https://youtu.be/pdXRydF4VIU
Depois de ouvir ou ler o que publiquei a respeito de um hino que diz "Porque sou dEle e Ele é meu", você voltou a levantar a questão perguntando se a expressão encontrada em Cantares 6:3 — "Eu sou do meu Amado e o meu Amado é meu" — só poderia ser aplicada exclusivamente no contexto judaico da relação entre Jeová e sua esposa Israel. Sua dúvida é se teríamos base bíblica temos para afirmar, não como Igreja, mas como indivíduos, que "Cristo é meu"?
As promessas feitas à Igreja, relacionadas à sua vida na terra, sua esperança e morada eterna, são as mesmas feitas ao crente individualmente, porque só pode existir a Igreja se existirem os que foram salvos um a um, e o crente só pode ser membro do corpo de Cristo coletivamente se tiver sido beneficiado individualmente com a salvação. Aliás, a melhor maneira de um crente manifestar todo o apreço que tem pelo que recebeu não é "Cristo nos salvou", falando como igreja, mas "Cristo me salvou", como indivíduo.
Entendo que todo crente pode dizer seguramente "eu sou dEle e Ele é meu", e muitos irmãos no passado entenderam assim. Se quiser ler mais a respeito sugiro que faça uma busca em www.stempublishing.com pelo termo "He is mine" mantendo as aspas. Minha busca trouxe 472 resultados de artigos e livros de autores do século 19 e conhecedores da sã doutrina. Uma variante da expressão, — "Christ is mine" —, acrescentou 402 resultados e talvez existam outras formas de dizer a mesma coisa.
Embora a aplicação primeira de Cantares seja a da relação de Jeová com sua esposa, os sentimentos envolvidos ali se estendem ao relacionamento do Senhor com a Igreja, como um todo, e não são diluídos quando chegam no crente individualmente. Um verdadeiro salvo por Cristo olhará para seu Senhor com o mesmo sentimento apaixonado de uma noiva que aguardou a vida toda pela chegada do Noivo.
Ora, dizer "Cristo é meu" não é muito diferente de dizer, como Tomé, "Senhor meu e Deus meu" (Jo 20:28). Você ouviu ali da boca do Senhor algo do tipo: "Não diga assim, Tomé, eu não sou seu Senhor e nem seu Deus"? Ao contrário, o Senhor apenas endossou as palavras de Tomé ao dizer: "Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram." (Jo 20:29).
Se você estivesse perto do sepulcro não teria corrigido as palavras de Maria quando os anjos lhe perguntaram: "Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram." (Jo 20:13). Acaso caberia ali aos anjos repreenderem Maria com algo do tipo: "Não, Maria, você está enganada, ele não é seu, é da Igreja como um todo, não particular". É claro que existe uma diferença entre dizer "Cristo é meu... meu Amado é meu... meu Senhor" e dizer "a bicicleta é minha porque eu paguei por ela". Não é disso que se trata a expressão.
Se perguntar quem não pode dizer "Ele é meu" a resposta é fácil: Aquele que nunca conheceu o fato de que Cristo se entregou por essa pessoa e morreu por ela. Se o Pai enviou o Filho ao mundo como um "dom" ou presente para o pecador, como diria eu que não ouso dizer que o "presente" é meu? Tudo o que é de Cristo passou a pertencer a mim porque Deus quis assim. Então é prova de fé assumir a posse daquele que Deus enviou ao mundo. "Graças a Deus pelo seu dom [presente] inefável!" (2 Co 9:15).
Veja como a expressão "é meu" pode ter diferentes formas de expressão, e nem sempre significar um objeto comprado com meus recursos. "Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus." (1 Co 3:21-23).
Esta passagem me dá autoridade para dizer que Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente e o futuro me pertencem, mas o bom senso me diz que Paulo não estava falando de bicicletas. E se eu disser que sou dono de tudo o que pertence a Cristo por direito? Também não estaria errando. "E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo" (Rm 8:17).
Spurgeon comenta Jó 19:25 — "Porque eu sei que o meu Redentor vive" — com estas palavras:
O cerne do conforto de Jó está na pequena palavra "Meu" - "Meu Redentor" e no fato de que o Redentor vive. Oh! que privilégio se apossar de um Cristo vivo. Devemos ter uma possessão nEle antes de podermos desfrutar dEle... Ora, um Redentor que não me redime, um vingador que nunca defenderá meu sangue, de que proveito seria? Não descanse satisfeito até que pela fé você possa dizer: "Sim, eu me lancei sobre o meu Senhor vivo; e Ele é meu". Pode ser que você o segure com uma mão fraca; você pensa que é presunção dizer: "Ele vive como meu Redentor"; contudo, lembre-se, se você tem apenas fé como um grão de mostarda, essa pouca fé lhe dá o direito de dizê-lo. Mas há também outra palavra aqui, expressiva da forte confiança de Jó: "Eu sei". Dizer: "Espero que sim, confio que sim" é confortável; e há milhares no rebanho de Jesus que dificilmente vão muito além. Mas, para alcançar a essência do consolo, você deve dizer: "Eu sei".
Darby escreve sobre Cantares:
A experiência dela a faz entender pela graça outro aspecto de seu relacionamento, provando um progresso real na inteligência da graça e na condição do coração. Não é mais o desejo que busca a posse do objeto para si mesma, é a consciência de que ela pertence a Ele. "Eu sou do meu amado." Este é um progresso muito importante. A alma que busca a salvação, que busca satisfazer os afetos recém-despertados, exclama, assim que é assegurado: "Meu amado é meu". Quando houve uma experiência mais profunda do eu, ele se reconhece como sendo Dele. Assim, com relação a nós mesmos, não é "Nós encontramos aquele de quem os profetas escreveram"; mas "Não somos nossos, pois somos comprados com um preço". Pertencer dessa maneira a Cristo, não pensando mais em si mesmo, é a felicidade da alma. Não é que percamos o senso da bem-aventurança de possuir o Salvador, mas o outro pensamento, o pensamento de ser Dele, ocupa o primeiro lugar.
Finalmente, um hino bastante conhecido diz:
O happy day that fixed my choice
On Thee, my Saviour and my God!
Well may this glowing heart rejoice
And tell its raptures all abroad!
'Tis done; the great transaction's done:
I am my Lord's, and He is mine;
I He drew me, and I followed on
Charmed to confess the voice divine.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)