https://youtu.be/FLix4EvLwIU
Há alguns anos escutei que alguns irmãos nutriam essa ideia, de que livros de sã doutrina só deveriam ser publicados por aqueles que as praticam. Mas como hoje há cada vez mais pessoas que só compram online, tanto livros impressos como digitais, eu não consigo enxergar a razão e principalmente a utilidade de uma estratégia assim.
A ideia de se distribuir literatura de sã doutrina só por canais de irmãos responsáveis em professá-las e guardá-las pode ser romântica, mas beira o pensamento maçônico e de outras sociedades secretas, que não permitem que seus livros sejam distribuídos fora do círculo dos "iniciados". Suas publicações costumam inclusive ser numeradas e assinadas para poderem ser rastreadas e saber se alguém as compartilhou fora de seu círculo.
Uma vez um presbítero da Igreja Presbiteriana, que também era maçom, me deu um grande e empoeirado embrulho fechado, e disse que continha Novos Testamentos bilíngues inglês-português, publicados pelos Gideões. Ele sabia que eu evangelizava e quis ajudar. Peguei o pacote, agradeci e deixei para abri-lo quando chegasse em casa. Realmente era isso que o pacote continha, mas a maior parte dos Novos Testamentos tinha sido inutilizada pela umidade e por furos de cupins, que deviam ser abundantes no forro da loja onde o pacote tinha ficado por muitos anos.
Mas o pacote não continha apenas Novos Testamentos. Nele havia também uma coleção de livretos da Maçonaria, todos numerados e assinados, cuja circulação é restrita aos maçons e ainda assim dependendo do grau de iniciação. Minha curiosidade quis espiar e foi um choque saber que os adeptos dessa sociedade secreta praticam uma versão pirata da Ceia do Senhor, evidentemente sem o sentido bíblico da ordenança, que ali é celebrada entre pessoas das mais diferentes crenças que se chamam de "irmãos". Não irmãos na fé em Cristo, mas na fé em sua associação. Na época eu tinha em casa um fogão à lenha e ele adorou "ler" todas as páginas daquele material.
Quando penso nas tentativas de se colocar limites à publicação da Palavra de Deus e da sã doutrina não posso deixar de recordar a admoestação do Senhor feita contra os que tinham um maior conhecimento, ao menos intelectual, das coisas de Deus, e o retinham para si, e seu incentivo a tornar públicas as coisas que ensinou:
"Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam... O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados." (Lc 11:52; Mt 10:27).
Quando um livro é publicado, seja por quem for, ele é tornado público, portanto deixa de estar no controle de quem publica. O próprio conceito do "publicar" é tornar público, e não reter para si. No dia seguinte à venda de um livro na mais restrita e cuidadosa livraria cristã, alguém que comprou aquele livro pode doá-lo à biblioteca municipal, vendê-lo a um alfarrábio ou colocá-lo no Mercado Livre. Mais modernamente, poderá escanear o livro e disponibilizá-lo online. Isso é inevitável, daí eu dizer que a ideia de limitar é romântica, mas não factível.
Antes da Internet um cristão britânico teve o trabalho de escanear a maioria das obras de Darby, Kelly, Mackintosh e outros autores do século 19 e gravá-las em CDs. Estes eram vendidos em livrarias cristãs, e na época adquiri todos eles. Hoje estão na gaveta, pois quando surgiu a Internet o mesmo irmão criou um site chamado Stempublishing.com e colocou tudo e muito mais lá para quem quiser baixar gratuitamente. Uso exaustivamente o site pela sua facilidade e simplicidade de busca, muito diferente do material que vinha em CD. Este e outros sites semelhantes têm sido de enorme auxílio para cristãos em todo o mundo.
Depois foi a vez de a BTP ou Bible Truth Publishing, uma editora mantida por irmãos em comunhão nos EUA, criar seu site para vender não apenas livros, mas também disponibilizar de graça todo o acervo dos escritores dos séculos 19, 20 e 21, escritos por irmãos que professavam ou professam a sã doutrina. Este site é mais elaborado e permite escolher o livro e produzi-lo imediatamente através do próprio site no formato de e-book de sua preferência. Se você é um usuário do Kindle, mais popular nos Estados Unidos, ele envia o e-book direto para seu dispositivo, se usar outro leitor de e-book também, além de gerar arquivos RTF editáveis e permitir a leitura no site em formato HTML.
Esta editora, fundada na virada do século 19 para o 20, produz e vende literatura impressa como sempre fez, por catálogos enviados pelo correio, e mais recentemente por seu site. Mas seus responsáveis reconhecem que o interesse pela leitura de livros tem despencado nos últimos anos, pois as novas gerações já não leem como as velhas. Me procuraram algumas vezes para dicas de como abordar esse universo de novos leitores e também de como produzir vídeos evangelísticos com base em minha experiência com "O Evangelho em 3 Minutos".
Uma boa referência para se manter antenado nas mudanças foi o critério usado por Davi para escolher seus assessores: "Ora este é o número dos chefes armados para a peleja, que vieram a Davi em Hebrom, para transferir a ele o reino de Saul, conforme a palavra do Senhor... dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens..." (1 Cr 12:23, 32).
Se quisermos nos apresentar para o serviço do Senhor é importante conhecer a época para saber o que fazer, sempre tendo a Palavra como referência. Hoje tudo que é livro acaba na Internet, é inevitável, e um dos grandes "culpados" por isso é o próprio Google, que mantém um programa de digitalização de todos os livros de todas as bibliotecas de todo o mundo. Os de domínio público aparecem na íntegra no site da Google e os que ainda detêm direitos mostram porções do texto e links de onde comprar.
Um exercício interessante é pesquisar também no "Internet Archive" que tem milhões de livros digitalizados. Ali você encontra escaneadas as edições originais de Darby, Kelly, Mackintosh e outros. Mas encontra também publicações mais recentes, como a primeira edição do e-book "Acontecimentos Proféticos", de Bruce Anstey, para baixar em ePub. A conclusão é que, se um livro está disponível na Internet, ele acabará na biblioteca do Google, do Internet Archive, ou em milhares de sites e blogs porque a capilaridade da Web e seus robôs irá inevitavelmente fazer isso.
Portanto seria ingenuidade querer colocar travas em literatura, seja ela qual for, pois isso só iria penalizar os bem intencionados. Mesmo que o livro não tenha sido publicado em formato digital, alguém poderá escanear um exemplar impresso e o resto você já sabe. Toda e qualquer informação disponibilizada na Web pode ser acessada, até mesmo sites de jornais e revistas que exigem identificação e assinatura para ler. Qualquer garoto sabe fazer isso.
Todos os meus livros, inclusive os vendidos, você acaba encontrando de graça para baixar em algum site no qual eu nunca publiquei. O tempo todo recebo avisos do Google (porque está configurado para me avisar) de algum livro meu que foi disponibilizado em algum site russo cheio de lixo. E também de pessoas que usaram trechos de meus livros ou de meus vídeos para criar livros e vídeos de contestação. Triste, mas inevitável.
Mas a minha insistência neste assunto tem um caráter bem pessoal. Em 1978 eu ainda estava morto "em ofensas e pecados", andando "segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência... nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos". Como todo inconverso, eu era "por natureza filho da ira" (Ef 2:1-3). Eu fazia parte da turma do "me engana que eu gosto", correndo atrás de teorias conspiratórias, filosofias orientais e esoterismo.
Naquela época não existia essa profusão de igrejas protestantes e evangélicas que você encontra hoje, e nem tanta gente se dizendo crente e consumindo produtos deste segmento. As livrarias seculares só vendiam livros seculares ou espiritualistas. Livros cristãos eram difíceis de se encontrar, e você só podia comprar em livrarias evangélicas nas grandes cidades, em bancas evangélicas em cidades menores, nunca em livrarias comuns.
Encontrei o livro que queria na estante da livraria do Guarujá, mas ao pegá-lo minha atenção foi despertada para o livro ao seu lado, chamado "A Agonia do Grande Planeta Terra" de Hal Lindsay. Na capa a imagem de um planeta terra pegando fogo prendeu meu olhar. Peguei o livro, abri no início daquela edição havia um alerta com algo assim: "Se você não se interessa por profecias bíblicas e com o que vai acontecer com este planeta, NÃO LEIA ESTE LIVRO." Foi o suficiente para eu comprar o livro junto com o outro que tinha ido buscar.
Em casa comecei a ler o "Provas de Daniken", mas era muito grosso e chato, além de repetir tudo o que o autor já tinha dito em seus outros livros. No primeiro capítulo ele gastava várias páginas para tentar "provar" que a Bíblia não era digna de confiança, enquanto no resto do livro ele iria usar a Bíblia para tentar provar suas teorias! Deixei o Daniken de lado e peguei o "Agonia do Grande Planeta Terra", que li de uma tirada só. O livro me fez balançar e, juntando com outros eventos e o evangelho que estava ouvindo de um colega da faculdade, não demorou para eu desmoronar nos braços de Cristo.
Agora vem a melhor parte. Aquele livro era publicado pela Editora Mundo Cristão, uma editora protestante que costumava ser vendido apenas em livrarias evangélicas, até pela falta de um mercado viável para livros cristãos. Então eu fico imaginando como é que aquele livro foi parar ali, numa livraria secular no Guarujá, e exatamente ao lado do livro que eu tinha ido lá comprar. Seja como foi eu sei que Deus tinha um plano para colocá-lo bem ali e eu também.
Mas digo isto apenas para você ver que é complicado tentarmos limitar os modos de Deus agir com base em nossas próprias ideias. Se você procurar ler a história da Inquisição Católica, em especial ao que ocorreu na Espanha, verá o esforço hercúleo de muitos cristãos que deram sua vida para copiar e distribuir as Escrituras. A dificuldade era por a religião católica vedar o acesso à Bíblia para pessoas comuns, restringindo sua leitura aos "iniciados" que habitavam conventos e monastérios, além de seu clero. No Brasil colônia a impressão de livros só podia ser feita com autorização da Igreja Católica, e isso prevaleceu até o século vinte em muitos países colonizados por católicos. Mas podemos dar graças a Deus porque "a palavra de Deus não está presa" (2 Tm 2:9).
Antes que você saia correndo procurar o livro que Deus colocou em meu caminho na época de minha conversão, quero dizer que hoje aprendi o suficiente para saber que "A Agonia do Grande Planeta Terra" era cheio de erros quando tentava explicar eventos dos jornais como cumprimentos proféticos, por isso não aconselho a leitura. Mas na época muita gente foi alcançada pelo evangelho que o autor pregava claramente em um dos capítulos. Se quiser ler um bom livro sobre profecias bíblicas procure "Acontecimentos Proféticos", de Bruce Anstey. Se quiser acessar um acervo de boa literatura cristã em formato digital visite "Acervo Digital Cristão".
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)