https://youtu.be/Wa9WzWUmxc0
Você escreveu contando da dificuldade que está passando com sua família depois que entendeu que o lugar onde deve congregar é ao nome do Senhor Jesus. Mesmo assim não consegue se desligar da denominação por sua esposa e filhos não entenderem do mesmo modo e não aceitarem sua decisão.
Então você recebeu a visita do pastor, preocupado com sua ausência aos cultos, e você mesmo se surpreendeu da alegria que teve em compartilhar com ele de sua certeza da salvação eterna. Mas ele deixou claro que este assunto não podia ser mencionado entre os membros daquela igreja, deixando você sem saber como agir.
Esse pastor nada fez além de confessar que mente aos membros de sua congregação, ou que ao menos omite deles a certeza da salvação eterna. Uma vez um pastor de uma cidade vizinha me confidenciou, quando falei do assunto: "Se as pessoas souberem que não perdem a salvação minha igreja vai ficar vazia".
Ele mantinha seus seguidores aprisionados pelo medo de perderem a salvação. Depois de nossa conversa soube que ele tinha mandado os membros de sua igreja, que tiveram contato comigo, para entregarem toda literatura que tinham recebido para ele queimar. Naquela época ainda não havia Internet e tudo era em formato impresso. Não sei o que ele faria hoje. Será que iria bloquear o sinal dos membros de sua igreja?
O conselho que posso dar a você é que ore e obedeça o que diz a Palavra. Se você não assumir a posição que é conforme sua fé seus familiares nunca irão achar que você esteja falando sério. Existe um ditado em inglês que diz "Walk the talk", isto é, faça aquilo que você prega. Se a sua família quiser obedecer a Palavra terão de passar pelo mesmo exercício que você passou, mas você não poderá obrigá-los a isso. É uma questão da fé de cada um.
Você também mencionou que escutou uma pregação do evangelho com o título "Não tenhas sobre ti nenhum cuidado", na qual eu menciono um bilhete que encontrei com a letra de minha mãe. O bilhete dizia: "Não vos inquieteis com nada! Não queirais cultivar, alimentar ou exagerar as vossas preocupações. Enquanto nos apoiamos em nós mesmos, em nossas forças, permanecemos inquietos e medrosos. Mas no dia em que nosso olhar descansa unicamente em Cristo, exultamos de alegria, porque os acontecimentos passam então a ser governados pela Sua mão".
Depois disso você perguntou se minha mãe também conhecia o Senhor e estava congregada ao seu Nome. Sim, nos últimos anos de sua vida minha mãe, que se chamava Ruth, e meu pai, que era Mario, estiveram congregados com os irmãos somente ao nome do Senhor. Eles ficaram tão felizes em encontrar essa verdade que até construíram um salão de reuniões, que é onde congregamos em Limeira até hoje. Meu pai partiu para estar com o Senhor em 1998, depois de três anos e meio numa cama vítima de um AVC. Minha mãe em 2005, seis meses depois de ter sido diagnosticada com câncer.
Minha mãe nasceu e foi criada em família católica, como a maioria dos brasileiros de sua época, eu inclusive. Ela era muito devota à sua religião, mas eu acredito que ela teria nascido de novo muitos anos antes de se converter realmente a Cristo, pois criou seus filhos no temor do Senhor. Se você ler a história de Cornélio em Atos 10 irá entender que somente alguém nascido de novo pode buscar o Senhor, caso contrário ele viverá em inimizade contra Deus, como ensina Romanos 3. Mas mesmo Cornélio precisou escutar o evangelho claro da boca de Pedro para crer em Cristo como Salvador e ser selado com o Espírito Santo.
Sempre me lembro de quando tinha provas no curso primário e ginasial e minha mãe me dava uma tirinha de papel para colocar sobre a carteira. Nela tinha a frase: "Tudo posso com a ajuda de Cristo". Se ela não tivesse esse temor de Deus teria escrito "Confie em si mesmo". Em minhas recordações de infância eu me lembro de que não viajávamos sem antes minha mãe ler uma oração que era uma colagem de vários versículos dos Salmos e do Novo Testamento. Ela sempre levava aquele papel na bolsa e mais tarde fez um novo plastificado.
Também foram muitas as vezes que cheguei em casa e encontrei algum padre, freira ou frade, que de passagem pela cidade, minha mãe convidava para almoçar. Ela também ajudava missões católicas para a África. Mas ela não era do tipo de beijar anel de bispo e nem de bajular clérigos. Ao contrário, quando jovem ela havia sido expulsa do colégio São José por levantar o hábito de uma freira para ver sua roupa de baixo. Minha mãe não temia os homens, só a Deus, mas sempre se lembrava de visitar as freiras que fizeram parte de sua infância e adolescência.
Quando enveredei pelas filosofias orientais nos tempos de faculdade aquilo foi muito triste para minha mãe, que fazia constantemente orações para que eu fosse liberto. Principalmente porque virei um fanático em macrobiótica e não precisava nem fazer Raio X para examinar meus ossos. Era só me colocar contra a luz. Uma vez briguei com minha mãe que viu minha comida queimando e misturou com a colher que fazia outro alimento. Purista como eu era, considerei que ela tinha contaminado meu alimento.
Mas as orações de minha mãe foram ouvidas e o Senhor me alcançou, usando diferentes circunstâncias além de um irmão na própria faculdade (ele era batista mas nunca me pregou religião batista ou me convidou para ir a alguma igreja). Você encontra a história de minha conversão em "Quando os anjos se alegram". Como eu me rendi nos braços do Salvador quando morava sozinho num apartamento no Guarujá, a partir daí passei a ser um assíduo frequentador da missa, ajudante do padre, e leitor ávido da doutrina católica. Minha mãe estava radiante.
Então veio a decepção, ao menos para ela, quando descobri que a doutrina católica não batia com o ensino da Bíblia. Eu tinha comprado o Catecismo para ler, não aqueles pequenos de Primeira Comunhão, mas o compêndio completo, e me decepcionei com o que encontrei ali. No catolicismo, a autoridade do Colegiado e da tradição se sobrepõem à da Bíblia. O argumento é que se foi o clero que determinou quais livros são ou não inspirados, então para se crer na Bíblia é preciso antes crer na tradição desse clero que definiu o que é ou não Palavra de Deus. E quando a Bíblia ensinar diferente do que ensina o clero fica valendo o ensino dos papas, cardeais e padres da igreja.
Enquanto começava a frequentar uma pequena congregação batista que ainda não tinha pastor, em Alto Paraíso de Goiás, onde eu revezava a vez de pregar com o único outro irmão varão do local, minha mãe voltava às orações para me fazer voltar ao catolicismo, até um padre dizer a ela que não se preocupasse porque católicos e protestantes tinham a mesma fé no mesmo Jesus. Com o tempo ela começaria a visitar as reuniões e a discutir com irmãos que a visitavam para explicar as Escrituras. Ela era bem do tipo debatedora e combativa, ao contrário de meu pai, mais cordato.
A casa deles tinha mais imagens que uma capela, com quadros de Jesus, Maria e muitos santos em todos os cômodos. Quando ela comprava uma imagem nova chamava o padre para abençoar o quadro ou a estatueta. Sua cômoda era um altar cheio de imagens, e ela levava preso no sutiã um alfinete grande de fralda cheio de medalhinhas. Nós, seus filhos, sempre sabíamos quando ela estava chegando, pois seu caminhar tinha o som som de um chocalho.
Chegou um tempo quando eu já não tentava convencê-la e nem martelava minhas convicções. Foi quando eu deixei de querer fazer que o Senhor fez. Ela e meu pai encontraram finalmente a paz e a certeza da salvação na obra consumada de Cristo, o que nunca tiveram antes, quando viviam num constante pavor de morrer, como é comum encontrar em muitos católicos e protestantes. O catolicismo e muitas religiões protestantes, em especial as pentecostais, não dão nunca a certeza da salvação eterna, pois você vive sempre debaixo da ameaça da pena capital se pisar em falso. Com essa convicção que o Espírito Santo deu a meus pais veio o desmantelamento dos costumes religiosos.
O alfinete e as medalhinhas foram para o lixo. As imagens de gesso foram quebradas e jogadas fora. Os quadros de imagens foram queimados na churrasqueira. Não, eu não forneci os fósforos, eles mesmos tomaram a decisão. O evangelho tem esse poder. Um dia, indo com meu pai visitar um sítio em uma estrada de terra, ele parou o carro sobre uma ponte de madeira, enfiou a mão debaixo do assento e puxou um crucifixo de metal enrolado em um pano. Antes que eu tivesse tempo de perguntar, ele abriu o vidro do carro e jogou o crucifixo no rio. Aquela peça não dava para queimar ou quebrar. Meu temor é que a peça seja um dia pescada pela rede de alguém e decidam construir uma basílica no lugar.
Meus pais eram ativos evangelistas, cada um à sua maneira. Ambos sempre tinham folhetos no bolso ou na bolsa e dificilmente alguém saía de um contato com eles sem levarem um folheto ou receberem uma mensagem de salvação. Minha mãe evangelizava suas amigas católicas perguntando: "De quem Santo Antonio era devoto?" Ela seguia perguntando o mesmo de diferentes santos, e a resposta da amiga era sempre "de Jesus". Então ela encerrava: "Faça como todos os santos, seja devota de Jesus. Eles não eram devotos de santos".
Para suas amigas espíritas argumentava que era cruel pensar em reencarnar neste mesmo mundo de sofrimento, quando Jesus oferecia vida eterna imediatamente após crer nele. E quando alguém reclamava da vida, ela dizia: "Se a vida aqui fosse boa ninguém iria querer ir para o céu".
Meu pai também tinha seu jeito mais comedido e silencioso de evangelizar, mas costumava comprar Bíblias para dar de presente a amigos. Um dia foi até a casa de um que o recebeu no portão. Depois de falar a ele rapidamente do evangelho entregou a Bíblia que tinha ido levar. O homem fechou o portão, sentou-se à mesa para almoçar e caiu morto com o rosto no prato. Tinha tido sua chance de crer e ser salvo. No céu saberemos o resultado.
Não sei exatamente em que ano meu pai e minha mãe foram recebidos à mesa do Senhor, mas estiveram congregados por muitos anos. Meu pai sempre ajudava com a datilografia na Editora Verdades Vivas. Os irmãos se lembram bem deles, principalmente do humor de meu pai, que fazia piada de tudo. Depois das reuniões, quando todos se misturavam para conversar, ele costumava comentar: "Perdi a Ruth. O problema é que vou encontrar...".
por Mario Persona
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)