles, com uma mesma esperança imediata de se encontrar a qualquer momento com o Senhor nos ares. Ele incluía a si mesmo nessa esperança. Isso fica bem claro no versículo 17 do capítulo 4 de 1 Tessalonicenses, ao dizer: “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.”. A expressão “nós, os que ficarmos, seremos arrebatados” não deixa dúvida quanto à sua certeza.
Pedro devia pensar o mesmo, mas então descobrimos que dez anos mais tarde ele seria avisado que iria morrer, como ele próprio diz em 2 Pedro 1:14: “Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado.”. Aí surge a questão que gerou sua dúvida: Se Pedro estava sendo avisado de que iria morrer, então ele não poderia ter esperando pelo arrebatamento a qualquer momento. A carta de Paulo aos Tessalonicenses foi escrita no ano 52 ou 54 e a segunda carta de Pedro no ano 64, ou cerca de dez anos depois.
Paulo também foi avisado de que iria morrer, quando em 2 Timóteo 4:6-8 diz: “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.”. Paulo teria escrito esta segunda epístola a Timóteo entre os anos 61 e 65, mais ou menos na mesma época em que Pedro foi avisado de que morreria.
Considerando tudo isso, e que Paulo teria dito no capítulo 4 de 1 Tessalonicenses que estaria entre os arrebatados, e isso no final do ano 52, como ficaria essa esperança de que o Senhor poderia voltar a qualquer momento? Isto porque hoje sabemos que nos dez anos seguintes ao que Paulo escreveu aos Tessalonicenses, se incluindo entre os que aguardavam, isso não aconteceria, pois tanto ele quanto Pedro deixariam de esperar pelo arrebatamento para esperar pela morte.
Vale aqui uma observação: Um crente em Cristo, quando é avisado pelo médico que irá morrer nas próximas horas, deixa de esperar pelo Senhor? Não, porque o foco de sua esperança não muda, apenas o meio de sua realização. O Senhor esperado no arrebatamento será o mesmo Senhor que eventualmente venha buscá-lo pela morte. É como aquela garantia quando você compra um carro: um ano ou dez mil quilômetros, o que ocorrer antes. Foi por isso que eu disse que a esperança de Paulo, de Pedro e de qualquer cristão deve ser no Senhor, e não na esperança, independente se esta se realize em "um ano ou dez mil quilômetros".
Podemos aplicar a mesma indagação e raciocínio quando lemos as sete cartas às sete igrejas de Apocalipse capítulos 2 e 3. Quem hoje lê e entende que elas têm também um caráter profético, revelando sete estágios sucessivos do testemunho cristão na terra através dos tempos, poderia igualmente indagar: Se João estivesse escrevendo o livro de Apocalipse na certeza de que Jesus poderia voltar a qualquer momento para leva-lo no arrebatamento, como poderia conciliar essa esperança com o fato de que a igreja ainda passaria séculos na terra e por diferentes estágios?
João provavelmente leu a epístola aos Tessalonicenses e tinha a mesma esperança de Paulo e de Pedro, de ser tirado da terra a qualquer momento no arrebatamento, pois esta é a esperança que convém aos santos. Quando Pedro e Paulo morreram muitos tinham escutado aquela mesma exortação de Paulo aos Tessalonicenses, de que Cristo viria a qualquer momento, entenderam que para Paulo ou Pedro essa expectativa tinha perdido o efeito. O arrebatamento não tinha se cumprido para Pedro e Paulo, porque para eles restaria agora aguardar a ressurreição, que foi a primeira parte da revelação que o Espírito Santo havia dado a Paulo.
Mas se atentar bem verá que tanto uma como a outra parte da profecia não foi dada para mortos, pois eles já estão com o Senhor, mas para os vivos. Primeiro para que não ficassem tristes pelos que já partiram, e depois para que eles próprios ficassem na expectativa da vinda do Senhor no arrebatamento a qualquer momento, pois essa expectativa continuava valendo para os vivos.
"Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (1 Ts 4:13-17).
Percebe a cláusula da promessa? “Nós, os que ficarmos vivos”. Então esta não vale para mortos, porque para estes o que vale é a promessa da ressurreição dos versículos anteriores.
Quanto às sete cartas de Apocalipse, é provável que nem mesmo João, que recebeu a revelação, entendesse perfeitamente o que escrevia, pois escrevia de um ponto de observação diferente daquele em que estamos hoje quando lemos essas cartas. O foco da esperança de João — Cristo — continuava o mesmo, e a esperança também, de ir ao encontro do Senhor a qualquer momento estando vivo. Como a promessa era para os vivos, e ele estava vivo, ela valia para ele também até o momento de sua morte, caso esta ocorresse antes.
O fato de João escrever sem entender o que escrevia não deve ser motivo de espanto, pois nem todos profetas entendiam o que escreviam. Pedro escreveu sobre isso:
“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pe 1:10-12).
O mesmo aconteceu quando Deus deu a Daniel uma profecia no último capítulo de seu livro e disse: “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo... Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim.” (Dn 12:4-12). Daniel morreria antes de entender o que significava a profecia que ele próprio tinha recebido, pois ela tinha sido selada ou fechada para um tempo posterior.
Algo semelhante acontece quando Pedro indaga do Senhor o que seria de João, e o Senhor mostra que existem coisas que são individuais no modo de Deus tratar com cada um: “E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?” (Jo 21:20-23).
Provavelmente Pedro nunca soube o que Jesus quis dizer com aquilo, mas hoje temos o privilégio de saber que a João seria dada a revelação do Apocalipse, que fala das coisas, do "até que eu venha" que Jesus mencionou. A revelação foi dada a João em três partes: "Escreve as coisas [1] que tens visto, [2] e as que são, [3] e as que depois destas hão de acontecer." (Ap 1:19). "As coisas que tens visto" incluíam primeiramente a visão que ele teve do Senhor como o Filho do Homem em roupagem de Juiz, e também tudo o que lhe foi revelado em forma de visão carregada de elementos simbólicos, a maioria deles indecifráveis para João.
As coisas "que são" eram aquelas que João podia ver em seu tempo, como eram as sete igrejas físicas da Ásia que ele talvez até tivesse visitado e poderiam estar passando por dificuldades que poderiam ser atendidas pelas exortações dadas a cada uma. Mas a João e aos de seu tempo, o entendimento do caráter profético dessas igrejas não estava disponível como para nós está, por não se tratar mais de profecia, mas de história.
A terceira parte da revelação, que é porção que para nós ainda não está totalmente aberta ao entendimento, começa no primeiro versículo do capítulo 4: "Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer.". Nós desfrutamos dessa parte e até podemos compreender muitas coisas pela direção do Espírito e pela comparação com outras Escrituras, mas nem tente calcular o número da besta, porque os que estiverem na terra nesse tempo é que saberão discernir.
Portanto é neste sentido que João ficaria até a vinda de Jesus para reinar, conforme o Senhor dissera a Pedro no capítulo 21 do Evangelho de João, pois é o livro de Apocalipse, que João escreveu, o desfecho de tudo o que disseram os profetas do Antigo Testamento acerca do "testemunho de Jesus (que) é o espírito de profecia" (Ap 19:10).
Outra exemplo de profecia não entendida no momento em que foi revelada, mas só depois de cumprida, é o que Jesus diz em Marcos 9:1: “Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o reino de Deus com poder.” Os discípulos não precisaram esperar muito para entender aquilo, pois não demorou para três deles serem introduzidos numa fresta no tempo e contemplarem a Cristo transfigurado em glória com dois de seus santos numa visão do que seria o Reino. Mas mesmo ali Pedro parece não ter compreendido o que viam.
"E seis dias depois Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago, e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte; e transfigurou-se diante deles; e as suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra os poderia branquear. E apareceu-lhes Elias, com Moisés, e falavam com Jesus.” (Mc 9:2-4).
Quando vemos essas coisas, ao invés de pensarmos em falhas ou erros das Escrituras, devemos entender que AQUELE que é nossa esperança permanece firme, independente da maneira como seremos levados a ele. E deve ser assim, pois desde a revelação do mistério, feita a Paulo no capítulo 4 da carta aos Tessalonicenses e também em 1 Coríntios 15, um cristão podia aguardar para qualquer momento o seu Senhor vir buscá-lo e seu corpo ser transformado.
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." (1 Ts 4:16-17; 1 Co 15:51-52).
Outra dificuldade que os apóstolos passavam quando o Senhor lhes ensinavam nos Evangelhos é que, embora muita coisa tinha a ver pessoalmente com eles naquele momento, outras tinham a ver com eles, mas não pessoalmente, e sim como representando um remanescente judeu que ainda irá surgir.
Por exemplo, quando o Senhor lhes dizia: “Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.” (Mt 19:28). Eles pensavam que isso aconteceria ainda no período de vida deles, mas hoje sabemos que não, que ainda viria um período de mais de dois mil anos da Igreja na terra antes da manifestação do Reino. Este é o segredo da profecia: nós não enxergamos a imagem toda, apenas parte dela. Alguém definiu a profecia como alguém olhando do pico de uma montanha a paisagem no horizonte. Ele vê muitos picos de muitas montanhas, mas não consegue ver os imensos vales existentes entre elas.
Deus nos dá um foco e nos dá uma certeza e nos dá uma Pessoa, que é Cristo, em quem concentrarmos a nossa esperança. Mas, como acontecia com os discípulos naquele momento dos Evangelhos, eles eram representantes de um remanescente que viria depois, que seria levantado muito tempo depois. Por isso, quando no versículo 34 de Lucas 18 lemos que “eles nada disto entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia”, percebemos que muitas coisas que eles escutavam só iriam entender depois, quando o Espírito Santo viesse habitar neles e dar o entendimento dessas coisas. Jesus avisou que seria assim: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.” (Jo 16:12-13).
Mas ainda que muitas coisas eles iriam entender mais tarde, outras continuariam para eles uma incógnita, pois ainda não teria chegado o momento certo para que entendessem. Por exemplo, hoje olhamos para trás e sabemos que as sete cartas ás sete igrejas de Apocalipse capítulos 2 e 3 representam sete períodos da história da cristandade.
A epístola é a mesma que os primeiros cristãos leram, mas é aí que entra o aspecto dinâmico da profecia. No mesmo sentido, a experiência que Saulo teve no caminho para Damasco, quando o Senhor lhe apareceu, era uma única e mesma experiência. Mas repare que a cada vez que ela é contada alguma coisa muda ou é acrescentada.
"E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 9:3-4).
"Ora, aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu. E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 22:6-7).
"Ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões." (At 26:13-14).
Percebeu que "um resplendor de luz do céu" virou "uma grande luz do céu" e finalmente "uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol" ? Essa é a maravilha da profecia, que produz em nós uma apreciação cada vez maior, como foi a apreciação crescente que Paulo teve da experiência de sua conversão. "A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." (Pv 4:18).
Por causa desse aspecto dinâmico da profecia e de como ela se apresenta para cada pessoa vivendo em cada momento da história é que hoje podemos olhar para trás e sabermos que estamos vivendo no último período das sete cartas de Apocalipse, que é o que representa a carta de Laodiceia. Esse período começou por volta da metade do século 19, logo depois do período que equivale a Filadélfia, quando foram restauradas muitas verdades que estavam enterradas em séculos de erros doutrinários católicos e protestantes.
Então na metade do século 19 mais uma vez entrou a ruína por meio de divisões, abandono de verdades preciosas e introdução de má doutrina. Por isso desde a metade do século 19 podemos dizer que vivemos todos no período de Laodiceia, a última fase do testemunho cristão na terra. De nosso privilegiado ponto de observação podemos olhar para trás e dizer: “Ah então é assim, foi isso que aconteceu”.
Lemos em Lucas 18:31: “E, tomando consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito”. Os discípulos devem ter pensado que era naquele momento que os romanos seriam expulsos da terra e Cristo estabeleceria o seu Reino. Mas então vem, na sequência, “pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido; e, havendo-o açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará.” (Lc 18:32-33). Pronto, agora eles já não entendiam mais nada, “e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia.” (Lc 18:34). Naquele momento não lhes era possível entender isso, mas haveria um momento quando entenderiam.
Mesmo quando Jesus usa o verbo “salvar” para seus discípulos nos Evangelhos, essa não é sempre a salvação no sentido eterno que hoje conhecemos, mas uma salvação no contexto judaico, a salvação do corpo. Isto porque a esperança do judeu era a de habitar na terra, e seria preciso que ele estivesse vivo e a salvo em seu corpo natural para poder entrar no reino de Cristo na terra.
É bom lembrar que “Reino” não é sinônimo de “céu”. Quando o ladrão na cruz disse, “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23:42), ele estava pensando no Reino terrestre de Cristo e em sua manifestação aqui na terra. Porém o Senhor lhe respondeu, “Em verdade te digo que hoje estarás comigo...” — no Reino? Não. — “... no Paraíso.” (Lc 23:43), algo que para o malfeitor convertido não fazia muito sentido porque aquele não era ainda seu momento de entender as coisas celestiais.
Nos versículos 28 ao 30 do capítulo 18 de Lucas temos algo que valia para os discípulos naquele momento, valeria depois para os cristãos em sua própria época, e irá valer também para o remanescente judeu que irá se levantar depois do arrebatamento da Igreja. Ali Pedro comenta: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. E ele [Jesus] lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna.”
Hoje, quando viajamos para pregar o evangelho e visitar irmãos, descobrimos que temos muitas casas, muitos pais, muitos filhos, muitos irmãos, muitas irmãs nos lugares por onde passamos. São aqueles que são de Cristo e que nos recebem, nos hospedam, nos dão alimento para o corpo e para o espírito. No momento que Jesus fez essa revelação ela pode não ter feito muito sentido para Pedro e os outros discípulos.
Outra coisa importante de se entender neste contexto é que a profecia é muito mais ampla do que a visão estreita com a qual nós olhamos para ela. É o caso de quando ela fala do cristão em conexão com a manifestação de Cristo, que é quando ele vem para estabelecer o seu Reino na terra. Alguém poderia perguntar: “Estamos esperando pela manifestação de Cristo ou pelo arrebatamento da Igreja que acontecerá pelo menos sete anos antes?”. Na verdade estamos esperando pela manifestação de Cristo, porque esta é a esperança dele também.
Existe um versículo em 1 Coríntios 1:7-8 que diz assim: “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.”. Existem outras passagens também que falam do dia de Cristo, e isso relacionado não exatamente a judeus ou ao remanescente, mas a cristãos. O que nós temos a ver com o dia de Cristo?
Tudo, pois na realidade quando o Senhor vier no arrebatamento para tirar a Igreja da terra, para Cristo a história ainda não terá terminado. Considerando que nós temos essa intimidade, essa conexão tão grande com ele, não aguardamos apenas pelo encontro com ele no arrebatamento, pois se assim fosse seria um sentimento egoísta, como se nosso único interesse estivesse em resolver o nosso problema aqui e nem querer saber do que virá.
Mas a agenda de nosso Senhor não se limita a isso. Ela ainda inclui o dia em que ele virá em majestade, poder e glória para reinar nesse mundo. Se é este o anseio de nosso Senhor, deve ser também este o anseio de cada crente, ainda que nós saibamos que pelo menos sete anos antes de isso acontecer nós seremos tirados da terra. É preciso lembrar que a Igreja não é o único povo que ele ama, mas tem também Israel, ao qual ele irá cumprir todas as promessas que fez no Antigo Testamento e se encontram em suspense. O apóstolo Paulo fala disso em Romanos:
"Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados." (Rm 11:25-27).
Uma vez alguém perguntou se minha meta é ir para o céu, e respondi que não. Não é o céu que almejo. Então dei um exemplo assim: Digamos que eu fosse gerente do Teatro Municipal de São Paulo, onde ira acontecer um grande evento de dois dias com a apresentação de um cantor famoso na primeira noite. Um amigo meu fica sabendo desse evento, sabe que sou gerente ali, e me liga pedindo para eu conseguir um ingresso para o evento do Teatro Municipal. Respondo que sim, que já consegui o ingresso para a segunda noite do evento no Teatro. Mas não é isso que meu amigo quer, pois o Teatro Municipal ou qualquer evento ali sem o seu cantor predileto não serve.
Assim deve ser também a expectativa do cristão, não de ser tirado da terra a qualquer momento, não de entrar no céu a qualquer momento, mas de estar com Cristo. Estar com Cristo, porque se Cristo não estiver no céu o que iríamos fazer ali? É a Pessoa de Cristo que esperamos, não algum evento ou lugar. “O testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap 19:10). Não é o testemunho do evento do arrebatamento, o testemunho da Igreja, o testemunho da libertação dos judeus, nada disso é o ponto central da minha esperança, mas Jesus, em qualquer que seja o testemunho.
Em toda a Bíblia é Cristo sempre o centro, e a Cristo que os cristãos são congregados quando ao nome do Senhor. Portanto é na expectativa de Cristo que o cristão deve viver, independente se vai levar dez minutos ou dez anos para vê-lo, não importa, pois será no momento em que ele virá nos buscar para com ele subirmos, depois com ele descermos para estabelecer o seu Reino, depois com ele seguirmos por toda a eternidade.
Alguém me perguntou se estaria errado desejar a morte, e respondi que muitos santos na Bíblia desejaram a morte em momentos de grande estresse, mas nem por isso atentaram contra a própria vida. Desejar a morte é um desejo egoísta, é não se interessar em saber a razão de o Senhor querer que estejamos aqui, e qual o serviço ou testemunho que ele tem para nós.
Se nossa expectativa for a morte e ressurreição, ou a transformação de nosso corpo no arrebatamento, porque com isso iremos nos livrar de nossos problemas, dores e aflições terrenas, essa expectativa será demasiadamente rasa, será egocêntrica. Estaremos dizendo: “O importante sou eu, o meu bem estar, a minha vida”. Mas deveríamos dizer como Paulo dizia:
“Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé.” (Fp 1:20-25).
Assim como Paulo, minha expectativa deve que o viver é Cristo e o morrer lucro, ou seja, se meu viver for de alguma utilidade quero viver para Cristo, mas caso contrário quero partir para estar com Cristo, pois isso é ainda melhor.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)