https://youtu.be/45euX6f8Di4
Sua dúvida é se o fogo que nunca se apaga é fogo mesmo ou se a Bíblia está usando apenas uma metáfora. Acredito que exista uma maneira muito fácil de determinar a natureza desse fogo, e esta é indo à origem do que é o lago de fogo, às vezes traduzido como "inferno" em algumas Bíblias, e qual foi a intenção de Deus quando criou tal lugar ou condição. Jesus, em Mateus 25:41, responde a esta questão: "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.".
Se é algo que foi "preparado para o diabo e seus anjos" podemos ter certeza de que não é o mesmo tipo de fogo que produzimos com lenha, gás ou explosão atômica. Satanás e seus anjos são seres espirituais e incorpóreos, a menos que assumam a forma humana para enganar, como os vemos fazer em algumas passagens da Bíblia. Mas eu particularmente entendo que um anjo poderia atravessar a bola de fogo de uma explosão atômica e sair do outro lado sem ficar sequer chamuscado.
Então é evidente que Deus usou de realidades do mundo material para fazer uma ponte e entendermos realidades espirituais. O próprio Senhor fez muito disso em suas parábolas, e o Tabernáculo no Antigo Testamento era todo ele, com seus utensílios, figuras de coisas celestiais que fugiriam à compreensão humana se Deus tentasse mostrá-las para o homem em sua mente criada para a terra. Ao invés de explicar em detalhes isso vou convidar o autor Hugo Bouter Jr. para fazê-lo, já que publicou um texto a respeito do assunto.
O Castigo Eterno - Hugo Bouter Jr.
O que as Escrituras dizem concernente à natureza do castigo eterno? Os cristãos que levam a Bíblia à sério creem na natureza perpétua do castigo eterno. Por mais horrível que isso possa parecer, o castigo no inferno não tem fim. A Bíblia também expõe claramente as características do castigo eterno. Aqueles que defendem a doutrina do Universalismo minimizam o significado do castigo eterno, tanto no sentido de sua extensão quanto de seu teor. Afirmam, por exemplo, que "...as Escrituras não ensinam um castigo literal, porém descrevem o inferno simplesmente no sentido metafórico, já que usam palavras como fogo, verme e trevas, que são apenas imagens e não deveriam ser tomadas literalmente. Onde existe fogo" — afirmam os Universalistas —, "não poderiam existir trevas simultaneamente". Todavia as Escrituras falam de três coisas para nos apresentar a natureza do castigo eterno: fogo inextinguível, verme que não morre e trevas exteriores. Vamos considerar cada uma dessas características uma a uma.
Fogo eterno
Existem vários nomes usados para isso: “a fornalha de fogo” (Mt 13:42 , 50; cf. Ap 9: 2), “fogo eterno” (Mateus 18: 8), “inferno, .. o fogo que nunca se apaga” (Mc 9:43). O fogo eterno do inferno (Gehenna), o lago de fogo, está preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25:41; cf. Ap 20:10). O fato de que não serão apenas anjos, mas também pessoas que serão lançadas neste fogo que nunca se apaga — eternamente na companhia do príncipe dos anjos caídos — será porque, durante sua vida aqui na terra, elas não se afastaram o príncipe e deus desta era que cegou suas mentes (2 Co 4:4).
Esta primeira figura descreve como os ímpios serão torturados pelo fogo eterno do juízo. O fogo é um símbolo da ira de Deus, que é chamado de “fogo consumidor” e “fogo eterno” (Dt 4:24; Dt 9:3; Isaías 33:14; Hb 12:29). É questionável, no entanto, se deveríamos estar pensando aqui sobre o atributo pessoal de Deus, ao invés de sua expressão externa que atingirá os ímpios por toda a eternidade. De fato, seríamos capazes de imaginar o “lago de fogo”? Isso também é chamado de “o lago de fogo e enxofre”, o que talvez sugira que esse quadro é parcialmente derivado do julgamento de Sodoma e Gomorra, quando Deus fez chover enxofre e fogo dos céus (Gn 19:24 etc.) e também da palavra “fornalha” no versículo 28).
Embora seja correto dizer que a Escritura usa linguagem figurada para descrever a realidade do céu e do inferno, isso não altera de modo algum o fato de que estamos lidando com a existência literal de lugares e coisas reais. Essas imagens são emprestadas de nossa realidade terrena para nos dar uma compreensão de outra realidade sobrenatural. Por exemplo, o nome Gehenna (inferno) foi derivado do vale do filho de Hinom, (em hebraico “Ge-Hinnom”), perto de Jerusalém, onde crianças foram queimadas como sacrifícios para Moloque e onde, após as reformas de Josias, todos os tipos de imundícies foram coletadas e queimadas (2 Rs 23:10; 2 Cr 28: 3; 33: 6; Jr 32:35).
O lugar onde o verme não morre
O inferno também é o lugar onde o verme não morre. Uma comparação com Isaías 66:24 e Atos 12:23 mostra que isso indica o processo de decomposição de um cadáver na sepultura. Esse processo começou com o próprio Herodes mesmo enquanto ele ainda estava vivo, sendo um julgamento de Deus por causa de seu orgulho. Ele foi comido por vermes e morreu. Enquanto o processo de decomposição no túmulo normalmente termina, não é o caso da segunda morte. No inferno seu verme (singular!) não morre e o fogo não se apaga (Mc 9:48). Isso geralmente recebe um significado espiritual, estando conectado com o interminável remorso dos perdidos. O roer do verme, então, se refere ao fato de eles serem consumidos pelo remorso e/ou pelo medo, nas agonias sofridas ali. Como a expressão “seu verme” está no singular, seria fácil identificar o verme com a consciência individual. Embora esta seja uma explicação muito plausível, pode-se objetar que parece ignorar o “consumo” do corpo. Se considerarmos que após o fim do reinado de Cristo os perdidos serão ressuscitados e julgados e então lançados na segunda morte com espírito, alma e corpo (Ap 20: 5- 11 etc.), isso sugere que o mesmo corpo estará sujeito a uma destruição sem fim, a um “processo de decomposição” sem fim.
Os perdidos são referidos como “os mortos” e serão designados para o reino que é chamado de “a segunda morte”. Aqui tudo é marcado pela morte; a morte tem poder sobre os “mortos”. De acordo com Apocalipse 20 esta segunda e última morte é “o lago de fogo”. O reino da morte, onde o verme não morre é, portanto, também um lugar de tormento no sentido físico. Essa ideia é confirmada pelas palavras do próprio Senhor: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10:28).
Trevas exteriores
A terceira figura dada é aquela das trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes (Mt 8:12; 22:13; 25:30; 2 Pe 2:17; Jd 13). Esta figura também foi tirada da realidade terrena. Dentro do salão de banquetes há alegria e luz, mas lá fora é noite e aqueles que estão fora não compartilham da alegria dos que estão dentro. Esta figura mostra o nítido contraste com a atmosfera de alegria e luz na casa do Senhor, em Seu reino. Pois esta é a sala de banquete onde a festa de casamento é realizada e onde a comunhão com Deus é desfrutada. Deus é luz, e não há nele treva nenhuma (1 Jo 1: 5). Os incrédulos foram removidos deste reino de luz e amor. Assim como as virgens loucas, elas estão na escuridão, diante de uma porta fechada (Mt 25:10 etc.), e assim como Judas, elas saem pela noite (Jo 13:30). Estão separados de Deus para sempre e vivem nas trevas, longe de Sua face gentil. Neste lugar de escuridão exterior, não há sequer um raio de luz a ser visto e não há mais esperança nem expectativa. Há apenas uma escuridão impenetrável. É um lugar de choro, de sofrimento eterno. Há também ranger de dentes. Isso pode se referir não apenas ao remorso, mas também à raiva; uma eterna rebelião contra Deus. Choro e ranger de dentes são certamente características tanto da escuridão exterior quanto da fornalha de fogo (Mt 13:42, 50). Isso indica claramente que as duas figuras, a do fogo e a da escuridão, são aproximadamente a mesma realidade aterradora.
Embora chocante, é benéfico refletir sobre essas coisas, pois isso nos ajuda a perceber até certo ponto o quanto o Senhor deve ser temido (2 Co 5:11), e essa consciência nos leva a persuadir os outros. Como já foi mencionado, esta terceira imagem do castigo eterno levanta a questão de como as trevas exteriores podem ser combinadas com o fogo inextinguível da primeira imagem. O fogo se espalha e onde o fogo queima não pode ser escuro. No entanto, não devemos tirar conclusões da realidade física ao nosso redor e aplicá-las a realidades sobrenaturais que estão além de nossa compreensão. Por outro lado, devemos certamente levar a sério os conceitos indicados por essas imagens, por exemplo, não limitando as trevas a algo como “escuridão moral”. As Escrituras usam claramente essas imagens aparentemente contraditórias para nos dar uma impressão, a partir de diferentes pontos de vista, da seriedade do castigo eterno.
H. Bouter Jr. - extraído de “Truth & Testimony” Vol. 2, No. 2, 1993
via stempublishing.com/magazines/TT/93_02.html
Tradução Marcio Freitas
por Mario PersonaMario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)