https://youtu.be/e1azbin_Hkg
Em nenhum lugar da Bíblia diz que devemos ser fiéis até a morte para receber a vida eterna. Se fosse assim poderíamos nos gloriar de termos sido salvos por nossos esforços e fidelidade, e a morte de Cristo teria sido em vão. Para que precisaríamos de um Salvador se nossa fidelidade poderia nos levar até lá? A Palavra de Deus é bem clara em mostrar que a salvação se recebe por graça somente, e isso vale tanto para o crente fiel até a morte (os mártires) como para qualquer outro.
Quando perguntou talvez você tenha pensado em algum ensino errôneo que recebeu em alguma igreja, pois muitos pregadores falam que a salvação se recebe por esforço, por perseverar até o fim, por não pecar etc. Desconhecem a graça de Deus e a verdade claramente indicada em várias passagens, como estas: "Ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça." (Rm 4:5); "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom [presente] de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." (Rm 2:8-9); "Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida." (Jo 5:24).
Provavelmente você estava se referindo à "coroa da vida" citada nesta passagem de Apocalipse 2:8-11: "E ao anjo da igreja que está em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu: Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte.".
No contexto o Senhor está se dirigindo à "igreja que está em Esmirna", e isso pode ser considerado em mais de um aspecto. Um é o mais direto, que tinha a ver com alguma assembleia congregada em Esmirna quando o apóstolo João recebeu a revelação, e poderia estar passando por problemas semelhantes aos que são relatados na passagem. Outro aspecto é o profético e dispensacional, e neste caso Esmirna representa a Igreja em um período de grande perseguição que veio após a morte dos apóstolos e o declínio dos cristãos em seguirem a sã doutrina. O livro "Church History" ou "A História da Igreja" de Andrew Miller diz:
Pode-se dizer que a condição "efesiana" da igreja - isto é, a condição da igreja sob a luz da carta à igreja de Éfeso (Apocalipse 2:1-7) - terminou com a morte de Antonino Pio, no ano 161. E a condição "esmirniana" - isto é, a condição da igreja sob a luz da carta à igreja de Esmirna (Apocalipse 2:8-11) - parece ter começado com o reinado de Marco Aurélio. A perseguição na Ásia irrompeu com grande violência no ano 167, sob os novos decretos desse Imperador; e Esmirna, especialmente, sofreu grandemente: o justamente estimado Policarpo, bispo de Esmirna, sofreu o martírio nesse tempo. Mas, a fim de provar o ponto de vista que tomamos, será necessário dar uma olhada brevemente nas cartas às igrejas de Éfeso e Esmirna. - "A História da Igreja" - Andrew Miller
John Nelson Darby comenta:
A palavra para Esmirna é breve. Qualquer que seja a malícia e o poder de Satanás, no máximo ele tem, quando permitido, é apenas o poder da morte. Cristo é o primeiro e o último, além de ser, como sempre foi antes e depois da morte, o próprio Deus.Porém, mais do que isso, ele conheceu e passou pelo poder da morte. Os santos não deviam temer. Satanás trabalharia, seria permitido fosse, para peneirar e aprisionar. Os santos deviam ser fiéis até o ponto extremo do que podiam suportar, pois tudo além estava estava além deles, era de Cristo. E o que fosse fiel receberia dele a coroa da vida. Tribulação, pobreza e o desprezo daqueles que pretendessem ter a legítima reivindicação hereditária de ser povo de Deus — independente se os perseguidores fossem judeus ou cristãos — era a parte da assembléia aqui, e Deus sofreu isso. Ele foi realmente misericordioso com a assembléia decadente. A esperança dela estava além de tudo, em quando Cristo lhe daria a coroa da vida. Isso fez a assembléia, que estava escorregando para se colocar lado a lado com o mundo, por causa do declínio de seu primeiro amor, ficasse sensível ao fato de que o mundo estava nas mãos de Satanás — que o mundo não era o lugar de repouso dos santos. Mas, se por um lado o Senhor permitiu, por outro ele limitou a tribulação. Tudo estava em suas mãos. Não só havia a coroa para os sofredores, mas quem vencesse, a sua porção estaria segura: a morte do juízo, a segunda morte, não os atingiria. - J. N. Darby
Com tudo isso já deu para você perceber que a mensagem era bastante particular e dirigida aos santos de Esmirna em sua época, dispensacionalmente falando como a representação histórica de um momento da cristandade no mundo. Mas existe também uma terceira aplicação que é a de servir de consolo a qualquer crente de qualquer época que seja atribulado por perseguição, martírio e morte. Existe uma recompensa especial para este, e é este o sentido de "coroa da vida". O Concise Bible Dictionary fala em coroa como símbolo de reconhecimento, prêmio ou recompensa:
No Novo Testamento a palavra 'coroa" costuma ser mais um símbolo de vitória do que de realeza. Ela é aplicada ao Filho do Homem e a outros. "E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer." (Ap 6:2); "E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro" (Ap 14:14).
Também é aplicada aos vinte e quatro anciãos no céu, que lançam suas coroas diante do trono em Apocalipse 4:4; 10: "E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro... Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono".
A Bíblia também nos fala da coroa corruptível que ganhavam os vitoriosos nos antigos esportes, e a coroa incorruptível do cristão. "E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível." (1 Co 9:25). Esta última é descrita depois como 'coroa de justiça', 'coroa da vida', 'coroa de glória' em 2 Timóteo 4:8; Tiago 1:12; 1 Pedro 5:4 e Apocalipse 2:10. Elas podem ser a mesma coroa, mas enxergada por diferentes ângulos. O cristão é exortado a vigiar para que ninguém tome sua coroa em Apocalipse 3:11. — Morrison's Concise Bible Dictionary - Diversos autores.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)