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Voce nao teria errado em sua pregacao do evangelho?



https://youtu.be/lIj1VlWg_tU

Você escreveu: "Gostei de seu vídeo 'Não tenhas sobre ti nenhum cuidado', falando de Marta e Maria. Mas não entendi sua explicação do Bom Samaritano, pois você não mostrou ser ele o exemplo a ser seguido por quem deseja ser salvo. Por acaso Jesus não disse 'Vai, e faze da mesma maneira' (Lc 10:37) ao 'doutor da Lei' que foi a ele? Não seria a misericórdia e o amar o próximo os meios de se obter a salvação?".

Muitos que leem este capítulo se enganam por não entenderem a pergunta do doutor da Lei dentro do contexto do judaísmo. Quando ele pergunta a Jesus "Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" ele não está falando de vida eterna dentro do conceito cristão, que é o de uma vida eterna no além desta vida terrena, ou seja, depois da morte. Para um judeu a vida eterna prometida estava mais para vida perene ou perpétua neste mundo, porque Deus não prometeu o céu a ninguém no Antigo Testamento. A Lei prometia vida a quem não pecasse, mas era a própria vida natural estendida, ao menos até a pessoa pecar.

No Antigo Testamento a promessa era que aquele que guardasse a Lei viveria pela lei, ou seja, não morreria. "Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles... Ora Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas." (Lv 18:5; Rm 10:5). E também: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18:20).

Agora você vai entender melhor o diálogo entre o jovem judeu rico e o Senhor no evangelho: "E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos." (Mt 19:16-17).

Obviamente nenhum judeu conseguia guardar todos os mandamentos da Lei por serem todos pecadores, e o jovem mentia quando dizia que tudo tinha guardado desde a sua mocidade. Você teria coragem de dizer que tem guardado todos os mandamentos desde sua mocidade? E aquele que diz "não cobiçarás"? Nunca olhou para algo ou alguém com um sentimento de cobiça ou um desejo impuro em seu coração? Aquele jovem rico não iria obter vida eterna, no sentido judaico da expressão, pois acabaria morrendo antes de conseguir cumprir toda a Lei.

Portanto, a noção de "vida eterna" para um judeu era diferente da que é garantida ao cristão pela fé em Cristo. As promessas de vida no Antigo Testamento tinham o significado de uma vida que não terminaria aqui na terra, e assim será durante o reino de Cristo no milênio, quando haverá saúde para todos, e o apóstolo João descreve um "rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações." (Ap 22:1-2).

Mas a vida eterna oferecida ao judeu e às nações no milênio, quando a Igreja já estará vivendo no céu, não é a que qualquer um que crê em Cristo na presente dispensação pode desfrutar desde o momento em que creu. Esta "vida eterna" que é oferecida ao cristão na presente dispensação é a própria vida que vem de Deus, que não tem começo e nem fim. Lembre-se de que eterna não é algo sem fim, mas é algo sem começo também, pois eternidade não inclui tempo.

O samaritano da parábola não é o salvo, ele é Salvador, oras! Na parábola o salvo é o que foi assaltado, que ia de Jerusalém (a cidade escolhida por Deus) para Jericó (a cidade amaldiçoada por Deus), assim como acontece com cada um que vaga perdido. Nem a religião (sacerdote), nem a lei (levita) podem salvar. Só o Samaritano desprezado pelo povo de Israel é o Salvador.

Os judeus consideravam Jesus samaritano, daí a parábola contada por Jesus ao religioso judeu que quis prová-lo com sua pergunta. Obviamente Jesus, sendo o Salvador, não precisava ser salvo, não é mesmo? "Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?" (Jo 8:48).

Vamos ao contexto que inclui a conversa de Jesus com o doutor da Lei antes e depois da parábola. Depois de receber a confirmação de que deveria amar seu próximo, o doutor da lei que inquiria Jesus perguntou: "Quem é meu próximo?". No fim o Senhor pergunta: "Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele." (Lc 10:36-37).

O próximo foi o que usou de misericórdia, não o assaltado. Todos leem pensando que o próximo é o assaltado, mas a pergunta é clara: "Qual, pois, DESTES TRÊS te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?". Quem você acha que é o "próximo" que usa de misericórdia com o assaltado caído à beira do caminho? O assaltado nada podia fazer, nenhuma obra, além de se deixar salvar. Somente Aquele que foi rejeitado por Israel podia salvar.

Mas será que o doutor da Lei iria responder "o Samaritano"? De jeito nenhum! Ele não responde assim porque os judeus odiavam os samaritanos: "O que usou de misericórdia para com ele". Então Jesus diz a ele "Vai, e faze da mesma maneira". Que maneira? Certamente ele deveria agir como agiu o Samaritano, mas acima de tudo amar aquele Samaritano acima de tudo. Mas para isso ele precisava admitir que o Rejeitado por Israel era o único capaz de exercer verdadeira misericórdia pelo pecador caído à beira do caminho.

E assim ele deveria se considerar — caído, arruinado e necessitado — se quisesse conhecer a verdadeira salvação, o que parece que ele não queria ou entendia. E como alguém que acreditava que seria salvo por seus méritos iria se achar perdido e "meio morto", viajando de costas para Jerusalém, a cidade de paz, em direção a Jericó, a cidade maldita? "Jericó" significa algo como "perfume", portanto é bem adequado pensar que um pecador caminha nesta vida seguindo seus próprios sentidos, rumo à perdição.

William Kelly comenta esta passagem assim:

Por conseguinte, o que vale não é a lei. A grande transição, então, fica clara para todos os que ouvem. Misericórdia e somente misericórdia pode servir para um homem perdido; mas a misericórdia é desagradável, pois exalta a Deus, enquanto a lei é usada pelo homem para exaltar a si mesmo e sua capacidade. É somente quando acreditamos em nossa própria ruína, talvez depois de esforços que tentamos debaixo da lei, que a misericórdia, primeiro, salva nossas almas, e então abre nossos olhos e nos faz ver um próximo em cada alma necessitada, sem perguntar quem ela é. A misericórdia nos faz sentir que cada um que busca nossa ajuda e compaixão como nossos próximos, enquanto o espírito do legalismo se contenta em perguntar: "Quem é meu próximo?" Sem Cristo, a lei simplesmente age sobre o homem natural. Embora a lei mostre a um homem seu dever, ela nunca lhe dá poder ou um coração para fazê-lo. Somente o espírito de graça dá motivo e poder divinos. "Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" etc. (Rm 8:3). A graça brilhou em Jesus Cristo, e o Espírito Santo opera segundo a mesma graça naqueles que receberam a Jesus, que não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça. — "Kelly Commentary on Books of the Bible", W. Kelly.

por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
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