https://youtu.be/YJEpRsuW86I
Você disse que não existe nenhuma assembleia de irmãos congregados somente ao nome do Senhor perto de sua cidade e queria saber se poderia celebrar a ceia do Senhor sozinho em sua casa por não poder congregar. Antes de mais nada você deve orar ao Senhor para que ele possibilite você ser recebido à mesa do Senhor, que é uma prerrogativa da assembleia congregada ao nome do Senhor com a autoridade que vem dele, e também para que ele acrescente outros em sua cidade com o mesmo desejo. Foi assim que começou cada assembleia, geralmente a partir de um coração desejoso de fazer a vontade do Senhor. Pode ter certeza de que ele honra a fé dos que desejam agradar-lhe em tudo.
A resposta curta para sua pergunta é "Não", e vou explicar a razão. Quando o Senhor instituiu a ceia isso foi feito em comunhão com seus discípulos, e um bom exercício é reparar também nos pronomes, que em nosso idioma estão ocultos. Para ajudar no entendimento estou colocando alguns entre chaves. "E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele OS DOZE apóstolos... E, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o ENTRE VÓS; porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus. E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho [A ELES], dizendo: Isto é o meu corpo, que POR VÓS é dado; fazei [VÓS] isto em memória de mim." (Lc 22:14, 17-19).
Quando ele falou de estar no meio dos congregados ao seu nome falou em "dois ou três", e a ceia é uma reunião dos congregados ao nome de Cristo, portanto, plural. "Porque, onde estiverem DOIS OU TRÊS reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." (Mt 18:20). Quando encontramos a ceia sendo celebrada em Atos, ou as instruções para ela nas cartas dos apóstolos, vemos claramente que é um evento plural e não singular. Até o uso dos verbos e pronomes pessoais demonstra ter mais de uma pessoa participando:
"E [ELES] perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações... E no primeiro dia da semana, ajuntando-se OS DISCÍPULOS para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com ELES; e prolongou a prática até à meia-noite... Falo como a entendidos; julgai VÓS mesmos o que digo. Porventura o cálice de bênção, que [NÓS] abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que [NÓS] partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque NÓS, sendo muitos, SOMOS um só pão e um só corpo, porque todos [NÓS] participamos do mesmo pão... Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai [VÓS], comei [VÓS]; isto é o meu corpo que é partido por VÓS; fazei [VÓS] isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei [VÓS] isto, todas as vezes que [vós] beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que [VÓS] comerdes este pão e [VÓS] beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha." (At 2:42; 20:7; 1 Co 10:15-17; 11:23-26).
Outro ponto a ser lembrado é que passagens como Mateus 18:15-20 revelam que a assembleia reunida ao nome do Senhor e contando com sua a autoridade de sua presença no meio julga aqueles que participam da mesa do Senhor e por conseguinte da ceia do Senhor. Em 1 Coríntios 5 aprendemos de um homem que foi excluído dessa comunhão por estar em pecado, o que demonstra que existe responsabilidade e vigilância constante para se manter a mesa do Senhor livre de pessoas que estejam abertamente vivendo em pecado. Muitos que se apegam unicamente à passagem "examine-se, pois, o homem a si mesmo" (1 Co 11:28) perde de vista que existe também um exame que é responsabilidade da assembleia local, que tem autoridade para receber ou excluir alguém da comunhão.
Portanto sempre que tiver uma dúvida pergunte a si mesmo: "O que a Palavra de Deus diz a respeito disso? Como os apóstolos ensinaram? Como eles faziam?". Assim você estará seguro de não seguir tradições de homens e nem suas próprias ideias. Um exemplo de se deixar guiar pelas próprias ideias é a conclusão a que chegou uma mulher em uma postagem na Web: "O Espírito Santo sempre está com você, portanto você nunca estará sozinho mesmo que celebre a ceia só com o Espírito Santo". Aparentemente ela não entendeu que o Espírito não come do pão e nem bebe do cálice, e que a ceia foi instituída visando ser uma recordação do Senhor e um anúncio de sua morte a ser feito pelos que foram salvos por meio daquele sacrifício que é representado ali. O Espírito Santo nunca precisou ser salvo. Este texto de S. Ridout pode ajudar a compreender melhor o caráter coletivo da ceia do Senhor:
As Características Corporativas da Ceia do Senhor
S. Ridout
Para aqueles que a apreciam corretamente, a ceia do Senhor ocupa um lugar absolutamente único. Suas memórias sagradas e ternas lembrando a Pessoa e a obra de nosso abençoado Senhor; seu lembrete da plenitude da bênção que é nossa e do local de proximidade que ocupamos durante a Sua morte; a visão brilhante da eternidade que se abre em conexão com ela: - estas e muitas outras características fazem de sua celebração uma expressão da mais completa comunhão, do mais absorvente amor, da mais triunfante adoração.
Para aqueles que não entendem essas coisas, palavras não são suficientes para transmitir o precioso privilégio de se lembrar do Senhor no partir do pão. Há nisso um encanto e uma atração que são divinas. Não depende de elementos externos, de lugar ou forma; essas coisas apenas estragariam as singelas perfeições da ceia para sua devida observância. O ministério da Palavra, por mais proveitoso que seja, não é necessário. O povo do Senhor se reúne, em dependência unicamente dele, para se encontrar com ele e lembrar dele. Se existir um ministério da Palavra, seu lugar será como pano de fundo. Qualquer tipo de cerimonialismo seria uma intrusão e invasão no ministério livre e gracioso do Espírito Santo, cujo prazer é ocupar-nos somente com Cristo. Mas vamos examinar um pouco o caráter dessa festa, tão maravilhosa em sua simplicidade.
Roma colocou suas mãos profanas sobre ela transformando-a em blasfema idolatria — o sacrifício perpétuo da missa, na qual o "corpo, sangue, alma e divindade de Cristo" são formados por algumas palavras do padre. A alma é invadida de horror diante dessa blasfêmia e arde com indignação contra um sistema que professa dar a salvação através de uma perversão da verdade.
No protestantismo, pela misericórdia de Deus, tudo isso mudou, e grande parte da simplicidade que marcou a instituição da ceia foi restaurada. E, no entanto, embora não seja considerado um meio de salvação, ainda está desfigurada em alguns detalhes mais importantes. É considerada como um "meio de graça"; e é primeiro "consagrada" e depois "administrada" por algum homem ordenado. Indagamos carinhosamente: Onde há no Novo Testamento uma pista de que essa ceia deve estar nas mãos de um indivíduo, não importa quão dotado ele seja, para atuar como anfitrião ou dispensador? O ato de dar graças e partir o pão não exige nada mais que poder participar disso de forma digna.
Repito que, longe da ceia ser um meio de graça, tal pensamento seria um obstáculo à sua devida observância. Infelizmente, somos tão egoístas que gostaríamos de fazer com que todas as coisas, espirituais e temporais, nos acrescentassem algum valor. Mas a Ceia do Senhor é um memorial de Cristo, e ele é o objeto de adoração nela. É verdade que nunca podemos estar ocupados com ele sem receber bênçãos em nossas almas; mas isso nunca deveria ser o objetivo, mas apenas um resultado.
Chegamos então a uma definição simples da ceia do Senhor, e o que é necessário para que se participe dela dignamente. A ceia é um banquete memorial instituído por nosso Senhor, "na noite em que foi traído", onde o pão e o vinho lembram o seu corpo entregue e o seu sangue derramado por nós. Ele não apenas deu instruções para sua observância, mas estas são repetidas ao apóstolo Paulo (1 Coríntios 11) a partir de seu lugar na glória. Assim, vinculamos adequadamente Cristo em sua humilhação e em sua glória, o que sugere as palavras: "anunciais a morte do Senhor, até que venha" (1 Co 11:26).
Para participar dignamente da ceia deve-se desfrutar, antes de tudo, da certeza da salvação. Dizemos certeza, pois, se ainda existirem na mente dúvidas ainda sem resposta quanto ao interesse pessoal de alguém na obra de Cristo, elas se intrometerão no lugar que somente ele deveria ocupar, e a ceia se tornaria uma formalidade sem sentido, amortecendo a consciência e o coração, ou então uma tortura para a alma sensível, em vez de um alegre ato de adoração. É a maior crueldade pressionar a "partir o pão" uma alma ainda com dúvidas.
Em seguida, após a certeza, deve existir no participante um estado de comunhão que é produzido pelo julgamento de si mesmo e de seu andar. Onde isso estiver faltando, o próprio conhecimento da graça só servirá para endurecer o coração e entristecer o Espírito Santo. O pecado é julgado, o eu é detestado, e então, nessa doce certeza da graça, participa-se da festa. "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim [examinado] coma deste pão e beba deste cálice." (1 Co 11:28).
Chegamos assim, depois do mais simples esboço, àquilo o que é o assunto diante de nós — os aspectos corporativos da ceia do Senhor. Nunca é demais enfatizar a necessidade de se agir corretamente como indivíduo, quanto ser isso também a base indispensável de se estar agindo corretamente do ponto de vista eclesiástico. O que poderia ser mais repulsivo para uma mente espiritual do que transformar em uma questão de opiniões teológicas e eclesiásticas o memorial do amoroso amor que levou Jesus à morte, e que permanece como único por toda a eternidade? Gostaríamos de desafiar, a nós mesmos e a nossos leitores, a preservarmos sempre em nossa alma a memória desse amor que sempre resulta em terna adoração.
Mas, por essa mesma razão, gostaríamos de abordar nosso assunto com confiança. É por causa da preciosidade do tema e da santidade do ato que ele deve ser protegido por aquelas barreiras divinas que, em abençoado contraste com as do Sinai colocadas para excluir o povo, serviam como um local de abrigo para todos eles daquilo que os contaminaria ou dificultaria o exercício mais livre de adoração, sem levantar questões perturbadoras. Isso mostra claramente a importância do assunto, e podemos dizer que fornece a marca distintiva da diferença entre a observância da ceia do Senhor de forma bíblica e sem base bíblica.
Começaremos citando uma passagem que acreditamos mostrar o lugar que a ceia do Senhor ocupa na ordem da Igreja. "Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão... não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios."(1 Co 10:16-17, 21). Existem três características proeminentes nesses versículos: comunhão no corpo e no sangue de Cristo (Sua obra), o reconhecimento de seu Senhorio e a unidade da Igreja. Não seria possível omitir um desses aspectos e ainda assim manter uma observância bíblica da ceia do Senhor.
Deixe-nos explicar melhor: não citamos a última parte desta passagem para dizer que uma observação não bíblica da ceia do Senhor faça dela uma "mesa dos demônios". Pode haver muita, muita coisa, que não seja bíblica, e, no entanto, se Cristo for confessado, e sua morte mostrada no pão e no cálice, não ousaríamos aplicar esse termo. A "mesa dos demônios" é o altar dos ídolos, onde são oferecidos sacrifícios aos demônios, e aqueles que participam deles estão ligados aos demônios.
Mas apesar de negar a aplicabilidade do termo a qualquer mesa cristã, queremos chamar a atenção para a outra expressão "mesa do Senhor" e insistimos no fato de que ela sugere obediência e sujeição a ele em todas as coisas. Portanto, seria por demais inconsistente fazer com que tudo deveria estar conectado a essa mesa em desacordo com sua vontade. Quanto a isso, confiamos que todos irão concordar.
Igualmente essencial e impossível de estar separada de seu Senhorio, é a exibição da obra expiatória de Cristo. Aquilo que falhasse em enfatizar sua morte, não meramente sua vida, e sua morte como sacrifício expiatório pelos pecados — seu sangue "derramado por muitos, para remissão dos pecados" — deixaria de exibir o que é verdadeiramente a ceia do Senhor.
Menos claro, talvez, para muitos, seja o terceiro ponto, de que a ceia do Senhor exibe a unidade da Igreja. E, no entanto, será que alguém que venha a ler a passagem deixaria de enxergar que isso é proeminente? O pão simboliza o corpo de Cristo. Mas acreditamos que exista uma precisão divina em falar de apenas um pão. Nos doze pães da proposição, também temos Cristo apresentado diante de Deus, mas o número nos lembra a unidade de Israel — as doze tribos apresentadas em Cristo diante de Deus. Do mesmo modo, o único pão na mesa do Senhor sugere não apenas Cristo, mas a unidade de sua Igreja que é o seu corpo.
Mesmo aqueles que questionam isso admitem imediatamente que outra cláusula liga claramente a unidade da Igreja ao único pão — "porque todos participamos do mesmo pão". Aqui temos um fato solene a considerar. Qualquer celebração da ceia do Senhor que ignore a unidade do corpo de Cristo não é bíblica. As divisões em Corinto são dadas como uma razão pela qual era impossível celebrá-la (1 Coríntios 11:18-21). Voltamo-nos para outra passagem familiar na mesma epístola: "Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa... com os ázimos da sinceridade e da verdade... Não julgais vós os que estão dentro?" (1 Co 5:6-13).
Pode-se dizer que o participar da ceia do Senhor não é mencionado nesta passagem, mas ela nos dá realmente uma característica mais importante de todo o assunto. Aqui está a comunhão cristã, e quem faz o mal deve ser afastado da companhia do povo do Senhor. Mas a ceia é a mais alta expressão de comunhão; não há nada no cristianismo que expresse tanto a comunhão. Afastar alguém de sua companhia incluiria, antes de tudo, a exclusão da mesa do Senhor. Inquestionavelmente isso seria seguido da exclusão da pessoa da companhia dos santos até que o arrependimento se manifestasse. Mas seria impossível pensar em alguém que fosse afastado da companhia dos santos e ainda assim pudesse partir o pão. Assim, a passagem que citamos enfatiza a necessidade de santidade nos participantes da ceia do Senhor.
Devemos lembrar de que essa santidade não é deixada ao julgamento do indivíduo, mas é aqui colocada nas mãos da assembleia, que é corporativamente responsável por por examinar o caminhar de todos os que são recebidos à mesa do Senhor, ao menos naquilo que é manifesto. Caim poderia perguntar em desafio: "Sou eu guardador do meu irmão?" (Gn 4:9), mas para o povo do Senhor existe apenas uma resposta para isso: somos membros uns dos outros e devemos ter o mesmo cuidado uns pelos outros. Somos tão responsáveis por julgar o mal em nosso irmão quanto em nós mesmos, e isso não é só por causa dele, mas pela honra de nosso Senhor. Toda a assembleia e o testemunho de Cristo nela estão ligados ao que é permitido nos indivíduos que a compõem. Isso não inclui necessariamente o que recebeu a censura da assembleia, que pode não achar justo o extremo da disciplina. Mas é um pensamento solene que o santo nome de Cristo esteja ligado a toda mundanidade, desobediência, aliança profana com falsa doutrina e prática que a Assembleia permitir. "Um pouco de fermento faz levedar toda a massa" (1 Co 5:6) torna-se, portanto, não uma doutrina abstrata, mas uma verdade pungente e prática.
Assim, encontramos quatro características distintivas de uma celebração bíblica da ceia do Senhor: Sua morte expiatória, seu senhorio, santidade e a unidade de sua Igreja, e todas essas coisas estão centradas em sua própria pessoa bendita. Nossa responsabilidade é julgar a nós mesmos e àqueles a quem recebemos por esses princípios divinos. Vamos aplicá-los.
A base de toda a nossa paz é a morte expiatória de nosso Senhor Jesus Cristo. Qualquer pessoa que negue isso, seja de que forma for, quanto ao valor da obra ou à natureza da Pessoa que a executou, não seria adequada para participar, e seria desleal para nosso Senhor recebê-la.
Intimamente ligado a isso, qualquer pessoa pessoalmente livre desses erros, mas que ainda mantivesse comunhão com alguém que tenha opiniões inflexíveis sobre esses pontos fundamentais, seria igualmente, se não até mais, indigna de se lembrar do Senhor. Em um caso, pode ser ignorância, ou um coração cego por Satanás, mas, no outro, seria considerado um ato aberto e deliberado de tolerar aquilo que desonrou nosso Senhor. Gostaríamos de sinceramente insistir com respeito àqueles aos quais o nome de nosso Senhor é querido, que são identificados com congregações onde são ensinadas visões não bíblicas da expiação e de outras verdades fundamentais. Como eles poderiam continuar seguindo onde nosso Senhor é ferido novamente na casa de seus professos amigos? Tememos muito que o número de falsos professos esteja aumentando, e cada vez mais há necessidade de se exercitar quanto a isso.
Passando para o próximo item, quão abrangente é a área em que o auto-exame é coberto pela palavra "Senhor". Será que ele está sendo de fato Senhor e Mestre, e sua vontade recebida como absoluta? Como poderia um caminhar em desobediência estar conectado à sua mesa? Concedemos a mais ampla margem de folga para a fraqueza e a ignorância, mas sentimos a grande importância desse assunto. A mesa do Senhor certamente deve ser marcada pela sujeição a ele, e, embora possa existir paciência pela ignorância em casos individuais, certamente a obediência a ele é esperada de todos. Em questões morais, ninguém contestaria isso, mas muitos provavelmente interporiam objeções sérias ao que se segue.
Cada vez que a ceia do Senhor é celebrada de forma bíblica, a unidade da Igreja também é anunciada. Não há dúvida de que o estado dividido da cristandade é uma mancha na honra de nosso Senhor aqui. Ser indiferente a esse estado de ruína mostra, com toda a certeza, uma triste falta de afeto por Cristo ou densa ignorância daquilo que lhe é devido. Portanto pessoas que exibam essa indiferença quanto àquilo que o Senhor tanto preza demonstra uma incapacidade de realmente celebrarem a festa.
Aqui, porém, devemos nos proteger cuidadosamente contra uma estreiteza que tornaria a mera inteligência o único teste. Sempre haverá alguns que, embora tenham um amor ardente pelo Senhor, deixam de cumprir suas responsabilidades quanto ao testemunho. Certamente, a graça os encontraria de acordo com a luz que eles possuem. Mas esses casos são excepcionais, e não é para esses que falamos. Nós nos referimos àqueles capazes de entender a importância de manter um testemunho de Cristo, e aqui acreditamos que deve existir o maior cuidado na recepção destes. Todo o caráter de uma reunião pode ser alterado pela recepção de uma ou duas pessoas que não estejam claras quanto à sua responsabilidade nesse assunto.
Recordar o Senhor no partir do pão é, portanto, um ato corporativo, envolvendo as mais sérias responsabilidades quanto à disciplina e ordem da Igreja. O próprio fato de não ser feito por um indivíduo, mas sempre por "dois ou três" deveria ao menos demonstrar isso. Deve haver um lugar limpo, espiritualmente falando, onde nos encontramos, de acordo com a santidade da casa de Deus; deve existir o reconhecimento do senhorio de Cristo e um esforço para manter os princípios da unidade da Igreja de Deus. Isso envolve exercício e cuidado na recepção, e a manutenção da ordem divina na assembleia local, e o reconhecimento de cuidados semelhantes quanto às outras reuniões.
Quanta oração, firmeza e paciência tudo isso requer, e somente aqueles que se esforçaram para realizá-la podem apreciar. Muitas vezes, pode surgir a pergunta: vale a pena os cuidados e os problemas? E com tanta frequência a resposta pode ser dada: "Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa." (Ap 3:11).
Se fosse uma questão de facilidade pessoal, aconselharíamos qualquer um a evitar esse caminho de fidelidade solitária e muitas vezes incompreendida, mas se agradar a Cristo for nosso objetivo, procurar realizar sua vontade e exibir, mesmo em meio à ruína da Igreja professa, até mesmo um pequeno testemunho de como sua Igreja deveria ser, podemos apenas procurar orar e incentivar um ao outro.
Voltando agora ao lado individual de nosso assunto, podemos desfrutar de toda a doce comunhão com nosso Senhor implícita na celebração dessa festa, juntamente com um senso de sua aprovação de nossos fracos esforços para honrá-lo, e intensificados pela comunhão de mentes afins que, como nós, procuraram guardar sua palavra e não negar seu nome. Que ele, o Senhor da sua Igreja, desperte em nós todo o amor e devoção a si mesmo, amor mais verdadeiro ao seu povo, evidenciado pela obediência à sua vontade (2 João 6), e maior humildade ao tentar realizar essa vontade!
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)