https://youtu.be/sMgvkk9A54w
Não temos qualquer fundamentação bíblica para colocar crianças pregando ou ensinando quando a igreja está reunida. Também não devemos enviá-las a pregar o evangelho, apesar de não precisarmos desestimulá-las a falar de Cristo a seus amiguinhos. Muitas crianças são bem ousadas neste sentido e levam a sério a preocupação com a salvação de outras crianças.
Faz lembrar o que aconteceu com um neto, que mora nos EUA e costumava brincar com um amiguinho oriental de família budista. Ele perguntou à sua mãe, minha filha, se podia levar a Bíblia quando fosse brincar na casa do amiguinho, e minha filha explicou que era melhor não levar porque eles eram budistas e poderiam não gostar disso. Quando ela foi buscá-lo na casa do amigo, o garoto saiu com a Bíblia debaixo do braço que tinha levado na mochila. Seu argumento foi que o amiguinho precisava ser salvo, por isso levou a Bíblia para mostrar a ele os versículos.
Mas isso nada tem a ver com os shows que acontecem em algumas igrejas evangélicas, quando colocam uma criança com um microfone gritando coisas que talvez nem ela entenda o que seja. Você acaso viu o Senhor nos Evangelhos convocando doze crianças para irem pregar? Não. Viu algum caso ou ensino a respeito em Atos e nas epístolas? Não. Então está errado.
Quando alguém me mostra um vídeo de uma criança pregando em público para uma audiência eu penso logo naqueles números de circo com animais amestrados. Aquilo não é espontâneo, não está acontecendo entre crianças, como pode acontecer naturalmente. Aquela criança foi treinada por seus pais para apresentar um número, um show, mas não é possível saber se ela própria está entendendo o que diz. Ela apenas decorou e grita frases de efeito, e atrai uma multidão apenas porque acham "uma gracinha" uma criança em um púlpito de uma igreja.
Meu filho quando era bem pequeno costumava grampear folhinhas recortadas contendo versículos que ele imprimia no computador e quando tínhamos alguma visita ele perguntava se queriam ouvir sua pregação. Ninguém o induziu a fazer aquilo, e ficávamos felizes por sua disposição. Mas isso era em casa, e não em uma reunião pública. No máximo ele ajudava a distribuir folhetos evangelísticos quando fazíamos isso nas ruas de algumas cidades, mas jamais pensaríamos em expô-lo a uma audiência como pregador, porque não é a posição que uma criança deva ocupar.
Alguém poderia querer usar o exemplo de Samuel, que ainda jovem foi chamado por Deus e vivia no templo. Porém, por mais que Deus pudesse usá-lo, como usou, ele não estava ali numa posição de autoridade, mas como aprendiz de Eli, e aprendiz é o que toda criança deve ser, na vida e na doutrina. Além disso Samuel não é referência para a Igreja, pois esta ainda não existia. A doutrina da igreja encontramos nas epístolas.
Eventualmente Deus pode usar uma criança para de alguma forma abrir os olhos de um adulto ou para servir de testemunho para o Senhor neste mundo. A menina serva de Naamã foi usada assim, mas aquilo não era público e nem ensaiado.
Já ouvi gente dizer que a criança poderia pregar sim, porque Deus já usou até uma jumenta. Sim, mas se ouvir dizer que tem uma jumenta pregando ali na esquina você irá até lá porque quer ouvir a Palavra de Deus, ou iria movido de mera curiosidade? Ok, acabo de revelar a você a tática dessas igrejas que colocam crianças para atrair público e aumentar a receita como se faz em qualquer circo de macaquinhos amestrados.
Não é surpresa que crianças pregadoras surgiram nas igrejas pentecostais no início do século 20, pois é delas que também vêm muitas das modas e heresias que só trazem vergonha ao testemunho de Cristo no mundo. Uma criança que ainda não tem discernimento suficiente para distinguir o bem do mal, que precisa ainda ter seu caráter construído e fundamentado na Palavra de Deus, corre o risco de ter sua vida destruída. A superexposição de crianças tem criado vítimas como muitas celebridades infantis que entram em depressão quando crescem e acaba o interesse nelas.
Talvez o melhor exemplo para nós seja o do próprio Senhor, que não iniciou seu ministério antes de atingir a idade adulta. Alguém poderia argumentar que aos doze anos ele já teria "pregado" no Templo de Jerusalém, mas não foi isso que aconteceu. Veja a passagem:
"E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas." (Lc 2:46-47).
Ele não estava ali como uma criança precoce ou como um gênio superdotado se achando alguém, apesar de realmente ser. Ele estava em perfeita submissão aos mais velhos, não se colocando na posição de quem ensina, mas de quem aprende. Ainda que ele pudesse ensinar a todos eles, o que fazia era ouvi-los e fazer perguntas. E quando lhe perguntavam algo, os anciãos ficavam admirados com suas respostas.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)