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Será que o Elon Musk é o anticristo? Mario Persona



Será que Elon Musk é o anticristo? Seria ele adepto das ideias do Adolfo? Essa dúvida se espalhou pelas redes sociais depois de isolarem um frame de Elon Musk num discurso que fez na posse do presidente Trump esticando o braço como faziam os oficiais que lambiam as botas do Adolfo. Logo um enxame de esquerdistas e até jornalistas saíram brandindo suas maças (não confunda com maçãs), que eram as armas medievais, bastões que não serviam só para jogar beisebol, mas principalmente para abrir o crânio dos adversários.

Na verdade quem precisa ter seus crânios abertos seriam esses que enxergam pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo. Alguém com mais de dois neurônios, que viu o discurso inteiro, percebeu que, no momento em que ele falou que estava lançando seu coração para a plateia, fez o gesto, primeiro para a plateia da frente e depois para a platéia de trás do palco. Foi por julgamentos sumários assim, baseados em suposições, que muita gente acabou queimada na fogueira da Inquisição.

Mas é claro que no caso do Elon pesa muito a inveja de muitos que não acreditavam que foguete poderia dar marcha à ré ou que um carro poderia viajar sem motorista. Hoje os fissurados em gestos e símbolos sempre vão encontrar uma explicação suspeita para alguém que estende o braço para o motorista de ônibus ou alisa a gola do paletó com o indicador e o polegar. Adolescentes foram mortos no Brasil quando traficantes encontraram em seus celulares fotos em que apareciam fazendo um gesto com as mãos que foram interpretados como se eles fossem de uma facção rival. Mais um caso de carência de neurônios da parte dos algozes.

Para os que já consideravam Elon Musk como o anticristo encarnado, algo assim só põe mais lenha na fogueira dos inquisidores das redes sociais. Mas esse comportamento de suspeição de tudo e de todos, que tem mais a ver com o crânio dos que seguram a clava do que dos que têm seus crânios esmagados por ela, não é novo. Quem já foi católico e estudou o Tribunal do Santo Ofício sabe muito bem que a prática é antiga. Recentemente um componente do novo governo de Trump precisou explicar num vídeo que a iniciativa de prender imigrantes ilegais não era o mesmo que colocá-los em masmorras fedidas ao estilo da inquisição católica, mas em prisões modernas, bem projetadas para uma detenção humanitária.

É o caso de uma das histórias marcantes que ilustram a perseguição religiosa e cultural promovida pela Inquisição no Brasil colonial. O período foi marcado pela atuação do Tribunal do Santo Ofício, que investigava e punia práticas consideradas heréticas, muitas vezes direcionadas contra os chamados cristãos-novos — judeus convertidos ao cristianismo (ou seus descendentes), que eram frequentemente acusados de manter práticas judaicas em segredo. Será que os católicos nunca perceberam que aquela homem que aparece numa cruz em seus templos era um judeu?

Em 1705 nascia no Rio de Janeiro Antônio José da Silva, conhecido como cristão-novo. Cristãos novos eram chamados assim os judeus que haviam sido convertidos à força ao catolicismo e batizados como cristãos, enquanto seus bens eram surrupiados pela volúpia papal do Vaticano. Você queria saber de onde vinha tanta riqueza amontoada no Vaticano? Agora sabe. Prender e condenar judeus era um negócio muito lucrativo. Embora tenha vivido no Brasil colonial e estudado em Portugal, Antonio José da Silva foi acusado de praticar o judaísmo em segredo. Uma das acusações levantadas contra ele foi o hábito de lavar os pés diariamente, o que os inquisidores de pés encardidos interpretaram como uma prática associada ao ritual judaico de purificação. Num país onde ruas e calçadas eram de terra, se você lavasse os pés todos os dias seria chamado de herege, se não lavasse seria chamado de porco.

Em 1713, sua família foi denunciada ao Tribunal do Santo Ofício por práticas judaizantes, e ele acabou sendo levado para Portugal com outros suspeitos. Antônio José da Silva foi preso, submetido a interrogatórios e torturas, e forçado a confessar crimes que talvez jamais tenha cometido. Apesar das acusações e de sua origem de ser um cristão-novo, ele conseguiu libertar-se da primeira prisão. Mais tarde, em 1737, foi preso novamente e, dessa vez, condenado à morte. Em 1739, foi queimado vivo em um auto de fé em Lisboa, como muitos outros acusados de heresia.

No período colonial, práticas cotidianas, como hábitos de higiene, alimentação ou celebrações, podiam ser interpretadas como sinais de heresia, como hoje um sinal com braço esticado ou gestos das mãos são interpretados como filiação partidária ou de facção pelos sem noção. Cristãos-novos eram alvos frequentes, já que a Inquisição associava suas ações a possíveis resquícios de judaísmo. O Tribunal do Santo Ofício operava como um mecanismo de repressão, utilizando denúncias, torturas e execuções para garantir a "pureza" da fé católica.

Além disso, muitos acusados eram vítimas de perseguições motivadas por interesses econômicos, políticos ou pessoais, já que a denúncia poderia levar à confiscação de bens e ao enfraquecimento político de famílias influentes. Geralmente alguém chegava à fogueira por denúncia de algum desafeto ou interessado em ganhar um quinhão de seus bens, que eram divididos entre a Igreja Católica e o Rei do país.

No caso de Elon Musk, logo apareceram nas mídias sociais vídeos denunciando diversos esquerdistas fazendo o mesmo gesto de braço esticado, de estudantes no ponto de ônibus e até de um "Caramelo", o proverbial cão de estimação do pessoal da direita, esticando a pata numa saudação típica da Alemanha de outrora.

por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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