Você pergunta se quando o Senhor se dirigiu ao Pai falando a respeito de Judas e chamando-o de de "filho da perdição" isso foi porque Judas já teria sido designado para ser assim ou seria algo em que ele só se tornou depois. A passagem é esta: "Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse." (Jo 17:12)
Em certo sentido todos os seres humanos vêm ao mundo perdidos, portanto numa condição semelhante à de Judas. Isaías 57:3-5 diz: "Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira, descendência adulterina, e de prostituição. De quem fazeis o vosso passatempo? Contra quem escancarais a boca, e deitais para fora a língua? Porventura não sois filhos da transgressão, descendência da falsidade, que vos inflamais com os deuses debaixo de toda a árvore verde, e sacrificais os filhos nos ribeiros, nas fendas dos penhascos?".
No contexto o Senhor estava rogando ao Pai que guardasse os seus, e como sendo "seus" entendemos que eram aqueles que o Pai havia dado ao Filho para serem salvos. Judas não tinha sido dado, portanto estava perdido e continuaria assim. Seu amor pelo dinheiro o levaria a ser uma presa fácil de Satanás. Judas já começou a trair o Senhor depois de o diabo usar da avareza existente em seu coração para inflamar sua concupiscência, e finalmente partiu para a ação quando Satanás entrou nele.
"Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte... E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse." (Tg 1:13-15; Jo 13:2).
Judas também representa o anticristo, igualmente chamado de "filho da perdição": "Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." (2 Ts 2:3-4)
Lição solene temos aqui, a de que o diabo pode usar qualquer incrédulo e fazer isso com o combustível das concupiscências que já existem em seu coração. Resumindo, não entendo que Judas tenha sido eleito para perdição, porque Deus apenas elege os que são para salvação como ensina a passagem do Oleiro em Romanos 9.
"Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; ["preparados" sujeito indeterminado, mas sabemos que foi o pecado que preparou os vasos para perdição] para que [o Oleiro] também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes [Ele, o Oleiro] preparou, os quais somos nós, a quem também [Ele, o Oleiro] chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?" (Rm 9:21-24).
Mas Jesus sabia que seria traído por Judas, que ele próprio havia escolhido como seu discípulo, e a profecia dizia que Jesus seria traído por um de seus amigos, e assim a profecia se cumpriu em Judas.
"Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar... Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar." (Sl 41:9; Jo 13:18).
Um caso parecido é o de Faraó, que também pode deixar dúvidas, pois em Romanos vemos que ele foi levantado por Deus para ser quem era. "Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz." (Rm 9:17-18). William Macdonald comenta:
"Não há nenhuma sugestão aqui de que o monarca egípcio estava condenado desde o momento de seu nascimento. O que aconteceu foi isso. Na vida adulta, ele provou ser perverso, cruel e extremamente teimoso. Apesar das advertências mais solenes, ele continuou endurecendo o coração. Deus poderia tê-lo destruído instantaneamente, mas não o fez. Em vez disso, Deus o preservou vivo para que pudesse mostrar Seu poder nele e para que, por meio dele, o nome de Deus fosse conhecido mundialmente. Faraó endureceu repetidamente seu próprio coração, e depois de cada uma dessas vezes, Deus adicionalmente endureceu o coração de Faraó como um julgamento sobre ele. O mesmo sol que derrete o gelo endurece a argila. O mesmo sol que branqueia o pano bronzeia a pele. O mesmo Deus que mostra misericórdia para com o coração quebrantado também endurece o impenitente. Graça rejeitada é graça negada.".
É preciso entender que a profecia não é o vetor que leva algo a acontecer, mas algo acontece porque estava na profecia. O meteorologista prevê que irá chover, mas não é sua previsão que produz chuva, esta cai como confirmação de que aquela previsão era verdadeira. O crente em Cristo pode nem sempre ter todas as respostas, mas sabe que Deus é verdadeiro e justo em seus desígnios, e assim se ocupará menos com os desígnios de Deus, nem sempre compreensíveis, e mais com o Deus dos desígnios.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)