https://youtu.be/ZckgjAjYnUE
Você me enviou uma longa mensagem juntamente com um vídeo dizendo ser "a verdadeira marca da besta". Nem precisei assistir o vídeo porque você me fez o favor de explicar seu conteúdo para eu não perder o meu tempo e, segundo você, ele trata de uma "falsa vacina" que pretende implantar "quantum dots nano chips na pele", seja lá o que for isso, e também um "vírus transgênico" que iria colocar a marca da besta no DNA de todas as células.
Ainda, segundo você explica, isso faria com que mesmo que a pessoa removesse um pedaço da mão ou da testa, a marca continuaria no DNA e seus filhos já nasceriam com a marca da besta. E tem mais! Segundo você, a Internet 5G não seria para baixar vídeos mais rapidamente, mas para monitorar os marcados com os "quantum dots" em tempo real. Então o coronavírus seria apenas uma desculpa para fazer a vacinação, e acrescenta que a imagem da besta seria um robô chamado "Geminoid" com um "computador quântico e inteligência artificial".
Existe um programinha na Web chamado "Gerador de Lero-Lero", no qual você introduz algumas palavras relacionadas a um determinado assunto e ele gera um discurso que é só lero-lero, ou seja, que não diz coisa alguma mas impressiona pela quantidade de palavras difíceis. O cientista de materiais Alex Smolyanitsky, do NIST, National Institute of Standards and Technology, quis expor as revistas que publicam artigos científicos. Com a ajuda de um Gerador de Lero-Lero do MIT chamado SCIgen, enviou para o "Aperito Journal of Nanoscience Technology" um artigo científico de autoria de Margaret Simpson, Kim Jong Fun e Edna Krabappel (esta última é professora de Bart Simpson). O artigo acabou sendo publicado e, depois de exposta a fraude, cerca de 120 artigos de conceituadas revistas científicas foram excluídos ao descobrirem que tinham sido gerados de maneira semelhante.
Então só posso concluir que quem "gerou" esse bla-bla-bla pseudo científico foi algum "Gerador de Lero-Lero" e você acreditou. Será que não percebeu que ele usa todos os termos científicos do momento para concluir como sendo "a verdadeira marca da besta"? Essa coisa costurando diferentes tecnologias não passa de uma "rebimboca da parafuseta", a peça fictícia e inexistente que um mecânico sem escrúpulos pode mencionar só para impressionar o cliente: "O problema está na rebimboca da parafuseta, que precisa ser trocada e não é barata".
Tente imaginar como seria essa explicação na virada do século dezenove para o vinte. Muito provavelmente incluiria as tecnologias de ponta da época, como o telefone, o fonógrafo, a lâmpada, o cinema, a fotografia, a penicilina, o avião, o rádio... Agora tente imaginar quais seriam os termos tecnológicos que seriam incluídos se esse vídeo fosse feito daqui a vinte anos. Isso mesmo, não dá para imaginar, porque mais coisas serão descobertas em vinte anos do que foram em cem anos.
Mas tudo bem, sua mensagem é mais uma para minha pasta de teorias conspiratórias. A mais antiga é da época quando me converti e os produtos começavam a ganhar o código de barras. Alguns cristãos se recusavam a comprar aqueles que tivessem o código na embalagem porque, segundo eles, era a marca da besta. Já devem ter morrido de fome desde então. De lá para cá a suposta marca da besta evoluiu bastante acompanhando as novas tecnologias e imagine o que irão inventar daqui a dez anos para dizer que é a marca da besta? Um holograma? Uma orelha pontuda com a do Mr. Spock? Um "replicante" do filme "Blade Runner" de 1982?
Acaso você não percebeu que essas teorias conspiratórias andam a par e passo com as novas tecnologias? Hoje é 5G, mas amanhã pode ser 6G, 7G... E pegando carona no coronavírus fica fácil dar um ar de veracidade em tudo isso, mas amanhã pode ser uma pandemia de cólera, bicho do pé, caspa... Tudo é possível...
Quem escreve enredos de ficção sabe que não pode simplesmente transformar tudo em fantasia, mas deve acrescentar elementos da experiência do espectador para que o conjunto todo pareça real. É por isso que as naves de Guerra nas Estrelas roncam quando viajam e fazem vibrar os alto-falantes quando explodem, coisas que não acontecem no vácuo. As palavras-chave vacina, chips, DNA, transgênicos, computador quântico foram polvilhadas e misturadas na proposição absurda do script por serem bem reais para quem lê jornais e revistas. Então, já familiarizados que estão as pessoas com algumas palavras-chave, o conjunto da obra parece factível.
A obsessão por teorias conspiratórias já é disciplina da psiquiatria. Chama-se "Transtorno de Personalidade Esquizotípica", por isso peço que você procure consultar um psiquiatra antes de voltar a me enviar textos e vídeos de conspiração. Prefiro avisar agora para evitar que no ano que vem você me envie outro, depois mais outro, sempre atualizando algumas palavras mas com a única função de aterrorizar. Isso é típico dos terroristas psicológicos do YouTube.
Se Deus não revelou o que é a marca da besta podemos ter a certeza de que não é para nós descobrirmos agora, mas os que estiverem no mundo durante a grande tribulação (quando a Igreja não estará) saberão interpretar o que é. E nessa época ainda futura o remanescente de judeus fieis que irá se converter ao seu Messias e aguardar o estabelecimento do Reino de Cristo na terra em meio à grande tribulação não se deixará marcar. Eles terão discernimento de que a marca estará ligada à submissão total à besta e ao anticristo. Então se você me enviou o vídeo de boa fé querendo me alertar, pode virar para o outro lado e dormir tranquilo porque este não é um enigma para os cristãos de hoje decifrarem.
Se alguém estranhou o título que dei a este artigo, a ideia foi usar de ridicularização como forma de acordar os que estão sendo enganados para a absurdidade que é tentar aplicar tecnologias de hoje em uma profecia de amanhã. Isso só irá produzir uma "rebimboca da parafuseta" que não tem qualquer realidade. É a mesma técnica de comunicação utilizada por Elias quando zombou dos profetas de Baal que fizeram de tudo para seu falso deus fazer descer fogo do céu.
"E disse Elias aos profetas de Baal: Escolhei para vós um dos bezerros, e preparai-o primeiro, porque sois muitos, e invocai o nome do vosso deus, e não lhe ponhais fogo. E tomaram o bezerro que lhes dera, e o prepararam; e invocaram o nome de Baal, desde a manhã até ao meio dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém nem havia voz, nem quem respondesse; e saltavam sobre o altar que tinham feito. E sucedeu que ao meio dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará. E eles clamavam em altas vozes, e se retalhavam com facas e com lancetas, conforme ao seu costume, até derramarem sangue sobre si. E sucedeu que, passado o meio dia, profetizaram eles, até a hora de se oferecer o sacrifício da tarde; porém não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma." (1 Rs 18:25-29).
Em 1 Coríntios 11:19 o apóstolo Paulo usa de sarcasmo para mostrar o absurdo do que os cristãos em Corinto estavam fazendo. Eles se consideravam muito sábios para serem engodados por tolices, mas isso era exatamente o que estava acontecendo com eles, como ele segue explicando.
"Porque, sendo vós sensatos [ao menos os Coríntios achavam isso de si mesmos], de boa mente tolerais os insensatos. Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto." (2 Co 11:19-20).
Vemos que deus pode usar de sarcasmo para abrir os olhos de incrédulos, como fez Elias com os profetas de Baal, ou aumentar assim sua culpa. Quando inimigos do evangelho tapam os olhos para a verdade que está bem ali diante deles, ou mesmo quando cristãos professos insistem em acreditar numa mentira, o sarcasmo pode ser a ferramenta de comunicação usada para alertá-los.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)