https://youtu.be/sQwAxVdwqPI
Sua dúvida é se poderia considerar "jugo desigual" alguém congregado uma determinada comunhão de cristãos se casar com alguém, igualmente salvo por Cristo, mas que congregue em outro lugar. A pergunta foi originalmente feita, não no sentido de pessoas de diferentes denominações religiosas, mas de alguém congregado somente ao nome do Senhor sobre os fundamentos da Palavra de Deus e em comunhão à mesa do Senhor, que quisesse se unir em matrimônio a um cristão denominacional. A passagem de sua dúvida foi esta (o grifo é meu):
"Não vos prendais a um jugo desigual com os INFIÉIS; porque, que sociedade tem a justiça com a INJUSTIÇA? E que comunhão tem a luz com as TREVAS? E que concórdia há entre Cristo e BELIAL? Ou que parte tem o fiel com o INFIEL? E que consenso tem o templo de Deus com os ÍDOLOS? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso." (2 Co 6:14-18).
O versículo do jugo desigual é muito claro em apresentar um contraste entre um salvo e um perdido, e em minha opinião não seria honesto tachar como jugo desigual a união de dois salvos por Cristo pelo fato de não estarem congregados numa mesma comunhão. Outros princípios se aplicam para desaconselhar tal união, mas acredito que este versículo seja específico da associação da luz com as trevas, do crente com Belial, e um salvo por Cristo não é trevas e nem Belial, que é um ser maligno.
Eu sei que pode ser boa a intenção de quem aplica a passagem para desaconselhar a união entre um irmão à mesa do Senhor e alguém que, mesmo salvo, não esteja em comunhão. Mas quando eu já era convertido e antes de estar em comunhão congregado somente ao nome do Senhor eu jamais me consideraria um infiel ou alguém em trevas, pois tinha certeza de minha salvação.
O contexto todo de 2 Corintios 6 é o do paganismo. Acredito que os que forçam a utilização de uma passagem para criar uma doutrina devem se lembrar da advertência apostólica: "Para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito" (1 Co 4:6). Forçar a passagem para encaixar nela salvos por Cristo que não estejam em comunhão é um erro que pode levar as pessoas a duvidarem da integridade de sua interpretação bíblica. Podemos utilizar outras passagens para mostrar o problema de uma união de um irmão congregado ao nome do Senhor com alguém em uma denominação, mas não esta que você mencionou.
Bruce Anstey faz uma interessante observação relacionada ao assunto usando de outra abordagem, a saber, a diferença de um matrimônio "em Cristo" e um "no Senhor". Ele se refere à instrução dada para o casamento de uma viúva: "A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor." (1 Co 7:39).
Alguém poderia se casar "em Cristo" com outra pessoa em comunhão, devidamente congregada e à mesa do Senhor, mas mesmo assim não ser um matrimônio "no Senhor". Isso nos leva a pensar que uma união com alguém, mesmo cristão, que não esteja em comunhão, não será "no Senhor", mesmo que seja "em Cristo". E em seu texto ele frisa como sendo sua opinião que o irmão ou irmã deva buscar alguém na assembleia dos congregados ao nome do Senhor. Ele diz:
"A expressão 'em Cristo' designa nossa posição perante Deus. Estar 'em Cristo', posição na qual todo o crente está, é estar na posição de Cristo perante Deus, tal qual é a nossa aceitação individual. A epístola de João diz, '... porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo' (1 João 4:17). Assim como o Senhor Jesus está agora, descansando em todo o favor e aceitação de Deus, à Sua mão direita, assim estamos nós, na mesma posição, apesar de estarmos aqui neste mundo. Sua aceitação é a medida da nossa. Por outro lado, 'no Senhor' refere-se ao reconhecimento da autoridade do Senhor sobre nós, em nossas vidas, de uma forma prática.
Observe que Paulo não apresenta o casamento cristão como algo que deveria ser meramente 'em Cristo', mas, ao invés disso, deveria ser 'no Senhor!'. Isso é algo mais elevado. Todos os cristãos estão 'em Cristo', mas nem todo cristão vive sua vida 'no Senhor'. Se Paulo tivesse dito: '...contanto que seja em Cristo', isto significaria se casar com outro crente e nada mais. Não importaria como essa pessoa estivesse caminhando, contanto que fosse um filho de Deus. Mas ele não coloca essa questão nesse patamar.
Perceba também que ele não diz que, 'Ela tem liberdade para casar com quem quiser; desde que seja com alguém que esteja na assembleia'. Por quê? Eu penso que deveríamos nos casar com alguém da assembleia congregada ao nome do Senhor. Mas Paulo não diz isso porque pode ser possível que casemos com alguém reunido ao nome do Senhor e mesmo assim não ser um casamento 'no Senhor'. Não é porque alguém está na reunião que automaticamente essa pessoa está procurando seriamente viver sob o senhorio de Cristo. Por isso, se um cristão se casa com um crente que não esteja andando com o Senhor, isso seria um casamento 'em Cristo', mas não 'no Senhor'. (Você encontra o artigo na íntegra com o título "Companheirismo no Namoro e no Casamento", de Bruce Anstey).
Acredito que a questão fique mais nebulosa em nossos dias, quando é difícil saber se a outra pessoa é realmente convertida a Cristo ou meramente religiosa, membro de alguma religião católica ou evangélica. Muitos dos que conheço nas denominações, principalmente dentre as pentecostais, nem sequer têm a certeza de sua salvação. Alguns acreditam que precisem perseverar para se conservarem salvos, ou que precisem se batizados ou não terão salvação, ou que é pela participação na ceia que ficam garantidos, ou pelas ofertas e dízimos, ou frequência á igreja etc. Estão mais para o homem de Romanos 7, vivificado pelo Espírito e pela Palavra no novo nascimento, mas ainda vivendo em total incerteza, sem qualquer segurança de sua salvação, a qual só encontramos no homem de Romanos 8, ali já selado com o Espírito Santo.
Charles Henry Mackintosh aborda algo que pode ser aplicado também no matrimônio. Em sua coleção "Estudos sobre o Pentateuco" (Depósito de Literatura Cristã), cuja leitura aconselho a quem desejar entender a Bíblia, ele comenta o capítulo 1 do Livro de Números. Ali é registrada a genealogia de cada tribo de Israel, e o autor aplica isso à necessidade de um soldado ter certeza de sua genealogia. Ou seja, cada soldado israelita só podia ser considerado apto a lutar se pudesse indicar a tribo de Israel da qual fazia parte, o que evidentemente o colocava como um genuíno membro do povo de Deus.
"Então tomaram Moisés e Arão a estes homens, que foram declarados pelos seus nomes, e reuniram toda a congregação no primeiro dia do mês segundo, e declararam a sua descendência segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, pelo número dos nomes dos de vinte anos para cima, cabeça por cabeça" (Nm 1:17-18).
Mackintosh comenta:
"Há nisto alguma palavra para nós? Apresenta alguma lição espiritual para a nossa inteligência? Certamente. Em primeiro lugar, esta passagem sugere ao leitor esta importante pergunta: Posso eu declarar a minha descendência? Há grandes motivos para recear que existem centenas, senão milhares, de cristãos professos que não são capazes de fazer esta declaração. Não podem dizer clara e decididamente, 'agora somos filhos de Deus' (1 Jo 3:2). 'Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus'. 'E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa' (Gl 3:26, 29). 'Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus... O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus'. (Rom_8:14-16). Esta é a genealogia do cristão e é seu privilégio poder declará-la. E nascido de cima, nascido de novo, nascido da água e do Espírito, quer dizer, pela Palavra e pelo Espírito Santo. O crente faz remontar a sua descendência a um Cristo ressuscitado na glória. Esta é a descendência do cristão."
O capítulo 2 do Livro de Números irá mostrar como cada tribo de Israel deveria se acampar no arraial debaixo de seu próprio estandarte de forma ordenada, sem se misturarem. Embora esta passagem seja usada por alguns como argumento de que cada cristão deva se casar somente com alguém de sua denominação, vale lembrar que os diferentes estandartes assinalavam as tribos reconhecidas pelo Senhor como parte do mesmo corpo da descendência de Jacó ou Israel. Isso nada tem a ver com as diferentes igrejas ou denominações da cristandade que não são, de modo algum, reconhecidas ou apreciadas por Deus. Ao contrário, Deus chama de carnalidade toda divisão criada por homens no testemunho do único corpo de Cristo. O apóstolo Paulo já repreendia os cristãos de Corinto assim:
"Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?... Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? (1 Co 1:10-13; 3:3-4).
Então que lição há para nós, cristãos, nessas diferentes bandeiras ou estandartes? Que Deus nos livre de acharmos que possam ser as milhares de seitas em que os cristãos foram divididos. No que se refere a Israel, o tipo ou figura só chega até aí, pois nós, como cristãos, já fomos exortados a sair do arraial ou acampamento do judaísmo. Mas mesmo lá, no Livro de Números, esses diferentes estandartes que identificavam as tribos endossadas por Deus só demonstravam que eles eram um só povo. E é disso que Mackintosh fala na continuação de seu comentário:
"E agora quanto à 'bandeira'. O que é? É uma doutrina? Não. É um sistema teológico? Não. É uma organização eclesiástica? Não. É um sistema de ordenações, ritos ou cerimônias? Nada disso. Os guerreiros de Deus não lutam sob tais bandeiras. Qual é a bandeira da hoste militante de Deus? Escutemos e recordemos: É Cristo! Este é o único estandarte de Deus e o único pendão deste bando guerreiro que acampa no deserto deste mundo para sustentar a luta com as hostes do mal e batalhar as batalhas do Senhor. Cristo é o estandarte para todas as coisas. Se tivéssemos qualquer outro, seríamos por isso incapacitados para esse conflito espiritual a que somos chamados. Que temos nós, como cristãos, que batalhar por qualquer sistema de teologia ou organização eclesiástica? Que importância têm, no nosso parecer, as ordenações, cerimônias ou observâncias ritualistas? Vamos combater debaixo de estandartes como estes? Não permita Deus! A nossa teologia é a Bíblia. A nossa organização eclesiástica é o Corpo de Cristo, formado pela presença do Espírito Santo e unido à Cabeça viva e exaltada nos céus. Lutar por qualquer coisa que não seja isto é absolutamente indigno de um verdadeiro guerreiro espiritual. Ah! Infelizmente são tantos os que professam pertencer à Igreja de Deus e esquecem o seu próprio estandarte para lutarem sob outro pendão! Podemos estar certos que isto aumenta a fraqueza, corrompe o testemunho e impede o progresso. Se queremos ficar firmes no dia da batalha, não devemos reconhecer seja que estandarte for senão Cristo e a Sua Palavra — a Palavra viva e a Palavra escrita. É nisto que consiste a nossa segurança em face dos nossos inimigos espirituais."
Portanto, batalhar sob qualquer estandarte que seja, de uma igreja ou denominação, ou mesmo de alguém que não tem alguma denominação, é perder de vista que só existe um estandarte para o cristão e este é Cristo. Acreditar que os que se separaram das denominações que os homens criaram estejam agora sob um estandarte diferente que poderia ser chamado de "congregados ao nome do Senhor" ou "verdadeiro terreno de reunião", é perder de vista que a única coisa que pode identificar igualmente todos os cristãos é o nome de Cristo, e não o modo ou lugar onde estão congregados.
Se eu estou identificado sob este estandarte que é o Nome de Cristo e meu irmão ou irmã ali naquele templo da esquina foi salvo para ter sobre si o mesmo estandarte que é Cristo, não posso achar que eu seja diferente dele. O problema é que, por ignorância ou por conscientemente não se contentar com o Nome que está acima de todo nome, meu irmão ou irmã adotou para si o estandarte de sua denominação religiosa, e a partir daí limitou nossa comunhão. Não posso andar junto com alguém que defenda outro estandarte além do único que pode ser defendido por todo cristão, que é o nome de Jesus.
Na pior das hipóteses ele pode nem mesmo ter certeza do estandarte que carrega, estar ainda na condição de Romanos 7:24 bradando "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?". O profeta Amós perguntaria neste caso: "Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Am 3:3).
Ao afirmar que "se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; e, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir" (Mc 3:24-25) Jesus estava falando de uma condição de guerra civil, no reino e no lar.Como um casal administraria com alegria suas finanças se um insiste em sustentar uma organização eclesiástica e homens em profissões clericais, enquanto o outro não? E quando viessem os filhos, como ficaria a mente deles com um dos pais dizendo que Deus não se agrada das divisões que os homens criaram, e o outro ensinando que Deus se agrada sim? Aonde eles seriam encaminhados a adorar ao Senhor?
Portanto não faltam passagens e argumentos para desaconselhar a união com alguém que não esteja em comunhão, mas não esta passagem do "jugo desigual" de 2 Coríntios 6 pois, como já vimos, ali o contraste não é entre cristão e cristão, mas entre crente e incrédulo, fiel e infiel, justiça e injustiça, Cristo e Belial, templo de Deus e ídolos. Por isso me apego à questão de saber se o casamento será "no Senhor", o que pode não ser o caso mesmo com alguém em comunhão à mesa do Senhor. "A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto QUE SEJA NO SENHOR." (1 Co 7:39).
Todavia, se alguém que tenha uma comunhão saudável com o Senhor em sua vida diária, depois de esclarecido segundo a Palavra insiste em continuar associado a um sistema que declara ter seu próprio e particular estandarte estranho às Escrituras, pode-se perguntar: Estaria essa pessoa disposta a estar, não apenas em Cristo, mas também no Senhor?
Se alguém achava que já seria muito restrito buscar uma esposa ou esposo somente entre os irmãos congregados ao nome do Senhor, o que pensar então de ter de buscar também alguém que esteja "no Senhor" mesmo entre os congregados numa mesma comunhão? Porque alguém pode estar em comunhão à mesa do Senhor e mesmo assim não viver sob o senhorio de Cristo, mesmo sendo convertido, salvo e seguro de sua salvação.
Fica aqui a lição de casa para você que busca por uma esposa ou esposo. Uma vez certificando-se de que o outro claramente é convertido a Cristo, ore e observe sua vida, seus modos, comportamento, preferências, a maneira como honra seus pais, o amor para com os irmãos etc. Tudo isso poderá ajudar o jovem ou a jovem a avaliar se é alguém que está também no Senhor além de estar em Cristo.
Mas também é bom não se fiar muito nas aparências, pois Pedro, que parecia ser grande coisa, não foi páreo para Nicodemos, um discípulo que passou enrustido durante todo o relato dos Evangelhos, e na "hora H" mostrou-se mais fiel e consistente do que o tagarela Pedro, que dizia estar pronto para morrer pelo Senhor. Por isso eu disse primeiro: Ore.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)