https://youtu.be/I_wT4y76PZ4
Você pergunta se alguma vez ensinei alguma doutrina e depois o Senhor me mostrou que estava errado e precisei me corrigir. Sim, isso deveria ser a atitude normal de todo cristão, saber que não é infalível naquilo que diz. Sempre estou aprendendo, me corrigindo e sendo corrigido. É para isso que, ao falar de como os cristãos devem proceder no ministério durante as reuniões da igreja, a Palavra de Deus diz: "Falem dois ou três profetas, e os outros julguem" (1 Co 14:29). Devemos estar prontos a sermos corrigidos e também ter a liberdade de corrigir irmãos que cometam algum deslize no que ministram.
Não é exatamente o que você encontra nos cultos das denominações religiosas, onde um fala e os outros apenas escutam e sequer ousam discordar do pregador. Mas ai de nós se não tivéssemos irmãos idôneos para julgarem o que "profetizamos"! Felizmente estou cercado de irmãos assim atentos, com os quais estou congregado somente ao nome do Senhor, e também tenho acesso ao ministério escrito de outros irmãos mais experientes do que eu, alguns datados de até 200 anos, que me ajudam a manter o que digo dentro de certa coerência, além de contar (principalmente) com o Espírito Santo a me guiar.
Daí a importância de procurarmos julgar as fontes das quais bebemos, o que faço regularmente. Por exemplo, não leio e nem escuto autores e pregadores pentecostais, pois sei que muito do que dizem está permeado de erros. Já começa pelo fato de não terem certeza da salvação ou pregarem um evangelho misturado sensações da carne e boas obras como condição para se salvarem.
Muitos deles o fazem na ignorância porque aprenderam assim, mas deviam perceber que o jugo que colocam sobre os ombros de seus seguidores não é diferente daquele que foi denunciado pelo Senhor quando repreendeu os fariseus de seu tempo Será que você percebe alguma semelhança entre o que Jesus diz aqui e aquilo que encontra nas chamadas "igrejas" ao seu redor?
"Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas,e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi." (Mt 23:1-7).
Procuro também não dar ouvidos a autores e pregadores arminianos, pois eles darão certa ênfase à capacidade humana ao ensinarem que é o homem quem escolhe ser salvo, e não que isso é uma escolha que Deus fez na eternidade para cada um dos seus.
Autores e pregadores calvinistas, por sua vez, irão colocar uma ênfase tão grande na eleição que acabarão se esquecendo da responsabilidade humana no processo, já que na Palavra de Deus encontro as duas coisas — soberania divina e responsabilidade humana —, ainda que acredite que ninguém será capaz de apontar com clareza onde termina uma e começa a outra. Afinal ainda estamos vivendo num corpo de carne e não somos capazes de entender todos os desígnios de Deus, o que inclui também o entendimento intelectual da Trindade, algo impossível ao raciocínio humano, mas perfeitamente possível à fé.
Embora eu saiba que posso encontrar excelentes evangelistas entre esses autores e pregadores, quando começam a falar da Igreja eu viro a página ou troco de canal, e isso por uma razão muito simples: Quem está vinculado a uma organização religiosa chamada "Igreja Tal" não saberá ensinar o que é o um só Corpo de Cristo, a Igreja. Por estas e outras razões procuro primeiro filtrar as fontes e depois filtrar a água que emana delas. Sugiro que você também faça esse duplo julgamento — da fonte e da água — pois ao julgar a fonte poderá não ter de perder tempo julgando se a água que dela jorra é limpa ou não.
Mas voltando à sua pergunta, tenha em mente que a minha palavra não é a Palavra de Deus e a verdade que encontro ela não é a minha verdade. O que eu falo ou escrevo não é por inspiração divina, como fizeram os profetas e apóstolos, mas é a palavra de um ser humano como outro qualquer, apesar de eu procurar sempre citar a Palavra textualmente ou apontar livro, capítulo e versículo. Esta sim foi inspirada literalmente pelo Espírito Santo aos apóstolos e profetas. Eu falo como homem, assim como qualquer outro que prega ou ensina.
O dom de quem ministra tem a função de tornar as verdades das Escrituras acessíveis a seus leitores e ouvintes. Por isso o Senhor encorajava seus discípulos com estas palavras: "Todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas." (Mt 13:52).
Quem ministra é como um chefe de cozinha que precisa saber equilibrar bem os ingredientes dos pratos que prepara, mesmo que todos eles venham de uma mesma despensa, que é a Palavra de Deus. As "coisas novas" são aquelas que têm a ver com o que o Espírito Santo revelou com a vinda de Cristo ao mundo, mas é obrigação do "escriba instruído acerca do reino dos céus" tornar mais claras as muitas verdades do Antigo Testamento, que por muito tempo tinham sido impossíveis de serem entendidas por lhes faltar o que hoje temos no Novo. Ao falar dos profetas e mártires do Antigo Testamento, o Espírito Santo diz:
"Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar. Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo... E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados." (Hb 11:39-40; 1 Pe 1:10-13).
Eventualmente preciso me retratar de alguma coisa que disse, como quando chamei Maria Madalena de prostituta numa pregação e um irmão veio depois me corrigir, apontando que essa ideia é um boato antigo na cristandade. Por isso é preciso ficar atento com as coisas que aprendemos de algum sistema religioso e buscar saber se elas têm fundamento na Palavra de Deus.
Nas coisas que escrevo e publico, quando é o caso eu acrescento uma nota no final do que já foi publicado. Felizmente para livros publicados em formato eletrônico ou impresso sob demanda, hoje é possível fazer correções rapidamente, sem precisar imprimir as detestáveis "Erratas", aquelas tirinhas de papel que costumavam ser introduzidas nos livros já impressos. Mas o fato de eventualmente me enganar não invalida meu ministério escrito ou gravado, pois se assim fosse ninguém poderia escrever livros. Todos os que ministram estão sujeitos a falhas eventualmente.
J. N. Darby foi certa vez indagado por seu editor se queria que corrigisse o título de um de seus primeiros livros, pois havia um equívoco na expressão "A Igreja de Cristo", já que esta nunca é encontrada na Bíblia, e sim "Igreja de Deus". Ele respondeu para deixar com estava pois era o entendimento que tinha na época em que escreveu, e o leitor deveria estar ciente de que ele continuava aprendendo.
O caso mais emblemático comigo se deu depois que gravei um vídeo para o canal "O que respondi" e na hora de editá-lo percebi que havia falado algo errado. Era apenas uma frase, mas não poderia publicá-la assim. Como não queria voltar a gravar o vídeo inteiro, por causa do trabalho que iria dar e estava sem tempo para isso, gravei apenas minha fala correta em áudio para aquela frase e na edição inseri o áudio naquele ponto. Na versão texto não há como perceber a correção, mas no vídeo sim, caso o espectador for capaz de fazer leitura labial. Ele irá perceber que minha voz não está dizendo a mesma coisa que dizem os meus lábios.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)