https://youtu.be/dz5tU3-k5ew
Você foi a uma reunião de irmãos congregados somente ao nome do Senhor, e além de perceber que não havia um pastor à frente, mas dois ou três falavam (1 Co 14:29), que as irmãs não falavam (1 Co 14:34), não havia banda, orquestra ou artista se apresentando (Cl 3:16), e não lhe foi pedido dinheiro (3 Jo 1:7), chamou sua atenção o fato de ninguém ali estar gritando "GLÓRIA!" e "ALELUIA!". Aí você perguntou se não poderia clamar "Glória a Deus!" ou "Aleluia!" se assim sentisse em seu coração.
O fato de você sentir vontade de fazer algo durante a reunião da igreja não significa que esse sentir tenha vindo do Espírito. Pode ter vindo de sua carne, das emoções ou de um condicionamento religioso que recebeu durante anos em alguma denominação católica ou evangélica. Numa reunião da igreja ou assembleia "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas" (1 Co 14:32), e Deus exige de nós um "culto racional" (Rm 12:1), isto é, inteligente e no total domínio de nosso corpo e emoções.
Além disso, o mesmo capítulo que traz instruções precisas sobre as reuniões a partir da frase "Que fazer, pois, irmãos?Quando vos reunis..", também nos admoesta: "Faça-se tudo decentemente e com ordem." (1 Co 14:40). Ninguém consideraria ordem um lugar onde todos ficam gritando palavras às vezes até encobrindo a voz do que fala ou faz uma oração. Meus pais me educaram a não interromper ou atrapalhar a fala de alguém, mas esperar atento a pessoa terminar de falar.
Alegar que devo seguir meus sentimentos e emoções, que criam em mim a vontade de gritar um "GLÓRIA A DEUS!" durante uma reunião, mesmo que isso cause uma interrupção no andamento de uma pregação ou oração, não tem fundamento. Não devemos deixar que o corpo e as emoções nos controlem, mas sim que o Espírito Santo faça sua comunicação com o nosso espírito, o qual irá se manifestar através de nossas faculdades racionais. Se considerar que somos "espírito, alma e corpo" (1 Ts 5:23), não é à toa que a Bíblia sempre fala nesta ordem, pois o espírito do homem é sua porção mais elevada.
O corpo, e nossa boca que faz parte dele, deve agir comandado por nosso ser racional, não pelo ambiente que nos cerca ou pelas emoções que esse ambiente possa produzir em nós. Emoções são produzidas na alma, que pode ser influenciada pelo ambiente através do corpo, mas é com nosso espírito que o Espírito Santo irá tratar quando estamos em comunhão com o Pai. "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8:16).
Pense na alma como o meio de campo entre o corpo e o espírito. Os sentimentos que ela expressa podem tanto ter sido gerados pelo corpo como pelo nosso espírito, o qual tem ligação com o Espírito Santo que habita em nós. Quando as emoções são geradas pelo corpo ou pelo ambiente que afeta o corpo, são emoções carnais. Quando geradas pelo espírito motivado pelo Espírito Santo são emoções de outra natureza, espirituais.
Já percebeu o que acontece quando você vai a um lugar e está tocando uma música bem ritmada e sem perceber você começa a acompanhar o ritmo como o pé ou a balançar o corpo? Nosso corpo de carne tem essa característica de copiar o ambiente externo, de entrar no seu ritmo e compasso. Pode ser que esteja ouvindo uma melodia deprimente, e ainda que você não saiba a razão, sai dali deprimido, pois uma melodia mexe com a emoção.
Mas se for a letra que mexeu com você então ela mexeu com aquilo que é mais elevado em você, o seu ser inteligente e que possui um espírito, que é sua parte mais elevada e que pode ter comunhão com Deus. Então entenda que nosso culto a Deus é racional, e não emocional ou embalado pelo corpo de carne e pelos sentidos que nele habitam. "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Rm 12:1).
Quando estamos congregados ao nome do Senhor estamos no total controle de nossos sentidos, e em submissão ao Espírito Santo, que nunca irá nos dirigir de uma maneira que contradiga sua Palavra. Até mesmo os que falam (profetizam, ou seja, falam da parte de Deus), não fazem isso como se estivessem em um transe mediúnico que não conseguem controlar. E nem atropelam o que está falando, porque isso não estaria dentro da ordem indicada na doutrina dos apóstolos.
"Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas; porque Deus não é de confusão, e sim de paz." (1 Co 14:31-33).
Quando alguém ministra ou ora numa reunião, todas as atenções são dirigidas à pessoa que fala, ou para entender e assimilar o que é dito, ou para poder dizer o "Amém" no final, se for uma oração, expressando sua concordância com o que foi orado. Então se você der um grito "GLÓRIA A DEUS! ALELUIA!", para quem todos irão dirigir o olhar e a atenção? E se todos fizerem isso ao mesmo tempo, como os outros poderiam entender o que está sendo dito? Nem o que está gritando seus "GLÓRIAS! ALELUIAS!" será capaz de ouvir, nem os demais, porque a reunião irá se transformar numa algazarra com um querendo gritar mais alto que o outro. Ninguém sairá ganhando com aquilo, e o resultado será o contrário do que a Palavra ensina: "Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação." (1 Co 14:3).
Quando você entender que essa balbúrdia toda dos cultos pentecostais nada mais é do que carne e desejo de promoção pessoal, com as pessoas competindo para mostrar quem grita mais ou tem o dom mais impactante, irá entender também a razão da ordem determinada nas epístolas dos apóstolos. Infelizmente a cristandade foi contaminada pelo movimento pentecostal que só trouxe desordem e fez de Cristo motivo de zombaria entre os incrédulos.
Você chamaria uma reunião de cristãos bem ordenada se estiverem todos gritando ao mesmo tempo? Talvez isso possa funcionar num pregão da bolsa de valores, mas não é isso que buscamos quando reunidos. Estamos ali para ter nossa atenção dirigida somente a Cristo, que deve ser o foco também dos que estão ministrando, que não falam de si mesmos, mas de Cristo. Não estamos ali para escutar gritos sem qualquer entendimento. Quando falta discernimento, quem toma o controle da situação é a carne. "Tudo, porém, seja feito com decência e ordem." (1 Co 14:40).
Uma vez alguém contou que foi numa igreja pentecostal e o pastor que pregava usava as bombas atômicas que incineraram milhares de pessoas em Hiroshima e Nagasaki para fazer uma comparação do juízo de Deus. Essa pessoa, que me contou de sua visita àquele local, disse que nunca tinha visto coisa mais absurda e insana. Segundo ela a pregação era mais ou menos assim:
Quando o pastor disse, "E quando a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima morreram 150 mil pessoas!", o povo todo animado começou a gritar, "ALELUIA! GLÓRIA A DEUS! LOUVADO SEJA! OBRIGADO, SENHOR!". Então o pastor continuou: "E a bomba que caiu em Nagasaki queimou 80 mil pessoas!", e as pessoas acharam aquilo o máximo, gritando: "OH! GLÓRIA! ALELUIA! DEUS SEJA LOUVADO!". Não, o meu amigo não estava num hospício, ele estava no templo de uma igreja pentecostal vendo o que acontecia ali e acontece em muitas outras.
Entendo que as reuniões da Igreja devam ser para glorificar a Deus e não ao homem. Para exaltar a Deus e edificar os homens existem atividades, como o ministério da palavra. Será que na doutrina dos apóstolos você encontra algo do tipo: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros deem glórias, aleluias, louvado seja etc.."? Absolutamente, não! Isso até parece um versículo, mas não é. O que diz em 1 Coríntios 14:29 é: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.". Você já perdeu um gol de seu time preferido porque alguém desviou sua atenção justo naquele momento? Assim também, como você poderia julgar o que está sendo falado se não estiver atento às sua palavras, mas ficar gritando ou ouvindo gritos de outros ao seu redor?
Então a questão é: Como os outros poderão julgar enquanto estão gritando "ALELUIA! GLÓRIA A DEUS!"? E como os ouvintes poderão acompanhar calmamente o raciocínio de quem ministra com um gritão desses ao seu lado berrando como um desvairado sem entendimento e querendo aparecer? Se não bastasse importunar os presentes, em algumas dessas reuniões ainda colocam microfones e caixas acústicas voltadas para a rua para importunar os vizinhos. Deus não é surdo e tenho certeza de que se você glorificá-lo em seu coração ele irá ouvir. Quanto aos vizinhos, eles irão fechar portas e ouvidos da próxima vez que tentar falar de Cristo a eles. Até um incrédulo tem mais discernimento neste sentido.
Quando o assunto é oração, um ora, e no final todos prestam atenção no que está sendo pedido e dão o "amém", concordando com aquela oração. Se todos oram ao mesmo tempo ninguém vai entender nada e nem ser capaz de dizer amém com entendimento. O contrário deve ser feito na hora de cantar hinos. A igreja não está reunida para apenas um cantar e os outros ouvirem e aplaudirem. Todos devem participar conjuntamente dos cânticos, a uma voz. A reunião da igreja não é um show de TV com platéia, é o corpo de Cristo reunido para Cristo, não para a exaltação do pregador, de uma banda ou artista.
"Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração... Para que concordemente e A UMA VOZ glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo." (Cl 3:16; Rm 15:6).
Este último versículo fala muito bem de como o louvor deve ser em uníssono, ou seja, com todos participando com suas vozes para formarem "uma voz". Quando cantamos estamos louvando e glorificando a Deus a uma voz, ou seja, em conjunto. Quando se trata do ministério da Palavra ou da oração, um fala e os outros escutam.
A reunião é da igreja ou assembleia, o que equivale dizer do conjunto. Não é cada um por si, fazendo o que bem entende porque sentiu que devia fazer, e muito menos dando berros de "ALELUIA! GLÓRIA A DEUS", mas é um exercício conjunto e uniforme. Até mesmo as irmãs, que cantam mas são ordenadas a permanecerem caladas no falar, participam com suas orações silenciosas pelos irmãos que estão ministrando, ou dizendo o amém para concordar com o que foi trazido em oração por algum varão. Tudo "com decência e ordem".
O movimento pentecostal introduziu no ministério, louvor e adoração muita coisa para inflar o ego, e não raro você vê gente se gloriando deste ou daquele dom (geralmente os mais barulhentos são mais valorizados), ou exaltando este ou aquele pastor ou missionário. Em alguns lugares, para exaltar o cantor ou a banda fingem não estar exaltando o cantor ou a banda, quando o pastor ordena, ao final do número musical, "Uma salva de palmas para Jesus". A quem pensam que estão enganando?
Então entenda de uma vez por todas que, segundo a doutrina dos apóstolos para a igreja, no louvor cristão todos se sentam na plateia e no palco só fica Jesus. E no ministério também, porque quem ministra tem o dever de dirigir os corações a Cristo, e não aos seus feitos, suas conquistas, sua prosperidade e coisas do tipo. E nem apelar para a gratificação dos sentidos e a avareza e ganância da carne, como vergonhosamente faz a nova safra de pregadores pentecostais, geralmente chamados de neo pentecostais. Nesses púlpitos o apelo não é muito diferente daquele que o diabo fez a Jesus na tentação, oferecendo a ele "todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares." (Mt 4:9)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)