https://youtu.be/KTVMqjZVyBc
Sua dúvida é por que Adão e Eva nunca sentiram vergonha de andarem nus pelo Jardim do Éden, mas depois de terem pecado isto os preocupou tanto ao ponto de levá-los a costurar um saiote de folhas de figueira. "E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam... E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais." (Gn 2:25; 3:6-7).
Quando Deus criou todos os seres vivos, ele os criou com algum tipo de roupagem, e talvez fosse isso que não impedia minha mãe de comprar para mim gibis do Pato Donald, que só vestia camisa e andava sem calças. Aves têm penas, mamíferos têm pelos, peixes têm escamas. Apesar de alguns animais, como focas e golfinhos, não terem algo que não se pareça com uma roupa de penas, pelos ou escamas, seu couro é resistente o suficiente para protegê-los.
O homem, por sua vez, é o menos privilegiado neste aspecto: ele foi criado, não apenas nu, mas com uma pele fina que o deixa totalmente desprotegido. Eu disse desprotegido? Não exatamente, porque em seu estado original o ser humano recebeu algo que nenhum animal recebeu. O homem foi coroado de glória e de honra.
"Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares." (Sl 8:4-8).
No hebraico a palavra "coroado" é "atar", que tanto pode significar colocar uma coroa na cabeça de alguém ou cercá-la de algo que a torne distinta das outras. Se você estiver familiarizado com o plantio de mudas saberá que, ao plantar, o agricultor prepara uma espécie de círculo de terra. O nome disso é "coroamento" e o resultado é uma "coroa", que mantém a planta dentro de uma espécie de círculo limpo de plantas que venham a competir com ela, além de servir para reter chuva e aumentar a retenção de umidade naquele ponto.
Ao criar o homem Deus o cercou de glória, e enquanto o homem esteve no centro da vontade de Deus — como a planta no centro dessa coroa de terra — essa glória o cercou, o coroou e proveu, por assim dizer, toda a umidade e nutrientes de que ele precisaria para viver feliz, livrando-o de concorrência daninha. Deus ainda lhe deu o domínio de todos os outros seres vivos, por isso Adão deu nomes a eles. "Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pós os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo." (Gn 2:19-20).
Quando desobedeceram a Deus e caíram em pecado, Adão e Eva passaram por um processo semelhante à demissão por justa causa. Quando isso acontece, você descobre que foi despido dos poderes e privilégios que tinha no cargo, é mandado para fora da empresa e seu crachá não abre mais a porta. Enquanto isso família e amigos passam a olhar para você como alguém inferior. O jeito é tentar fazer qualquer coisa que lhe devolva parte da dignidade que tinha, nem que seja fazendo bicos aqui e ali, que são tão provisórios e incertos quanto os aventais de folhas de figueira de Adão e Eva.
Quando Deus pergunta a Adão, "Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu?" (Gn 3:9-11), trata-se de uma pergunta retórica, ou seja, Deus sabe a resposta. Esse "onde estás" é no sentido posicional, como alguém que diz "estou empregado" ou "estou desempregado". Não se tratava de "onde" no sentido geográfico, porque Deus é onipresente e conhece a exata localização de cada coisa no Universo. Ele queria que Adão e Eva reconhecessem que agora tinham motivo para se esconderem de Deus.
Mas não apenas isso: Quando lemos que, antes do pecado, "ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam." (Gn 3:6), e que depois tiveram vergonha um do outro e de Deus, podemos pensar também que o matrimônio, estabelecido em perfeição no Éden, já não seria mais o mesmo. Assim como a terra, antes propícia ao homem, produziria espinhos e cardos, outros privilégios que tinham no Éden também acabariam maculados, e o casamento seria um deles. Apesar de todos os livros e filmes românticos, dos votos matrimoniais, e do "até que a morte vos separe", fazendo crer que tudo será perfeito, sabemos da dificuldade que sempre existiu nessa área. Nestes tempos modernos metade dos casamentos acabam em fracasso.
Isso levou Paulo a ter de escrever coisas como, "Estás livre de mulher? não busques mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos... o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem.. o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher... aquele que se casa faz bem, mas o que não se casa faz melhor" (1 Co 7:28-38). [O versículo 38 eu citei da versão da Bíblia de J. N. Darby, pois no original o texto não está falando de "filha virgem", mas de "virgindade"].
Antes Adão e Eva confiavam um no outro e estavam cercados na mesma "coroa de glória", mas essa confiança desmoronou quando seus olhos foram abertos e a consciência se fez presente. Agora um olhava para o outro e via sua nudez por causa da desobediência. Como agora iriam ter certeza de que haveria fidelidade no relacionamento? Afinal, se tinham sido infiéis para com Deus, o que garantia que um seria fiel ao outro? A desconfiança, que não existia antes, passou a ser um ingrediente do casamento, e esta é mais uma coisa que a nudez representa e do que podemos nos envergonhar.
Quando Adão e Eva pecaram "foram abertos os olhos de ambos" (Gn 3:7) e passaram a possuir algo que não tinham até ali, a consciência, a mesma que agora os acusava e acusa todo homem pecador. Eles olhavam para si mesmos e viam no corpo despido a sentença que Paulo mostra na carta aos Romanos, como sendo a característica de todos os seres humanos: "Destituídos — ou despidos ou descoroados — da glória de Deus" (Rm 3:23). A consciência da nudez os levou a ter medo de Deus. Se você tem medo de Deus, no sentido de pavor só da ideia de um dia ter de se encontrar com ele, então ainda precisa ser vestido, e vou falar disso mais à frente.
Outra coisa que veio no pacote da consciência foi a vergonha, algo que Adão e Eva nunca tinham experimentado no Éden porque não havia razão para isso. Estavam cercados ou coroados da glória de Deus, nada lhes faltava. Mas nem tudo estava perdido, pois o próprio Deus providenciaria um paliativo mais permanente que o saiote de folhas feitos pelas mãos de Adão e Eva. Deus mesmo faria roupas para eles, mas ao custo da vida de um animal inocente, anunciando assim que a morte do Cordeiro de Deus seria a única maneira de vestir o homem para este poder se apresentar diante de Deus sem ser consumido.
"E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu." (Gn 3:21). E aqui entra a beleza da obra que Deus providenciou para salvar o homem pecador: Ele entregou o seu Filho, Jesus, uma Pessoa Divina, vindo em carne, assumindo a forma humana, para dar início a uma nova criação de justificados pela fé. Jesus faria com que uma multidão de "demitidos" pudessem ser devidamente perdoados e vestidos. Jesus assim não teria de que se envergonhar deles, e nem eles de si mesmos, pois faria neles uma obra completa.
A obra definitiva não teria qualquer folha perecível, não seria o fruto do trabalho manual humano, e nem mesmo seria uma vestimenta de peles que pudesse gastar com o tempo e precisasse ser substituída. O próprio Senhor já tinha dado mostra do que aconteceria com aqueles que andassem com ele, mesmo que antes tivessem vivido em pecado e idolatria: Nem mesmo as suas vestes envelheceriam.
"Porém tu, ó Deus perdoador, clemente e misericordioso, tardio em irar-te, e grande em beneficência, tu não os desamparaste. Ainda mesmo quando eles fizeram para si um bezerro de fundição, e disseram: Este é o teu Deus, que te tirou do Egito; e cometeram grandes blasfêmias; todavia tu, pela multidão das tuas misericórdias, não os deixaste no deserto. A coluna de nuvem nunca se apartou deles de dia, para os guiar pelo caminho, nem a coluna de fogo de noite, para lhes iluminar; e isto pelo caminho por onde haviam de ir. E deste o teu bom espírito, para os ensinar; e o teu maná não retiraste da sua boca; e água lhes deste na sua sede. De tal modo os sustentaste quarenta anos no deserto; nada lhes faltou; as suas roupas não se envelheceram, e os seus pés não se incharam." (Ne 9:17-21).
Além disso, graças à obra consumada de Cristo, este nunca mais teria motivo de se envergonhar dos que salvou, pelo contrário, teria todo o prazer de chamá-los de "irmãos" e "filhos de Deus". Depois de falar do homem e da glória com a qual Deus o cercou na Criação, glória esta perdida por causa do pecado, a passagem de Hebreus que já mencionei continua falando da Pessoa do Homem perfeito, Jesus, assumindo o lugar do pecador para receber todo juízo pelos pecados, riscando da lista tudo o que podia separar o homem de Deus. Este é o assunto de uma passagem na carta de Paulo aos Colossenses, e também da carta aos Hebreus:
"E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu." (Cl 2:13-15; Hb 2:10-13).
Será que eu consegui explicar a razão de a nudez, que antes não era um problema, ter se transformado em vergonha após a queda do homem? E que essa nudez tem um significado muito mais amplo do a mera falta de roupas? A nudez física é como um megafone que grita: "PERDI A GLÓRIA! PERDI A GLÓRIA!". Por isso na Bíblia Deus iria sempre considerar a nudez física um pecado, e temos muitas passagens que comprovam isso. A vestimenta de pele que Deus fez é um claro sinal de que ele nos quer vestidos neste mundo, e não despidos. Despir-se publicamente é mais uma vez desafiar a Deus fazendo o contrário do que ele fez por Adão e Eva após a queda, quando os vestiu.
Aqui entra ainda outro detalhe, que é o modo como Deus nos quer vestidos. As túnicas de pele foram compulsórias para Adão e Eva, e não apenas serviam para esconder sua nudez, como também para dar testemunho da condição de incapacidade e despojamento de justiça própria do homem pecador. Fazer desse símbolo de incompetência um símbolo de exaltação pode não ser exatamente aquilo que Deus deseja, e é aí que entram as admoestações para nos vestirmos com modéstia.
"Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras... O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura dos vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." (1 Tm 2:9-10; 1 Pe 3:3-4).
Enquanto alguns leem estas passagens como se fossem uma lista de regras de vestir, que permitem isso e proíbem aquilo, acredito que a intenção do Espírito, através de Paulo e Pedro, não fosse exatamente esta. Deus não estava mostrando o modelo da vestimenta, mesmo porque os trajes diferem muito conforme a época e o lugar. O que eles estão dizendo é que a beleza de uma pessoa não deve estar nos vestidos caros e adereços preciosos, ou no frisado dos cabelos, mas no "homem encoberto no coração, no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus".
Vou usar como exemplo minha atividade de palestrante empresarial, que é de onde vem o meu sustento. Nesta profissão você observa palestrantes vestidos de diferentes maneiras, e apesar de existir uma espécie de código não escrito, que mostra ser de bom tom usar terno e gravata em eventos mais formais, nem sempre isso é tratado como regra.
Por exemplo, um palestrante famoso por sua competência em sua área, pode simplesmente abrir mão da etiqueta de um traje formal, pois não está no terno e gravata aquilo que o valoriza, e sim no seu conhecimento. Por esta razão você podia ver, por exemplo, um Steve Jobs, da Apple, palestrar de jeans e camiseta em eventos que outros iriam de terno e gravata. Mesmo assim ninguém diria que ele estava mal vestido, porque não tinham ido ali para ver sua roupa.
É neste sentido também que Paulo e Pedro estão falando, quando mencionam o modo de vestir, para que não pensemos que quanto mais parecidos ficarmos com um pavão, mais valorizados seremos aos olhos de Deus e dos homens. Quem consegue exteriorizar as virtudes do tesouro que é Cristo, que traz dentro de si, será admirado não pelo que veste, mas pelo que é. O que os apóstolos estão dizendo é que não é o porta-jóias que deve chamar atenção, mas as jóias guardadas nele.
"O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós." (2 Co 4:4-7).
Portanto, o vestir pode ter tanto essa conotação negativa, de nos fazer sempre lembrar de que pecamos e por isso ficamos nus e envergonhados, como também a conotação positiva, de que Deus proveu uma vestimenta pela morte de um animal inocente. Se Adão e Eva tentaram fazer o melhor que podiam para cobrir as consequências de seu pecado quando "coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais" (Gn 3:7), Deus deixou claro ali mesmo que rejeitaria toda obra humana de auto-justificação. Se fosse para cobrir o pecado do homem isso teria de partir de uma obra divina, não humana.
Na carta de Paulo aos Coríntios vemos que Deus pode nos enxergar como estando nus, mesmo que estejamos materialmente vestidos. Isso mostra mais uma vez a amplitude espiritual do termo "nudez" que também representa a condição transitória de nossos corpos mortais à espera da perfeição com que seremos revestidos.
"Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida." (2 Co 5:1-4).
Enquanto existe um aspecto de cobertura exterior da nudez pelo batismo, pois "todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo" (Gl 3:27), batismo este que aponta para o batismo de morte pelo qual Jesus teve de passar sob as ondas e as vagas do juízo divino, existe também o aspecto das vestes permanentes, quando o Senhor "transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas." (Fp 3:21).
Quando você lê a Bíblia percebe a importância que Deus dá às vestes, mostrando claramente que nos deseja ver vestidos, aqui ou no céu, onde são citadas as vestes de linho dos redimidos. Na Lei mosaica as roupas dos sacerdotes eram descritas em seus mínimos detalhes, cada um apontando para a obra de Cristo e suas glórias. Existem outros exemplos também, como no livro de Apocalipse onde encontramos as vestes como expressão de justiça. A obra que Deus faz com o pecador arrependido que crê em Jesus também menciona as vestes, como as que o pai do filho pródigo providenciou quando ele voltou de seu exílio de pecados.
Outro exemplo da obra de Cristo que inclui as vestes você encontra na vida de Samuel. Em 1 Samuel 3:4 "O Senhor chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui.". Assim começa a jornada de todo pecador salvo por Cristo, primeiro somos chamados pela Palavra de Deus e respondemos com um "Eis-me aqui". Somente um louco rejeitaria um convite tão amoroso: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." (Mt 11:28-30).
Mas para Samuel ter sido chamado foi preciso antes um animal ser morto, do mesmo modo como Deus fez no Éden para cobrir a nudez de Adão e Eva e Cristo, o Cordeiro de Deus, morreria na cruz. Vemos no versículo 25 do primeiro capítulo de 1 Samuel que seus pais "degolaram um bezerro" e o entregaram ao sacerdote Eli como sacrifício. Cristo foi sacrificado, seu sangue foi derramado, o véu do Templo foi rasgado, e é só por isso que podemos ter livre acesso a Deus para atender ao seu chamado. Não existe evangelho sem sangue, porque "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 Jo 1:7).
Então em 1 Samuel 2:18-19 vemos que "Samuel ministrava perante o Sendo, sendo ainda jovem, vestido com um éfode de linho. E sua mãe lhe fazia uma túnica pequena, e de ano em ano lha trazia.". Purificado com sangue, chamado e vestido, este foi o processo pelo qual Samuel passou para estar diante do Senhor, e tudo isso tipifica o que acontece com cada salvo por Jesus. Você já teve seus pecados lavados pelo sangue de Jesus? Já foi chamado por ele e atendeu ao seu chamado? Já foi vestido de justiça?
Não estou aqui falando de você filiar-se a alguma religião cristã, pois isso não poderá salvar e é provável que você até acabe associado ao que existe de pior aos olhos de Deus em termos de testemunho cristão neste mundo. Estou falando do estado de decadência que hoje caracteriza o testemunho como um todo, descrito pelo Senhor em sua repreensão à igreja de Laodiceia, o último estado do testemunho cristão na terra:
"Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas." (Ap 3:17-18).
Achando-se rica de boas obras e auto-suficiente, Laodiceia não percebe que aos olhos do Senhor é desgraçada, miserável, cega e nua. É aconselhada a procurar "roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez". Contrastando com essa horrível condição de auto-suficiência e rebelião, vemos a Igreja, a genuína noiva do Cordeiro. É com uma convocação de regozijo que ela é apresentada nas bodas em Apocalipse: "Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos." (Ap 19:7-8).
Sobre isso escreveu John Thomas Mawson (1871-1943) em um artigo com o título "As bodas do Cordeiro e a preparação da Noiva".
É parte do propósito de Deus que a esposa do Cordeiro seja vestida com uma gloriosa veste de linho fino, limpa e branca, naquele dia de casamento; ela deve aparecer adornada nas justiças dos santos. Mas como tal vestimenta será produzida? Seria inútil procurá-lo nos homens em sua condição natural; nem pelas exigências legais da Lei poderia este linho branco e limpo ser assegurado, pois os homens por natureza são hostis contra Deus, e o teste dos séculos provou conclusivamente que todas as suas justiças são apenas trapos imundos.
Então como serão os fios destas justiças? Sobre que tear eles serão tecidos, e que dedos os formarão no vestido de casamento?Tudo dependia da sabedoria, graça e poder de Deus. Se a esposa do Cordeiro deveria ser adornada de acordo com Seus pensamentos, Ele mesmo devia criar o instrumento para o surgimento das vestes, ou nunca seriam produzidas de maneira alguma. Permita-me ilustrar.
Um homem deseja produzir uma peça de vestuário para uma grande ocasião, que será única em design e inestimável em valor. Ele está lá em sua mente em todos os detalhes, mas ele não conhece nenhum pano sobre a terra que satisfaça suas exigências, nem de qualquer tear que possa produzi-lo. Então, se ele quiser realizar seu projeto, ele deve primeiro inventar um tear capaz de produzir o material que deseja. Ele coloca para funcionar seu gênio inventivo, e depois de muito trabalho e custo seu tear é aperfeiçoado, e sob seu cuidadoso controle produz o material desejado, e sua vestimenta é acabada para seu próprio prazer e a honra de sua habilidade.
Do mesmo modo Deus deve trabalhar de acordo com a Sua infinita sabedoria, se o Seu propósito a respeito da esposa do Cordeiro for para ser cumprido.Mas primeiro temos o padrão perfeito desta vestimenta do desígnio de Deus na vida de nosso Senhor Jesus Cristo na terra. Vivendo como um Homem aqui, todo pensamento, palavra e ação dele eram como o linho fino, limpo e branco, pois em tudo o que fazia, e em todos os seus motivos, correspondia plenamente à vontade de Deus. De modo que, quando a aprovação do Pai O envolveu no monte santo, suas vestes mostraram ser brancas como a luz, emblemática da vida perfeitamente santa — e em todos os seus aspectos justos — que Ele viveu diante de Deus em um mundo pecaminoso.
O pensamento de Deus era reproduzir as graças daquela vida completamente adorável nos homens aqui embaixo: trazer à vida cotidiana prática de Seus santos aquelas excelências morais que brilhavam em toda a sua perfeição em Jesus. Mas, para isso, Cristo devia morrer, pois se um grão de trigo cair na terra e não morrer, ele fica só, mas se morrer dá muito fruto. Assim, Cristo morreu por nós e, em Sua morte, o pecado na carne foi condenado, e o juízo caiu sobre a carne, que não podia produzir nada além de farrapos imundos.
Mas essa morte também gerou uma nova raça de homens, pois Cristo ressuscitou e Deus nos vivificou, a nós, que estávamos mortos em ofensas e pecados, juntamente com Ele, e, assim vivificados, passamos a ter uma nova vida e natureza; somos criados em Cristo Jesus; somos feitura de Deus para produzir essas boas obras pré-ordenadas. Deus cuidou de tecer isso de acordo com Sua própria sabedoria e riqueza de graça, "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2:10). — J T Mawson : Magazine Ministry : The Marriage of the Lamb and the Bride's Preparation
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)