https://youtu.be/xptLE21fIxI
O que você chama de "Deus do Antigo Testamento" é o mesmo do Novo Testamento, pois Jeová e Jesus são uma mesma Pessoa divina. Ele é o Deus Filho e forma com Deus Pai e Deus Espírito Santo o que costumamos chamar de "Trindade". Quando você conhece a história da humanidade e o quanto o Senhor agiu em graça e paciência para com o homem começa a entender melhor as coisas. Uma criança poderia perguntar a seu pai, policial: "Papai, por que você me trata de modo tão diferente do modo como trata os bandidos?". A resposta é que nas ruas ele é policial e precisa ser duro no tratar com pessoas perigosas, mas em casa ele trata a filha como pai.
Quando o homem caiu em pecado, ele perdeu o privilégio de viver no Jardim do Éden e de ter comunhão com Deus. Adão e Eva foram expulsos do Paraíso, mas antes Deus mostrou graça a eles, sacrificando um animal inocente para cobrir seu pecado, um prenúncio do que faria no futuro. "E fez o Senhor Deus [Jeová Elohim] a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu." (Gn 3:21). Repare que no original a passagem traz "Jeová Elohim" (traduzido para Senhor Deus nas Bíblias em português).
A passagem que fala dessa provisão não diz no original apenas Jeová, mas Jeová Elohim. Sabemos que Elohim é o nome de Deus na Criação, o mesmo que aparece no primeiro capítulo que diz: "No princípio, criou Elohim os céus e a terra" (Gn 1:1). Este nome aparecerá mais de 2.500 vezes no original hebraico, às vezes sozinho, outras vezes associado a outro nome dependendo do contexto, como no caso que mostrei em Gênesis 3:21.
Enquanto Elohim é um nome composto por representar Pai, Filho e Espírito Santo (o singular seria Eloah), Jeová é o nome de Jesus, que é também Deus, em seu relacionamento com o homem. Mas este versículo de Gênesis 3:21 mostra que a amplitude da obra de Cristo seria muito maior do que o simples relacionamento de Jeová com o povo. O sacrifício do animal, cuja pele cobriria a nudez de Adão e Eva representava o sacrifício de Cristo, estava sendo feito por Deus mesmo. E se ler o versículo seguinte verá que o mesmo termo divino que indica pluralidade é usado:
"Então disse o Senhor Deus [Jeová Elohim]: Eis que o homem é COMO UM DE NÓS, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, o Senhor Deus [Jeová Elohim], pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado." (Gn 3:22-23).
Depois da queda vemos Jeová tratando com os seres humanos fora do Éden, mas ainda deixando que vivessem em total liberdade, inclusive sem um governo ou juiz para castigar seus atos. É por isso que Caim, depois de matar seu irmão Abel, sai livre e ainda recebe uma graça do Senhor para evitar que fosse morto por alguém.
"E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim. És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra. Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará. O Senhor, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o Senhorum sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse. Retirou-se Caim da presença do Senhore habitou na terra de Node, ao oriente do Éden." (Gn 4:10-16).
Repare que não é o Senhor quem expulsa Caim de sua presença, mas é o próprio Caim quem diz: "Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me". O Senhor tampouco lhe disse que seu pecado não poderia ser perdoado, foi Caim quem disse: "Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada." O Senhor insistia em tratar Caim com graça.
E antes que você me pergunte com quem Caim se casou, lembre-se de que estamos falando de um período de liberdade para o homem recém saído do Éden, e não havia restrições para que Caim se unisse a uma de suas irmãs ou primas para ter filhos. Sim, Adão e Eva tiveram mais filhos além de Caim e Abel: "E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos: e gerou filhos e filhas." (Gn 5:4). O Guiness, o Livro dos Recordes, registra que a mulher mais prolífica gerou 69 filhos em vinte e sete partos de gêmeos, trigêmeos e quadrigêmeos. Agora imagine do que Adão e Eva seriam capazes vivendo em perfeita saúde por algumas centenas de anos!
Aquele período de perfeita liberdade em que Deus deixou os seres humanos só serviram para provar que o mundo nunca será um lugar maravilhoso se as pessoas forem livres para viver como bem entenderem. Deixado livre para fazer o que quisesse e sem consequências sérias para seus atos, você logo encontra os homens procurando criar um mundo do jeito que eles gostariam que fosse, acrescentando à civilização arquitetura, poligamia, agronegócio, cultura e tecnologia.
"E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque; e a Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a Meujael, e Meujael gerou a Metusael e Metusael gerou a Lameque. E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da outra, Zilá. E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão. E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro" (Gn 4:17-22).
As consequências dessa época em que o Senhor agiu com graça deixando o homem livre em um mundo que era seu play-ground podem ser vistas mais adiante no mesmo livro de Gênesis.
"E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. E disse o Senhor: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito." (Gn 6:5-7).
Então vemos O Senhor trazer sobre o mundo todo um Dilúvio para passar uma borracha naquela civilização corrompida pelo pecado. Apenas uma família é salva, e não foi por falta de avisar os outros habitantes do mundo pré-diluviano, pois pela revelação que nos é dada no Novo Testamento sabemos que cento e vinte anos se passaram depois do anúncio do Dilúvio, durante os quais Noé pregou insistentemente aos homens para que se salvassem na arca que Deus mandara construir.
"[Deus] não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios." (2 Pe 2:5).
Mas não foi só com palavras que Noé pregou e nem mesmo apenas nesse período, pois o termo "pregoeiro da justiça" que lhe é dado por Pedro em sua carta pode muito bem mostrar que testemunhar de Deus e anunciar a justiça era uma atividade constante em sua longa vida. Dele é dito que "Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus." (Gn 6:9).
O projeto da arca que Deus deu a Noé não tinha direitos autorais e é de espantar que no dia do Dilúvio tão insistentemente anunciado não existisse uma frota de navios cheios de gente para habitar o novo mundo. Sim, todos eles escutaram os avisos, mas estavam por demais ocupados com as coisas desta vida para darem a devida atenção e acreditarem na Palavra de Deus dita por Noé e também nas histórias contadas por Adão e Eva. Nenhum daqueles, cujos espíritos se encontram hoje aprisionados no Hades, quiseram dar ouvidos à pregação do Espírito de Cristo que estava em Noé.
"E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos... Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual [Espírito] também foi, e pregou aos espíritos [agora] em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água." (Lc 17:26-27; 1 Pe 3:18-20).
Noé não conheceu pessoalmente Adão, pois nasceu cento e poucos anos após sua morte, mas ele e seus contemporâneos puderam receber informação de primeira mão, pois conversavam pessoalmente com pessoas que conviveram com Adão e Eva e ouviram relatos sobre Deus, o Jardim do Éden e a queda. Nos tempos de Noé viviam ainda Sete, Enoque, Cainá, Malaleel, Jared, Enoque, Matusalém e Lameque, apenas para citar a geração piedosa de Sete, que começou a invocar o Senhor após a morte de Abel. Todos esses morreram antes do dilúvio, e Enoque foi arrebatado sem passar pela morte.
Quando Noé e sua família saíram da arca, além de acabar com o vegetarianismo pré-diluviano, o Senhor institui algo que não tinha existido até ali, que é o governo humano como representante de Deus. Esta é a instituição que dá a homens o poder de julgar e condenar seus semelhantes, inclusive com pena de morte. Noé foi a primeira autoridade humana instituída por Deus.
"Certamente requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; da mão de todo o animal o requererei; como também da mão do homem, e da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem." (Gn (9:5-6).
Em tudo isso você percebe uma progressão: O homem cai em pecado, é deixado livre para viver como bem entender, a iniquidade se espalha até um nível insuportável, o Senhor avisa que vai colocar um ponto final na humanidade e recomeçar, dando a todos tempo de se arrependerem e correrem para o meio de salvação que Deus proporcionava. Não sei qual era a população da terra, mas certamente era bem maior que os oito seres humanos que foram salvas do juízo divino. Sai nas ruas e pergunte quem hoje dá crédito aos avisos que Deus dá em sua Palavra. Pois é, "como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos." (Lc 17:26-27).
As providências tomadas por Deus depois do Dilúvio, como a instituição do governo humano, se mostrariam ineficazes, não por falha divina, mas porque nada pode barrar a maldade humana. Ao longo da Bíblia você verá Deus criando outros mecanismos de controle, chegando ao ponto de escolher uma amostra da raça humana, um povo ao qual chamou Israel. Deus quis mostrar que até mesmo separando essa amostragem dos outros e dando a ela privilégios que os outros não tinham, o ser humano mostraria ser uma completa ruína.
Se você já leu os últimos capítulos dos evangelhos saberá qual foi o povo que condenou o Filho de Deus à morte, o mesmo Jeová que os libertou do Egito e lhes dava regularmente o maná nos quarenta anos em que peregrinaram no deserto. O mesmo Jeová que os introduziu na terra prometida e procedeu toda uma campanha profilática para impedir que a maldade e idolatria dos povos da terra contaminassem seu povo Israel.
Na medicina, quando um surto de doenças como ebola acontece, a primeira providência é isolar os doentes, colocá-los em quarentena. Agora imagine uma doença que fosse incurável e transformasse as pessoas nos zumbis que vemos em filmes de terror. O que fazer com elas? Sendo Deus o Criador dos seres humanos tem total direito sobre suas vidas. "O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela." (1 Sm 2:6). Não teria Deus o direito de fazer o que achar melhor com a humanidade que ele mesmo criou? "Não tem o oleiro poder sobre o barro" (Rm 9:21).
Talvez ajude entender como Deus se sente quando vê os seres humanos se adotarmos a perspectiva de Deus. Existem óculos que foram inventados para pessoas que sofrem de acromatopsia, que é a incapacidade de enxergar cores. Para elas o mundo é em preto e branco, mas quando colocam os óculos pela primeira vez até choram de emoção, e dizem: "Foi isso tudo que perdi?!".
Agora imagine que existissem óculos que nos permitissem enxergar as pessoas como Deus as vê, dominadas pelo pecado, arruinadas e irremediáveis em todos os aspectos. Veríamos zumbis ao nosso redor e faríamos tudo para fugir deles ou até exterminá-los. Enxergaríamos neles seres ameaçadores que a qualquer momento podem entrar numa escola, aeroporto e igreja e explodir ou fuzilar dezenas de pessoas.
Sabe o que aconteceria se de repente todos os seres humanos enxergassem a humanidade como Deus enxerga? Seríamos extintos em questão de horas, pois o mundo se transformaria numa carnificina de homicídios e suicídios, neste último caso quando você se olhasse no espelho.
O canal NatGeo tem um seriado que é um misto de documentário e ficção mostrando a conquista de Marte. Na primeira temporada, misturando entrevistas com cientistas e um drama ficcional, mostram os primeiros colonizadores do Planeta Vermelho e sua luta pela sobrevivência em um planeta hostil. Mas a segunda temporada começa com Marte já bastante colonizada, não apenas por cientistas das primeiras expedições, mas por empresas privadas, cada uma querendo levar vantagem em tudo. Continuando com o estilo que vai alternando entrevistas e cenas do mundo real com o drama da ficção, a colonização de Marte vai sendo comparada às sangrentas conquistas do Velho Oeste, do Ártico e de outras oportunidades da história terrestre. O homem não evoluiu nem um pouco e nunca irá evoluir.
Estou pintando esse quadro de filme apocalíptico para a humanidade, bem no estilo contaminação geral de zumbis, para dar uma leve ideia de como Deus tem sido gracioso na sua forma de lidar com a humanidade ao longo das eras. A sua pergunta não deveria ter sido por que Deus era tão cruel no Antigo Testamento, quando mandava matar populações inteiras, e sim por que Deus não zerou outras vezes o placar da humanidade, como fez no dilúvio!
A resposta é porque, depois de não deixar dúvidas de que toda a raça humana estava contaminada e sem condições de cura, ele decidiu começar tudo de novo, não com o velho homem numa nova terra ou em um novo planeta, mas com uma "nova Criação" a partir do protótipo que é Cristo ressuscitado. Mas para isso Deus precisou antes fazer o que fazemos com um lote de alimentos contaminados com salmonela ou com um plantel de vacas loucas: Deus decidiu incinerar todos os seres humanos!
Bem, ele não fez exatamente assim, mas escolheu um Homem no qual lançou toda a culpa dos outros, o próprio Filho de Deus. Na cruz Jesus foi feito holocausto em nosso lugar depois de ter sido feito pecado por nós. "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." (2 Co 5:21).
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)