https://youtu.be/IUIZmmKIWnA
Quando comentei numa rede social que um dos menos prováveis candidatos na corrida presidencial de 2018 poderia ainda ter alguma chance, logo alguém me enviou um vídeo em sinal de alerta. No vídeo, bem ao estilo dos vídeos de teorias conspiratórias, o autor faz um alerta contra o tal candidato dizendo que ele seria favorável à Agenda 2030 da ONU. Se você não está familiarizado com o termo, trata-se de um plano de ação assinado por mais de uma centena de países para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade.
É claro que tudo isso faz parte dos esforços humanos por um governo mundial, que servirá de plataforma para a chegada da besta e do anticristo, como encontramos nas profecias bíblicas. Aí fiquei pensando qual seria a motivação desses que professam ser cristãos e gastam tanto tempo e esforços criando vídeos aterradores para alertar cristãos a não votarem em pessoas que estejam alinhadas com esse tipo de projeto global. Deveríamos, nós, cristãos, lutar contra o estabelecimento de um governo mundial e da chegada da besta e do anticristo?
Seja qual for o candidato, eu prefiro não votar por convicção pessoal e por entender que sou estrangeiro e peregrino neste mundo. Estrangeiro por não ter visto permanente, e peregrino por estar de passagem aqui e sempre pronto para a partida para minha verdadeira pátria celestial. Evidentemente muitos cristãos não pensam igual, e se empenham para colocar no poder um candidato de viés cristão, alegando que somos responsáveis em manter fora do poder os comunistas e os que apoiam coisas como ideologia de gênero, aborto e militância política nas salas de aula.
Mas considerando que "o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer" (Dn 4:17), então você irá concordar que até os candidatos comunistas, quando eleitos, o foram porque Deus permitiu. Antes de Deus escolher a Davi, e a Salomão depois dele, ele permitiu um rei segundo o desejo do povo, e assim surgiu Saul, o primeiro rei de Israel. Deus permitiu isso para mostrar que a escolha humana é sempre errada. Afinal, foi numa eleição democrática promovida por Pôncio Pilatos há 2 mil anos que o povo votou e elegeu Barrabás para ser solto, e Jesus para ser morto. Pode-se até dizer que ali a voz do povo foi a voz de Deus, pois aquilo estava nos planos divinos antes mesmo da fundação do mundo.
A. J. Pollock comenta:
Será que fará diferença no quê um cristão acredita em relação à política? Antes de mais nada, um cristão nunca deveria ser um político. Por duas vezes o Senhor afirmou daqueles que são seus: "Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo... Não são do mundo, como eu do mundo não sou." (Jo 17:14, 16).
Se fosse certo para um cristão ser político, o Senhor, nosso grande exemplo, teria sido um político. Pelo contrário, quando solicitado a fazer um julgamento, ele respondeu: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?” (Lc 12:14). Se fosse certo para um cristão ser um político, deveríamos ter visto os apóstolos servido-nos de exemplo nesse sentido. Nem por exemplo, nem por preceito, existe nas Escrituras qualquer palavra para encorajar o crente a ser um político.
No Antigo Testamento, onde a dispensação era diferente, havia instruções para o ofício de um rei, mas no Novo Testamento, enquanto há instruções de como o cristão deve obedecer aos regentes, não há uma única linha sobre como ele deve reger. O cristão deve "honrar o rei", mas não há instruções de como se comportar como rei. Ali nos diz para “obedecer aos magistrados”, mas não há instruções de como cumprir o ofício de magistrado. Temos a exortação: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores” (Rom. 13:1), e isso numa época quando o imperador romano era Nero, um monstro de iniquidade. No entanto, não há uma linha de instrução para os cristãos quanto a governar.
O silêncio da Escritura é tão poderoso quanto seu discurso. O cristão não é exortado a remediar abusos neste mundo. "Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus." (Lc 9:60), foi o comentário afiado do Senhor para um que declarou que seria seu discípulo, mas que desejava colocar o enterro de seu pai antes do discipulado. O cristão tem a ver com o Reino de Deus, porém seu tempo de reinado ainda não chegou. Até que Cristo obtenha o seu lugar de direito, não há lugar para nós como governantes deste mundo, pelo contrário, somos exortados a viver como "peregrinos e forasteiros" (1 Pe 2:11).
Os filhos de Israel foram especialmente escolhidos para ser o povo de Deus, e seu governo era teocrático. Em outras palavras, eles eram governados pela direção imediata de Deus. Este é o governo ideal. O último versículo do Livro dos Juízes diz: "Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos." (Jz 21:25). O governo deveria ter sido teocrático, mas quando a democracia se espalhou rapidamente, ela foi apropriadamente descrita pelas palavras "cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos". — "Democracy or Theocracy" - Algernon James Pollock.
Outro aspecto a ser analisado é que, do ponto de vista dispensacional, Deus escolhia os governantes de Israel no passado, e aquela nação devia ser cabeça, e não cauda das nações. Mas em razão de sua desobediência Deus acabou por entregar o governo do mundo aos gentios, começando por Nabucodonosor, o primeiro "Rei de Reis", como disse o profeta Daniel: "Tu, ó rei, és rei de reis; a quem o Deus do céu tem dado o reino, o poder, a força, e a glória." (Dn 2:37). Isso permaneceu ao longo dos diferentes tipos de poder que governaram o mundo até o Império Romano, o que é representado pelas diferentes partes da estátua do sonho de Nabucodonosor nesse mesmo capítulo.
Babilônia foi a cabeça de ouro da estátua, o império Medo-Persa o tronco de prata, o ventre e as coxas de bronze representaram a Grécia antiga, as pernas de ferro o Império Romano. Então a profecia de Daniel deixa um lapso que já dura dois mil anos como faz em outras partes de sua profecia, como no capítulo 9, e só retoma ao falar dos pés de baro misturado com ferro, que representam o Império Romano revivido em tempos de democracia. O barro nos fala de humanidade e o ferro de poder, mas esta é uma liga que nenhum ferreiro ousaria fazer pois não resiste, como não resistirá o renascimento do Império. Entre uma coisa e outra o barro tem sido amassado por mais de dois mil anos preparando o caminho para esses frágeis pés que serão destruídos pela vinda de Cristo.
"E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois viste o ferro misturado com barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro. Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre." (Dn 2:41-44).
A dificuldade de você hoje escolher seu candidato preferido é que ele pode não ser o que Deus quer no governo, e no final você iria descobrir que votou na contra-mão de Deus se outro tiver sido eleito. Escolher o governante de um país não é como decidir pelo sabor do sorvete que você mais gosta, ou eleger a roupa que vai usar. Por e tirar governantes é algo que compete a Deus. No final ele vai permitir que o príncipe deste mundo, Satanás, fique livre e solto, à vontade para energizar a besta e o anticristo, e não vai ter voto ou eleitor que consiga mudar isso. "O Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer" (Dn 4:25).
Mas meu assunto aqui é questionar a validade desses alertas contra este ou aquele candidato por saber que ele está ou não alinhado com a Nova Ordem Mundial. Sabemos que a profecia mostra claramente que haverá essa ressurreição do Império Romano, que surgirão a besta e o anticristo, que milhões irão segui-los etc. Então pergunto: Se existem candidatos alinhados com esse projeto de uma ordem mundial, você que é cristão pretende fazer o quê? Comprar uma espada e cortar a orelha deles? Quando Jesus disse aos discípulos que ele seria traído, preso e morto, foi isso que Pedro fez, achando que cabia a ele interromper o processo profético. Ai de nós se Pedro tivesse conseguido. Ai de nós se tentarmos reverter o que está escrito na profecia.
Isso faz lembrar o caso de uma turista que estava numa praia assistindo ao nascimento de centenas de tartaruguinhas. Os bichinhos saíam dos ovos sob a areia e começavam sua maratona de sobrevivência em direção ao mar, buscando a proteção das águas, antes que fossem comidas pelas gaivotas. Como costuma acontecer nessas ocasiões, era inevitável algumas fossem parar no das aves famintas, mas a turista preocupada quis evitar isso.
Então ela saiu correndo no meio da maratona de tartaruguinhas, agitando os braços e gritando para espantar as gaivotas, mas só piorou as coisas. As tartaruguinhas se assustaram e começaram a correr na direção contrária, de costas para a proteção do mar. Foi o suficiente para as gaivotas fazerem a festa e dizimarem centenas de tartaruguinhas que, sem a intromissão da turista, teriam alcançado a água e sobrevivido. As gaivotas devem ter amado a intervenção da turista, assim como o diabo deve amar a intervenção que alguns cristãos sem noção tentam fazer no andamento da profecia.
Fazer vídeos de alerta contra uma ordem mundial, contra um candidato, contra isso e aquilo que a Bíblia previu e irá acontecer, é como ser cachorro que corre latindo para a roda do automóvel. O que os autores desses vídeos pretendem fazer quando o automóvel parar? Morder a roda? Se você já reparou a expressão de confusão e desapontamento do cachorro quando isso acontece saberá entender que lutar contra a profecia é perda de tempo, ainda mais quando o objetivo é só o de aterrorizar, sem qualquer intenção de levar os aterrorizados a Cristo.
Por isso que digo e repito que o cristão não tem nada a ver com o andamento das coisas deste mundo, em especial com a política e com quem é ou não eleito. No frigir dos ovos "o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer" (Dn 4:25). Quer você saia por aí latindo e agitando seus braços ou não, para impedir que este ou aquele candidato seja eleito, a profecia vai se cumprir de qualquer jeito.
Então ao invés de perder tempo fazendo vídeos anti-Iluminatti, anti-NovaOrdemMundial, anti-Agenda2030, anti-esse, anti-aquele candidato, pregue o evangelho. Porque qualquer coisa que você fizer anti o que está determinado na profecia você está agindo anti-Deus! Gaste melhor seu tempo alertando as pessoas de seu destino eterno, e não do destino do mundo que está perdido de qualquer maneira.
Empregue seu tempo em ações que sirvam para salvar os que serão tirados do mundo quando as gaivotas começarem a se banquetear. Você não irá salvar as pessoas agitando os braços na tentativa de espantar as aves malignas que são os agentes de Satanás. Você só vai apavorar as pessoas e elas não irão manter o foco naquilo que realmente importa: Crer em Jesus, o Salvador, e receber vida eterna para serem resgatadas pelo mar de graça e misericórdia que está bem aí diante de todos.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)