https://youtu.be/v79GMBG_E0Y
Alguém me escreveu perguntando sobre uma frase em que eu dizia que Deus não está muito interessado em disciplinar o incrédulo, que às vezes é deixado seguir o seu caminho. Quando disse isso eu pensava na famosa dúvida “Por que prospera o ímpio?”. Esta pergunta Jeremias fez há séculos assim: "Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente?". A explicação é que Deus permite que o ímpio prospere porque em sua ganância está sua queda.
Este é um dos problemas da chamada “Teologia da Prosperidade”, tão anunciada pelos modernos pregadores nas rádios e TVs, que promete prosperidade àqueles que fizerem contribuições em dinheiro ou cumprirem tudo o que eles determinam em suas pregações. Ora, a grande maioria dos milionários jamais pensou em Deus, e mesmo assim enriqueceram. Logo não existe fundamento para a ideia de que as riquezas vêm como recompensa de uma vida de obediência a Deus, apesar de ter sido essa a promessa dada ao povo de Israel no Antigo Testamento, cuja esperança estava na terra, não no céu.
Mas a principal razão da pergunta que essa pessoa fez foi eu ter dito que o crente, mesmo depois de salvo por Cristo e levando uma vida de obediência a Deus, pode ser afligido por um Pai que o disciplina, enquanto o incrédulo é deixado a viver, usando a expressão popular, “do jeito que o diabo gosta”. Respondi mostrando que a própria pergunta "Por que Deus disciplina os que são seus, e não os ímpios, os pecadores, os inconversos?" já induz à resposta: “Porque os salvos lhe pertencem!”.
No versículo 4 do capítulo 3 de 1 Tessalonicenses lemos: “Pois, estando ainda convosco, vos predizíamos que havíamos de ser afligidos, como sucedeu, e vós o sabeis”. Havíamos de ser afligidos! Em Atos 9 quando Paulo se converteu, o Senhor revelou a Ananias que Paulo haveria de sofrer pelo nome de Cristo. E, depois de convertido, Paulo, que antes perseguira os cristãos, não só sofreria pelo fato de ser cristão, mas também para impedir que seu ego sucumbisse ao orgulho. As revelações que recebeu seriam tão elevadas que o Senhor permitiu que lhe fosse colocado um espinho em sua carne, que Paulo chamaria de “mensageiro de Satanás”.
“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” (2 Co 12:7-10).
A Bíblia não diz o que exatamente era seu espinho na carne — se era uma enfermidade, uma aflição ou até mesmo um anjo caído ou um espírito maligno que o afligia. Sabemos que Satanás, seus anjos e demônios estão a serviço do Senhor, mas não podem afligir a um santo de Deus além do que lhes for permitido e determinado. Além disso, ao contrário de um verdadeiro crente em Jesus, eles são ignorantes da Verdade. Por isso, quando recebem do Senhor uma tarefa, como a que foi dada a Satanás pelo próprio Senhor para afligir a Jó, acreditam estar causando mal, quando na verdade são apenas instrumentos de maior bênção.
Apesar de não termos clareza quanto à natureza desse espinho na carne, sabemos que Paulo era afligido constantemente por ele, uma aflição distinta daquela que vinha dos inimigos do evangelho. O espinho era uma aflição que o Senhor havia permitido por saber que sua carne poderia se exaltar em função das revelações que havia recebido. Por isso Paulo diz, “para que eu não me gloriasse, o Senhor me deu um espinho na carne”. Sabemos que por três vezes ele pediu em oração para que isso lhe fosse tirado, mas o Senhor não o fez, pois sabia que, para Paulo, seria melhor viver com um espinho na carne do que sem ele.
Muitas vezes eu e você nos decepcionamos por não estarmos vendo nossas orações sendo atendidas e Deus resolvendo alguma aflição momentânea ou permanente que nos faz sofrer. Oramos e indagamos, aflitos, “Será que o Senhor não está escutando?”. Sim, Ele está, e também sabe o que é melhor para nós. Sempre me lembro da história daquela enfermeira cristã que trabalhava num hospital e, além de ser massacrada pelo excesso de trabalho dado por médicos e enfermeiros, era tratada com desrespeito por eles.
Um dia, um médico sentindo compaixão, foi falar com ela e, sabendo que ela era cristã, perguntou-lhe por que não se rebelava, alegando: “Até o seu Deus sabe o que você está passando!”, ao que ela respondeu: “Exatamente, ele sabe!” Ou seja, ela estava tranquila porque o Senhor sabia o que estava acontecendo. Assim é a aflição, ela vem como prova para nós como veio para o apóstolo Paulo, que apesar de sair de uma posição tão elevada dentro do judaísmo, e passar de perseguidor a perseguido, sofria provas e perseguições que o ajudavam de várias maneiras.
Uma maneira como as provas nos beneficiam é descrita em 1 Pedro 1:4-9. Depois de falar de nossa “herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós”, o que é importante para sabermos que nossa herança está guardada nos céus e não na terra, o apóstolo Pedro continua no versículo 5: “Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa que estejais por um pouco contristados com várias tentações [ou provações]”. Como assim “importa”? Significa que é necessário! É importante também entender que o sentido aqui não é o das tentações no sentido popularmente usado de algo que desperte os desejos da carne, mas de provas, testes ou provações, como a passagem segue dizendo:
“Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” (1 Pe 5:4-9).
É para isso que serve uma prova ou teste, para eu e você sermos aperfeiçoados, não no sentido de evolução, mas de crescimento; para aprimorar sua fé a fim de que que ela seja provada como se faz com o ouro. Quando um ourives vai trabalhar um metal precioso, que pode ser ouro ou prata, ele o derrete no fogo. Isso faz com que o metal puro se derreta e outras substâncias e impurezas do metal se separem dele, como quando colocamos água e óleo num copo e o óleo flutua sobre a água. Do mesmo modo como no ouro ou na prata as impurezas são separadas através do fogo, assim também é com o fogo das provações que atingem o cristão, revelando e separando o que é verdadeiramente precioso daquilo que não passa de escória.
Uma outra razão da provação é aquela que o próprio Paulo irá mostrar em 2 Coríntios 1:3: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo”.
Como você seria capaz de consolar alguém se nunca tivesse passado por qualquer tribulação, aflição, dor ou problema? É evidente que se você foi consolado por Cristo em alguma prova saberá onde encontrar essa consolação para compartilhar esse recurso com outras pessoas. Você não ficará falando de seu problema, não irá se gabar de sua resistência ou coragem por ter passado por aquilo. Você irá apontar para Cristo, pois um dia dependeu dele e foi consolado, o que o capacitou a dizer, de experiência própria, “Ele me consolou!”, assim como quando você prega o evangelho e diz: “Ele me salvou!”. Você sabe que foi consolado tanto quanto sabe que foi salvo. Paulo falava dessa certeza em 2 Timóteo 1:12, quando escreveu: “Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia.”.
É estranho encontrar alguém que se diz cristão pregando o evangelho e, quando indagado se está salvo, responder: “Não sei, não tenho certeza, espero que sim, só vou saber depois...” etc. Ora, se você não tem a certeza da sua salvação é melhor fazer primeiro a lição de casa e depois ir falar às pessoas. Pois se você nem mesmo tem certeza de que o remédio para os pecados que está anunciando resolveu seu problema, como irá querer convencer outros a tomarem o mesmo remédio?
A certeza da salvação é uma ferramenta importantíssima na pregação do evangelho, ou faltará a você a autoridade de ter comprovado a eficácia do remédio antes de indicá-lo a outros. Se você vier me perguntar o que eu acho de tal carro, e eu disser que é ótimo e que você pode comprar sem receio. Mas se você perguntar também se eu já tive esse carro ou se já andei nele, e eu responder que não, será que você acreditará em meu testemunho? Não posso aconselhar alguém a comprar um carro que não conheço!
"Eu sei em quem eu tenho crido", disse Paulo. Cada cristão salvo por Cristo pode dizer isso de boca cheia, pode compartilhar com segurança as boas novas, pois sabe em quem creu. Se ainda não souber, se ainda não tiver certeza, que volte a fazer a lição de casa até encontrar esta certeza que é abundantemente mostrada na palavra de Deus. Antes que me diga que seria muita pretensão afirmar que está salvo, saiba que a salvação é exclusivamente pela fé e recebida de graça, portanto esta é uma certeza que não está baseada no seu andar, nem nas suas obras, e muito menos em sua frequência a alguma igreja. A certeza da salvação está fundamentada apenas na obra de Cristo.
Continuando meu assunto, que é a razão de nosso sofrimento, em Hebreus 12:1 lemos algo que demonstra a razão de nós, salvos por Cristo, sofrermos muitas vezes até mais do que aqueles que nunca conheceram a Cristo e não se importam com Deus: “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas”.
Abro aqui um parêntese para dizer que é errada a ideia de algumas religiões cristãs, de que esses seriam os salvos que morreram e que estariam agora debruçados numa espécie de varanda no céu olhando para nós aqui na terra, esperando que façamos as coisas certas e ajamos corretamente. Não é isso! Não acredito que os que estão no céu neste momento estejam muito preocupados com o filme que está passando na terra, porque eles têm Cristo bem diante deles. Eles podem olhar o tempo todo para Cristo e se deliciar na sua presença ocupando-se com ele.
O Senhor sim, está olhando para nós e velando por nós; o Espírito Santo também está ocupado conosco, nos capacitando a andar aqui de modo agradável a Deus. Até mesmo nossas orações são corrigidas por ele antes de serem colocadas diante do trono da graça. “O Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis, e aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos.” (Rm 8:26-27).
Então que “grande nuvem de testemunhas” seria essa que nos rodeia? Todos os mencionados no capítulo anterior, o capítulo 11 de Hebreus, que algumas Bíblias trazem um subtítulo chamando-os de heróis da fé. São todos aqueles que, quando viveram no mundo, honraram a Deus por sua fé, mesmo não conhecendo ainda a revelação completa que temos hoje, e sem a qual eles próprios não seriam aperfeiçoados. “E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.” (Hb 11:39-40).
Ao contrário dos santos da era atual, eles não tinham a revelação completa, mas mesmo assim tiveram fé e sofreram martírios horríveis, como açoites, cadeias, prisões, apedrejamento, tendo sido serrados ao meio ou mortos ao fio da espada. O que o Espírito Santo quis dizer foi que não estamos sós quando sofremos, pois uma grande nuvem de pessoas deu testemunho das mesmas coisas e até piores, ficando firmes até a última gota de sangue.
O capítulo 12 de Hebreus continua nos encorajando a continuar nesta senda de fé sem sermos embaraçados pelo pecado e pelos apelos deste mundo. “Deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando” — agora não mais para essa grande nuvem de testemunhas, mas — “para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até o sangue”.
Quando esta carta foi escrita, muitos dos primeiros que a leram iriam literalmente resistir até o sangue, pois era ainda um tempo de martírio, quando “o diabo, nosso adversário, andava em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”, e eram exortados a “resistir firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os irmãos no mundo” e que “o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de havermos padecido um pouco, ele mesmo nos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.” (1 Pe 5:8-10).
Se naqueles primeiros dias da Igreja na terra o diabo agia violentamente como leão, hoje ele trabalha de forma mais sutil, inclusive pelo espiritualismo e por meio das religiões. Ele faz isso por meio de “falsos apóstolos [que] são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça.” (2 Co 11:13-15).
Em qualquer época ou circunstância somos exortados a continuar “olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado. E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.” (Hb 12:2-8).
Deus não corrige bastardos, aqueles que nunca tiveram o privilégio de serem feitos filhos de Deus pela fé em Jesus, que andam em sua própria vontade totalmente alheio a Deus. Talvez isto ajude a entender a razão de encontramos crentes em Cristo que passam por grandes provações e privações, enquanto incrédulos vivem felizes e regaladamente neste mundo como se aqui fossem viver para sempre. A carta evoca o exemplo de nossos vínculos naturais com nossos pais para explicar isso.
“Tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela.” (Hb 12:9-11).
Deus pode fazer isso diretamente, ou seja, aplicando em nós correções, que às vezes vêm por enfermidade que ele permite em nossa vida. Deus não é o criador do mal e nem das trevas, no sentido de sua essência e origem, mas pode criar um mal e fazer um tempo de trevas para nos afligir. Em Isaías 45:7 ele diz: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.”. Além disso ele pode também permitir perseguições, como as que os apóstolos sofriam e como as que estava permitindo os cristãos de Tessalônica sofrerem. Ao escrever para eles Paulo diz: “Para que ninguém se comova por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos ordenados, pois, estando ainda convosco, vos predizíamos que havíamos de ser afligidos, como sucedeu, e vós o sabeis.” (1 Ts 3:3-4).
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)