https://youtu.be/K-FotR4l_ok
Você disse que ouviu de um irmão dizer que solteiros não poderiam ensinar na escola dominical, mas apenas casados com filhos. Eu entendo que a única condição para alguém ensinar crianças é ter a certeza de sua própria salvação e das doutrinas básicas da Palavra de Deus, pois a escola dominical nada mais é que uma pregação do evangelho para os pequeninos. E para pregar o evangelho é preciso antes conhecer o evangelho e a justificação pela fé no Senhor Jesus e em sua obra consumada e, no caso de crianças, ter alguma experiência e tato para lidar com elas.
Para melhor responder à sua dúvida permita-me explicar o caráter da escola dominical e como ela surgiu, pois não temos na Bíblia instruções definidas para uma atividade com este nome, mas temos muita coisa sobre evangelismo. As escolas dominicais tiveram seu início formal na Inglaterra em 1751, mas não se limitavam ao ensino da Bíblia. Elas alfabetizavam crianças que trabalhavam durante a semana e só podiam estudar aos domingos. À alfabetização formal eram acrescentadas lições da Bíblia.
Mas no catolicismo romano a aulas para crianças, chamadas de catecismo, já eram comuns séculos antes, e talvez esse tipo de atividade possa ser rastreado até o primeiro século. Digo isto por uma razão muito simples: o objetivo principal da escola dominical é evangelizar crianças, e sempre existiram irmãos e irmãs com esse desejo no coração. Mas lembre-se de que estou falando de escola dominical como uma atividade de evangelização de crianças, e não como classes de estudo bíblico para adultos como vemos em algumas religiões.
Com o tempo as escolas dominicais deixaram de cumprir o papel de alfabetização, para se concentrarem no ensino bíblico. As diferentes denominações religiosas criaram também classes para adultos, e hoje é comum encontrar cristãos que vão aos cultos para ouvir uma mensagem evangelística, devocional ou motivacional, mas recebem um aprendizado formal da Bíblia nas classes da escola dominical para adultos. É comum as classes serem criadas para diferentes faixas etárias.
Uma das dificuldades de irmãos que saem das denominações para estarem congregados somente ao nome do Senhor, conforme ensina a doutrina dos apóstolos, é se livrarem das "faixas". Digo isto usando como figura a ressurreição de Lázaro, que apesar de já estar vivo, continuava enrolado como uma múmia em faixas de tecido que limitavam seus movimentos. Em João 11:44 lemos que "o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.".
Assim como aconteceu com Lázaro, um cristão pode ter vida mas ainda estar tão enrolado nas faixas mortuárias que lhe foram colocadas pelo sistema religioso que não desfruta da "liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8:21). Ainda está sujeito ao ensino de irmãos genuínos, apesar de contaminados com má doutrina, ou de "falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão" (Gl 2:4).
O antídoto para isso foi dado por Paulo aos cristãos da Galácia: "Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão." (Gl 5:1). Aos Colossenses, influenciados não apenas pelo misticismo, mas também pelo legalismo, ele escreveu: "Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo". Esses são os "que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies; as quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne." (Cl 2:8, 20-23).
A primeira coisa a ser entendida por quem sai do sistema denominacional para estar congregado ao nome do Senhor é que não existe na Bíblia uma "escola dominical" como reunião da igreja ou assembleia. Mas existe o evangelismo, que pode assumir diferentes formatos, desde a pregação pública a pessoas de todas as idades que precisam conhecer a salvação que há em Cristo Jesus, até a evangelização de crianças em grupos mais seletos e divididos por idade para adequar-se à compreensão delas.
Mas definitivamente não existe "escola dominical" de adultos convertidos, porque estes devem aprender a doutrina e comunhão dos apóstolos do exercício dos dons nas reuniões da assembleia. Como as reuniões nas denominações, chamadas de "cultos", costumam ficar restritas ao comando e ensino daquele que tem o título de "pastor", muito é perdido no processo. Quando o "pastor" tem o dom de evangelista as pessoas nunca vão escutar além do evangelho. Se ele tiver o dom de pastor (falo do dom dado por Cristo, não do posto ou função delegado por uma instituição religiosa) as pessoas vão ser sempre consoladas, mas não aprenderão muita coisa. Se ele tiver o dom de mestre, pode ser que falte ensinar os rudimentos da doutrina cristã por ele se ocupar só de assuntos mais complexos. Por isso a doutrina dos apóstolos ensina que "E falem dois ou três profetas, e os outros julguem... Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados." (1 Co 14:29-31).
As reuniões de uma assembleia estão bem definidas em seus princípios em Atos, e depois são detalhadas nas epístolas. "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações." (At 2:42). Uma reunião de assembléia ou igreja é algo solene. Dois ou três reunidos ao nome do Senhor não são dois ou três irmãos que se encontram na casa de alguém ou no trabalho para falar de Cristo ou ler a Palavra. Se me reúno em casa com a família para lermos a Palavra — se oramos, trocamos idéias, rimos, vemos um vídeo da Bíblia, comemos um lanche —, isso não é uma reunião de assembléia, mesmo que existam mais de dois reunidos.
Quanto à sua dúvida, de que apenas irmãos casados e com filhos poderiam ensinar na escola dominical, não me lembro de alguma coisa na Bíblia dizendo isso. Paulo era solteiro, e acredito que ele estaria bem apto a pregar o evangelho a crianças. Darby e outros irmãos que viveram no século 19 e professavam a sã doutrina eram solteiros, e não acredito que se eles fossem pregar para as crianças alguém iria colocar impedimento. Afinal, nosso Senhor era solteiro e deixou muito claro que as crianças eram bem vindas a ele, quando seus discípulos tentavam colocar obstáculos a isso. Será que o Senhor colocaria regras de como levar o evangelho às crianças? Será que se algum discípulo fosse a ele contar que pretendia evangelizar crianças ele iria exigir uma certidão de casamento?
Na escola dominical não ensinamos nossa experiência mas o que encontramos na Palavra de Deus. A escola dominical não é berçário, é pregação do evangelho, e qualquer um que esteja apto a pregar o evangelho poderá fazer esse trabalho. Um casado pode não saber como conversar com crianças, portanto não é o estado civil que determina o dom. Uns podem ter maior ou menor empatia e facilidade de se comunicar com crianças e jovens, mas não devemos nos esquecer de que escola dominical é evangelismo. Se apenas casados estiverem aptos a ensinar na escola dominical seria preciso pedirmos para tirar as crianças da sala numa pregação do evangelho feita por um irmão solteiro.
Mas o bom senso também nos ensina que crianças de diferentes idades exigem diferentes tratamentos. Crianças muito pequenas podem necessitar serem ensinadas por irmãs que têm maior sensibilidade e instinto maternal de como lidar com os pequeninos. Adolescentes podem exigir um irmão que saiba como contextualizar a mensagem para as inquietações dessa idade. Acho que o que devemos procurar saber é se a pessoa está apta para a tarefa, mais do que saber seu estado civil.
Aqui pode surgir a dúvida se uma irmã poderia ensinar na escola dominical. A Bíblia proíbe que a mulher ensine, mas é evidente que isso não se aplica a crianças pois até a mãe e avó de Timóteo são louvadas por terem feito um bom trabalho com ele quando criança. É comum hoje as pessoas seguirem a própria opinião, ou aquilo que determina a moda e cultura, sem antes buscarem na Palavra. Isso é tão pernicioso quanto seguir regras adquiridas em uma religião sem fundamento bíblico para isso. Aqui vai o que diz a Palavra de Deus sobre os limites que o Espírito Santo impõe à mulher:
"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido [homem], mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão." (1 Tm 2:11-14).
A passagem é muito clara: o lugar da mulher é aprender em silêncio e sujeição, não ensinar e nem usar de autoridade "de homem", como aparece em outra versão desta passagem. Outro ponto importante é que Deus proíbe que a mulher fale nas igrejas, portanto isso já exclui uma boa parte do que vemos por aí, e neste caso não se trata apenas de ensinar, mas de pregar, falar, dar opiniões, fazer perguntas, conversar etc. durante as reuniões da assembleia.
"As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja." 1 Co 14:34-35
Em Limeira durante muitos anos foram irmãos solteiros que ficaram à frente da escola dominical, e irmãs no caso de crianças pequenas. Sempre entendemos que não havia nada de errado nisso. Então eu sugiro que quando alguém trouxer a você algum tipo de regra do tipo "Apenas irmãos casados podem ensinar na escola dominical" pergunte onde na Bíblia ele viu isso ou com base em que ensino dos apóstolos.
Muito provavelmente isso era uma regra praticada na religião de onde ele saiu e será preciso se desfazer dessa faixa também, como no caso de Lázaro. Se você reparar, o Senhor deu vida a Lázaro, mas não tirou suas faixas. Ele disse a outros para fazerem isso, e é este o dever de cada irmão em Cristo: ajudar os que saem dos sistemas religiosos a se desfazerem dos dogmas e costumes que não encontrarem sustentação na Bíblia.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)